quarta-feira, 30 de junho de 2010

BROOKLYN PAULISTA BY GORNI

Foto: Antonio A. Gorni, junho de 2010

Meu amigo Antonio envia uma mensagem esta noite relembrando seus tempos de Brooklyn, São Paulo, nos anos 1970. Achei muito interessante; como sempre, ele escreve muito bem. Transcrevi-o. O texto todo abaixo foi escrito por ele:

Minha esposa encasquetou de comprar umas plantas numa loja que ela localizou em SP através da internet. O endereço era no Brooklyn. Coloquei-o no GPS e, ao chegar ao local... cadê? Não havia loja ou prédio nenhum lá, era só um muro cruzado pela linha de alta tensão que acompanha a avenida dos Bandeirantes. Mas havia uma abertura no muro e, lá dentro, um jardim e as cabanas do comerciante de plantas. Um jardim elétrico em plena SP...

Eu até já tinha visto esse jardim ao longo da linha de transmissão, mas nunca o havia visitado. Ao atravessar o quarteirão ao longo da linha, pude lembrar um pouco do velho ambiente do Brooklyn dos anos 1970 - que já não era nenhum arrabalde, mas ainda havia poucos carros na rua e muito terreno baldio, especialmente mais próximo da região da marginal. O quarteirão que não visitei não tinha prédios, ainda há quintais com churrasqueiras, puxadinhos, canteiros de flores e, para que não nos esqueçamos de nosso real habitat, mortais cercas elétricas para fritar eventuais intrusos.

De todo modo, fiquei contente em reencontrar um pouquinho do ambiente que via nas minhas excursões ciclísticas pelo bairro, quando buscava explorar um pouco da antiga hidrografia local. Aliás, outro dia, na TV Cultura, vi uma série sobre exploradores urbanos - que, a pé ou, quando muito de ônibus, exploram a geografia urbana de SP. Bom, se eu já achava o ambiente meio agreste há quarenta anos atrás, que dizer nos dias de hoje... Às vezes passo pelo Brooklyn em dias de semana, indo ou voltando de alguma visita técnica, e é decididamente claustrofóbico ver as grosas de carros que entopem as ruas.

Concrete dream flesh broken shell
Lost soul lost trace lost in hell!

King Crimson: Pictures of a City

terça-feira, 29 de junho de 2010

LOBOS ESFAIMADOS


É incrível. Faz pelo menos quarenta anos que eu presto atenção, em algumas épocas com maior intensidade, em outras com menor, às notícias econômicas do Brasil. Desde a época do Delfim Netto, para ser mais exato. Hoje (ou terá sido ontem?) a pérola foi do ministro Mantega, que diz que crescimento maior que 5,5 por cento ao ano é prejudicial ao País.

Não sou economista, longe disso. Portanto, realmente, não posso analisar os cálculos que o Ministério da Fazenda, as empresas, os bancos, o Banco Central e outros fazem. Mas — pô! — está na cara que tudo que parece bom causa inflação ou prejuízos ao país. Como aquele ditado que diz que "tudo que é bom faz mal à saúde ou engorda".

Durante todos esses quarenta anos, descobri pelas declarações de nossos ministros, Presidentes e políticos em geral que tudo causa inflação: crescimento, depressão, correção monetária, aumentar salário, crescer pouco, crescer muito, muita produção, pouca produção, aumentar tarifas, abaixar tarifas, aumentar juros, abaixar juros etc. etc. etc.

Será que esses caras realmente entendem do riscado? Ou entendem tanto quanto eu, um químico, pequeno empresário, pesquisador histórico e, às vezes, escritor? São todos banqueiros ou relacionados com bancos. Durante todos esses anos, os bancos brasileiros fizeram lucros altíssimos — para não dizer vergonhosos. A inflação comendo solta, a índices estratosféricos, ou a 4 por cento ao ano, e os bancos com lucros escandalosos. Claro, sempre dando aumentos de salários baixíssimos em relação à inflação e demitindo funcionários a torto e a direito, especialmente quando se deram as diversas fusões entre eles que já acompanhamos há anos.

Será que os ministros e políticos trabalham para os bancos e não para o povo? Será que os bancos dão aumentos baixíssimos para seus funcionários porque estariam preocupados com o aumento da inflação? A primeira parece provável. A segunda, bastante improvável. Mas os políticos negarão a primeira pergunta e os banqueiros responderão afirmativamente à segunda.

Minha experiência de vida mostra que ambos mentem. Agora, não podemos crescer como a China porque a infraestrutura não dará conta. Pode até ser — mas, então, vamos crescer quando? Quando será que os juros vão baixar, se há 40 anos eles não baixam a níveis internacionais? Sempre a resposta é "na hora que for aconselhável fazer isso". Quando será aconselhável? Daqui a cem anos? Será que o país existirá daqui a cem anos? Por que somente o Brasil tem juros vergonhosos, tanto quanto os lucros bancários? Será somente coincidência?

Para quem perguntar e pensar isso lendo o que escrevi, digo: não, não sou comunista nem sou fã de partidos de esquerda. Aliás, não sou fã de partido algum — mesmo porque partidos, pelo menos pela definição da palavra nos dicionários, não existem no Brasil.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

PEDAÇOS DE FELICIDADE

Foi gol da Inglaterra, sim... mas há coisas mais importantes na história do jogo Alemanha x Inglaterra. Foto UOL

Ontem, pela Copa do Mundo, a seleção de futebo alemã derrotou a seleção inglesa por 4 a 1 na África do Sul. Houve reclamações de monte por causa de um gol inglês que não foi confirmado pelo juiz, que não viu que a bola realmente entrou na meta alemã.

Há 44 anos atrás, outro jogo, que eu ouvi por rádio - na época não havia transmissão direta por televisão para o Brasil - entre os mesmos adversários resultou em 4 x2 para os ingleses, nesse caso decidindo a Copa de 1966, disputada na Inglaterra, para a seleção inglesa. Também houve um gol discutido, no caso, validado pelo árbitro, para a Inglaterra: só que ali, a bola não entrou no gol.

Ontem vários alemães declararam em entrevista que foi o troco.

Houve também outro jogo entre os dois países, na Copa do Mundo de 1970, vencido pela Alemanha. que eliminou então os ingleses nas quartas de final da Copa distutada no México. Que eu me recorde, não houve outra partida entre as duas seleções em Copas do Mundo, mas houve outros em diferentes campeonatos.

Porém, o jogo mais importante - mas conhecido por pouca gente - foi o que se disputou nos campos europeus - na Bélgica ou na França - no Natal de 1914, em plena guerra. Sabe-se deste jogo por causa de uma carta escrita por um oficial inglês e publicada no jornal The Times do dia a de janeiro de 1915.

A carta dizia: "Foi um estranho Natal! Tudo calmo, a não ser uns tiros de emboscada do lado direito, mas nada no fronte. Nas trincheiras, aconteceram as cenas mais extraordinárias. Em frente à nossa barricada, nossos homens saíram e se misturaram com os alemães, conversando, trocando cigarros, etc. Alguns dos nossos foram mesmo até as trincheiras do inimigo e lá ficaram algum tempo, entretidos! Começaram a cantar, cada lado uma canção, até que todos terminaram com o God Save the King, que os saxões cantaram com bastente sentimento. Um de meus homens recebeu uma garrafa de vinho e o regimento chegou a jogar uma partida de futebol com os saxões, que saíram vitoriosos de 3 a 2!".

Realmente, a saudade de casa e da paz fazem coisas inacreditáveis. A guerra durou quase 4 anos mais e teve milhões de mortos, numa violência inacreditável, porém, nesse dia de Natal de 1914, um pequeno pedaço de felicidade inundou a imbecilidade humana dentro de sua maior estupidez. Esse foi o jogo de futebol mais importante do mundo até hoje, sem dúvida.

domingo, 27 de junho de 2010

A DETERIORAÇÃO DE SÃO PAULO

Casa na rua João Moura, não muito longe das casas que já estão sendo demolidas para o prédio citado abaixo, em foto do ano passado, tirada por mim. Na mesma quadra.

A deterioração da cidade de São Paulo - e das grandes cidades em geral - segue a passos largos, sem dar sinal de esmorecimento.

Uma reportagem publicada hoje no jornal O Estado de S. Paulo, no caderno Metrópole, dá conta de que em uma quadra do bairro antigamente chamado de Cerqueira César - hoje, Pinheiros, mesmo - mais especificamente, a quadra formada pelas ruas João Moura, Galeno de Almeida, Cristiano Viana e Cardeal Arcoverde, teve alguns de seus imóveis vendidos para a contrução de um prédio de apartamentos (aparentemente, tipo loft, de oito andares - até que não tão alto assim), onde, entendo, terá frente para a rua João Moura e fundos para a rua Cristiano Viana.

Essa quadra ainda é "virgem", ou seja, não tem qualquer edifício construído com mais de dois andares, pelo que me recordo.

O texto tenta explicar como são feitas essas vendas - interesses mais das imobiliárias e das construtoras e incorporadoras do que mesmo dos donos dos imóveis, pelo que se entende. Claro que os donos concordam com a venda, não estão aqui dizendo que houve pressões insuportáveis para a venda - mas são em geral imóveis antigos, geralmente algo deteriorados (não conheço a situação de cada um deles, mas conheço aquela quadra).

O fato é que esta verticalização sem fim tende a deteriorar a cidade, por causa da quantidade de pessoas a mais vivendo por metro quadrado de área projetada, a necessidade de aumento de suprimento de água, energia elétrica, gás, segurança pública e de regulamentação de trânsito local, necessidade esta que nem sempre - ou melhor, quase nunca - é calculada a cada construção de um prédio que arbigará muito mais famílias do que as que atualmente lá vivem.

Também é interessante lembrar que essa quadra é cortada pela galeria do antigo córrego - ou rio - Verde, do qual tanto comentei neste blog em outras postagens. Seria por isso que prédios não foram construídas nela até hoje?

E todos são afetados com isto - tanto os vizinhos, quanto os habitantes da cidade como um todo, mesmo que morem longe do local. Acho que não preciso explicar o por quê desta afirmação. Os políticos se omitem, as construtoras é quem mandam, etc. etc. etc.. Sem pressão, haveria realmente a venda de tantos desses imóveis? Não - geralmente as pessoas procuram vender um imóvel quando precisam do dinheiro ou quando precisam se mudar dali para outro local.

Enfim, enquanto isso, a cidade vai perdendo sua história. Por coincidência, acabei hoje uma página na Internet - uma página, não um site - que mostra em breves pinceladas alguns dos detalhes históricos que ainda conseguem sobreviver na cidade de São Paulo. Para quem está interessado, basta ler (sim, ele está, pelo menos por enauqnto, inserido no site das estações ferroviárias, de minha autoria).

sexta-feira, 25 de junho de 2010

TEMPOS SEM COMPUTADOR


Bons tempos em que não havia computador, nem fotoshop.

As coisas davam mais trabalho, mas eram mais bonitas, mais singelas.

Acima, a capa do programa que meu avô Sud recebeu no Colégio Estadual e Escola Normal de Mogi das Cruzes, em 1945, quando ele ocupava o cargo de Diretor-Geral do Ensino no Estado de São Paulo.

Era uma folha de cartolina dobrada em duas, fazendo uma pasta, que tinha, amarrada com uma fita verde-amarela, uma folha de papel interna, também dobrada em duas, dando o programa da "Sessão Solene de Inauguração da Escola Normal Estadual".

No programa, o diretor da escola fazia a abertura. O Orfeão Normalista de Rio Claro cantava o Hino Patriótico. Havia discursos feitos pelo Secretário da Educação e por uma normalista de Mogi das Cruzes. Havia também a inauguração de um retrato de meu avô. Mais discursos e mais cantos. Antes do encerramento, eram declamados versos.

Podia ser uma chatice, realmente, mas, naquele tempo isso ajudava a passar o tempo.

Quem terá feito o desenho do convite?

quinta-feira, 24 de junho de 2010

ESCOLHENDO A PIOR OPÇÃO

Até 1996, estas casas ficavam na antiga rua Miguel Isasa, estreita e que começava no largo da Batata, em Pinheiros. Desde lá são parte da avenida Faria Lima e se deterioram cada dia mais. Apenas aguardam o seu fim por uma opção que somente vai piorar as coisas: os edifícios "chiques" de escritórios (Foto Ralph M. Giesbrecht, 24/6/2010).

Hoje estive no largo da Batata. Como eu já falei antes aqui, o Largo da Batata, em Pinheiros, cidade de São Paulo, é um local meio indefinido, com um nome que jamais foi oficial - portanto, não procurem por uma placa com esse nome.

Ele se parecia mais com um pequeno largo antes de a avenida Faria Lima passar por ali, pegando o leito da rua Miguel Isasa e alargando-a até desaparecer todo o seu lado par. Hoje, o seu antigo lado ímpar foi renumerado (no lado par) para o leito da avenida.

Com isso, virou um canteiro de obras nos últimos anos, com as obas do metrô, da linha 4. A estação Faria Lima, já aberta e funcionando, era para ter o nome do antigo largo - mas nem na estação seu nome acabou sendo colocado. Logo ele será apenas uma lembrança longínqua na mente de poucos paulistanos, até desaparecer de vez.

O mesmo vai certamente ocorrer com as casas desse lado da Miguel Isasa - totalmente deterioradas, eram pequenas residências geminadas ou semi-geminadas que gradativamente foram se transformando em pequenas lojas, galpóes e oficinas. A sujeira do local é terrível. E não estou falando somente do pó das obras e do seu entulho. Falo de lixo jogado pelas pessoas que não se incomodam, mesmo, com a aparência das calçadas e das próprias casinhas.

A tendência, do lado da estação, é que elas sejam demolidas em pouco tempo. Não se sabe o que é pior: as casas e a sujeira de hoje ou os edifícios de escritórios que deverão surgir ali, tornando tudo totalmente impessoal e acabando com o trânsito de uma vez por ali.

No duro, mesmo, a solução dos utópicos sonhadores como eu e algumas pessoas que conheço seria a restauração das casinhas, a construção de jardins e a manutenção de uma limpeza impecável. Infelizmente, porém, a especulação imobiliária e a apatia do povo não vai permitir isso. Vão ficar as fotos que ingênuos como eu tiram de vez em quando, como a que está ali em cima desta postagem.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

BOBAGENS DEMAIS

Futebol, jogo de pobre?

Hoje fui com minha esposa, Ana Maria, para São Paulo de carro. Marginal Pinheiros congestionada, como sempre, e engata o assunto: Ana perguntou quem foi Alexandre Mackenzie, nome de uma avenida que desemboca na Marginal ali no Jaguaré. Respondi: foi diretor da Light no início do século 20. Aí engatei: só não sei quem foi o Kenzie, pois "Mackenzie" é "filho de Kenzie. E tem também o MacChicken, filho da galinha". Ana falou do MacDonald, filho do Pato. Respondi que o Pato Donald não tem filhos, tem sobrinhos. É mais conveniente ele ter sobrinhos, pois assim pode ter uma namorada, a Margarida. "História mal contada".

Ana respondeu que ele podia ser viúvo, mas eu retruquei que não, isso daria margem a suspeitas, ele poderia ser acusado de ter matado a esposa. Ana começou a dizer que era muita bobagem. O trânsito, porém, parou de novo, e eu lhe disse que li que a indústria automobilística está estudando um sensor para que os carros partam todos ao mesmo tempo quando os carros começam a andar num semáforo. Isso economiza tempo. Ana falou que isso não daria certo, pois basta um sensor falhar que imediatamente causaria um acidente enorme, com os carros entrando uns atrás dos outros. E que uma Brasilinha velha não poderia ter sensor, como faria?

Eu disse que poderia ser um aparelhinho que se poria em qualquer carro, mas ela disse que e se o cara vem do interior e não puser, nem souber que isso existe? Não ia dar certo. Demos muitas risadas e o tempo foi passando. Bobagens se falam para distrair.

Melhor do que falar bobagens pensando estar sério, como, por exemplo, o prefeito de Ribeirão Pires, que, querendo derrubar a estação ferroviária para fazer um terminal de ônibus, disse, fulo da vida, ao CONDEPHAAT: "Se Santo André e Mauá tinham estações iguais e derrubaram, por que eu não posso derrubar a minha, que é igual à deles?"

É muito para minha cabeça. A estação foi tombada anteontem e ele não vai poder derrubá-la, graças a Deus às vezes a história vence a ignorância. Mais besteira estão falando os americanos republicanos, políticos e não-políticos, que dizem que os Estados Unidos não podem gostar de futebol, é um jogo besta, jogo de pobres, coisa de democratas socialistas. Incrível. No país da ampla liberdade, segundo eles, você não pode gostar de futebol - não pode!

E os Estados Unidos, hoje à tarde, classificaram-se para as oitavas-de-final da Copa do Mundo. E agora? A republiqueta de bananas deles vai sabotá-los? Se não são, estão parecendo ser.

Meu Deus, como se fala besteira, e nem se precisa de um congestionamento na Marginal para isso. Há exemplos demais, não dá para escrever em uma postagem, teriam de ser pelo ano inteiro. Para finalizar, lembram-se dos prefeitos de Sorocaba e de São Roque, que, há menos de um mês, cismaram que não querem ter trens de passageiros de volta, pois a cidade deles iria se transformar em cidades-dormitório? Pois é, eles já podem concorrer depois a um cargo em Ribeirão Pires ou até nos Estados Unidos. Desde que não gostem de futebol.

terça-feira, 22 de junho de 2010

E A ÁGUA LEVOU...

Na foto da Gazeta de Alagoas de hoje, um trecho da ferrovia em Rio Largo, trecho de utilização do trem metropolitano de Maceió, da CBTU

Fotografias da região do rio Pomba, na Leopoldina, em 1957; de Tubarão, em 1973; de Santa Catarina - rio do Peixe - em 1983, são como as que vi hoje na Internet na linha do ramal de Colégio e na antiga Maceió-Recife.

Águas que varreram diversas cidades, junto à linha férrea de Alagoas e fora dela, mostram a sujeira, a terra arrancada, trilhos pendurados, ruas que desapareceram. As águas não têm piedade. Aquecimento global? Não sei. Já acontecia em 1957, como a enchente do rio Pomba, da região mineira da Leopoldina. E certamente aconteceu em diversas outras oportunidades em diferentes regiões do Brasil e do mundo.

A cidade de São Paulo e de Niterói sofreram com as chuvas há alguns meses atrás. Idem o litoral de Santa Catarina... tantos lugares. São Luiz do Paraitinga e Angra dos Reis no início deste ano. Caraguatatuba em 1967. Há poucos dias os jornais mostraram cidades da França, lá na Europa, arrastadas pelas águas. Mas sempre foi assim.

Não há governo que possa ser culpado. Claro que há culpas, como não impedir construções em zonas de risco sabidamente conhecidas, ou deixar que se amontoe lixo por todo o lado. Tudo isso piora os efeitos da força das águas.

O triste é ver que, quando a região é pobre, como essa de Alagoas, o povo sofre bem mais. A cidade arruinada, a cidade que já não era essas coisas, agora vai demorar para se ajeitar e voltar a ser aquele local que já não era nenhuma maravilha. Maus governos, de gente acostumada com quinhentos anos de plantação de cana e servidão do povo que lá mora e enriquece uns poucos que ali vivem, dando a eles fortuna e poder político. Poder e dinheiro que não teriam se não fossem as pessoas simples que trabalham para eles a preço de banana.

Agora, é aguardar a próxima. Enquanto diversas cidades ficaram sem a linha - mas na maioria delas, o trem já não passava havia mais de dez anos (embora, pasmem, seja essa linha - o ramal do Colégio - parte da ligação ferroviária Norte-Sul do Brasil), em outras, como Rio Largo, o trem da CBTU alagoana passa e serve a população - vai ficar tempos sem passar, agora.

Esperemos que não seja uma desculpa para se encurtar a já curtíssima linha de subúrbios de Maceió. Lembro-me que há menos de uma semana postei o artigo "e o trem paga o pato", citando o fim de diversos ramais e de trens de passageiros por causa de inundações - sempre uma boa desculpa para a sofrida ferrovia brasileira.

domingo, 20 de junho de 2010

EDIFÍCIO COLUMBUS

Revista VEJA, 30/9/1970 - o Edifício em pé, à esquerda, e, em 1970, já demolido, vê-se a avenida 23 de Maio, não existente na primeira foto, à esquerda.

Eu, realmente, jamais havia ouvido falar dele. Este edifício - o Columbus - foi construído e entregue no ano de 1932, projetado pelo arquiteto Rino Levi, para ser o primeiro edifício de luxo da Capital paulista. E cumpriu com o que havia se proposto.

Tanto cumpriu que, em 1970, foi demolido. Demolir um edifício de luxo, com nove andares, de apenas 38 anos? O motivo parece ter sido claro. Quando ele foi inaugurado, ficava a três quarteirões da Praça da Sé, na avenida Brigadeiro Luiz Antonio, na esquina com o viaduto Dona Paulina, local bem, na época. Em 1970, a avenida 23 de Maio, recém-aberta, já com trânsito pesado, passava nos seus fundos, encostando na sua parte traseira, enquanto o viaduto da Brigadeiro, agora à sua frente, descendo do largo de São Francisco, já apresentava grandes sinais de deterioração.

O curioso foi que a reportagem de sua demolição foi publicada na revista VEJA, edição de 30 de setembro de 1970. Eu tive acesso a essa reportagem há cerca de três semanas apenas, por coincidência. E hoje, domingo, o jornal O Estado de S. Paulo publicou uma nota sobre a existência do prédio (dizendo que a demolição foi em 1971, mas foi, na verdade, um ano antes). A VEJA dizia que ele foi demolido para dar origem a uma garagem. Na verdade, hoje, no local do prédio, existe apenas um local vazio, um barranco entre a Brigadeiro e a 23 de Maio.

Poucos prédios de apartamentos foram demolidos em São Paulo. Lembro-me de alguns: um na avenida Paulista, há uns 4-5 anos atrás e dois na construção da grande Praça da Sé durante o metrô: o Palacete Santa Helena e o Mendes Caldeira. Sim, houve outros... infinitamente poucos, se comparados com o número de habitações monofamiliares que foram postas abaixo nos últimos cem anos, para reconstrução de novas casas, estacionamentos, alargamento de avenidas ou edifícios de escritórios ou residenciais.

O fato é que o Columbus deve mesmo ter sido um excelente local para se morar: afinal, teve apenas trinta e oito anos de existência, foi demolido há quarenta anos e até hoje merece citações a seu nome.

sábado, 19 de junho de 2010

A FERROVIA PAGA O PATO

No prédio da prefeitura de Barra Mansa, a faixa - ridícula - de "expulsão" do trem. Se é bão - e é - porque enxotá-lo? Haja demagogia... ô políticos ignorantes.

Uma das últimas notícias que li sobre retirada de trilhos do centro da cidade foi tema de uma postagem neste blog há cerca de um mês: foi quando Barra Mansa anunciou com festas a retirada dos trilhos do centro da cidade. Na verdade, a reportagem que li não era nada clara, e, agora, sei que o que irão retirar será o pátio de manobras, deixando a linha para os trens continuarem a passar por onde sempre passaram: apenas vão aproveitar a ampla área do pátio para outros usos.

O pátio, segundo levantei, deverá ser transferido para a estação de Anísio Braz (ou Vista Alegre, sim, a estaçãozinha tem dois nomes), na linha antiga da Rede Mineira que liga Angra dos Reis a Goiás e que passa por Barra Mansa, assim como a linha da Central do Brasil. Menos mal - será que agora olharão para a linha como algo que pode ajudar o transporte por VLTs, por exemplo?

A verdade é que é sempre o trem que paga o pato. Quando alguém tem de ceder, á a ferrovia. Só ela atrapalha o trânsito, faz barulho, desvaloriza os imóveis em volta. As avenidas, ônibus e caminhões, estes não (talvez por terem um lobby violento). Há tantps exemplos! Vamos lembrar de alguns:

Os trens de passageiros das linhas férreas do Paraná e de Santa Catarina pararam em 1983, logo após a grande inundação desse ano, que inundou cidades inteiras e, por consequência, pátios ferroviários. A desculpa foi essa. O ramal Tubarão-Lauro Müller, da E. F. Dona Tereza Cristina, em SC, deixou de operar em 1974 por causa também de uma grande inundação nessa região.

Em 1937 (vejam bem! Mil novecentos e trinta e sete, apenas 37 anos depois da instalação do primeiro bonde elétrico na cidade de São Paulo!), o Prefeito Fábio Prado começou a pressionar a Light para que removesse algumas linhas de bonde na Capital porque "estavam atrapalhando o trânsito".

Em 1956, a construção da via Anhanguera entre Cravinhos e Ribeirão Preto fez com que se eliminasse o ramal de Cravinhos (linha Cravinhos-Serrana) da Mogiana, de 60 cm de bitola, por que a rodovia passaria sobre os seus trilhos (entretanto, a linha-tronco da Mogiana, que cortava a Anhanguera em Tibiriçá, poucos quilômetros antes, foi mantida, com a construção de um viaduto sobre ela).

Com a desculpa de economia de combustível (no caso, diesel), diversas linhas de passageiros foram eliminadas em 1976 e 1977 pelo Governo estadual paulista e governo federal (mas não proibiram os automóveis de circular). A mesma coisa ocorreu em 1991, na Guerra do Golfo, quando suspenderam o trem de subúrbio de Curitiba e o trem Santa Cruz, entre São Paulo e Rio, entre outros - poucos, pois nessa época já pouca coisa restava.

Enfim: quem paga o pato é sempre a ferrovia - e, se esses erros não tivessem sido cometidos, hoje em dia não teríamos toda essa grita que existe para a construção de inúmeras novas linhas cargueiras, de metrô, de trens metropolitanos e de VLTs. E olhe, que, mesmo com a grita atual, fala-se muito mais do que se realiza: aqui, repito outra vez, em termos de ferrovias é o país do "vai ser feito", não o do "já fizemos".

Quem perde somos todos nós.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

PÃO E CIRCO


Em fevereiro de 1912 faleceu o Barão do Rio Branco. O homem era bom de diplomacia. Conseguiu inúmeras vitórias em questões de limites para o país.

O que me surpreendeu (em princípio) foi ver a comoção em torno de sua morte. Inúmeras reportagens em jornais e revistas - e até em comentários em cartas trocadas por meu avô na época - falam de um verdadeiro choro do povo por causa disso, muita gente triste.

Terá mesmo sido assim? É verdade que fotos como a que é vista acima, do cortejo fúnebre do Barão, no Rio de Janeiro, mostram um afluxo anormal do povo. Mas terá sido espontâneo? Ou será que o povo foi "chamado" a participar, meio que na marra? Não... acho que não. Considerando-se que, na época, não havia grandes coisas divertidas para fazer, principalmente numa grande cidade como o Rio, ainda bem maior do que São Paulo, esse era o pão-e-circo do dia.

Imagine se hoje algum político que morra atrai tudo isso. Talvez um presidente da República... o atual, com certeza, pois é um grande demagogo. Mas não há dúvida que tem muito carisma. Acho que uma boa parte da população vai até deixar de ver a novela das oito para ver o morto passar...

Bom, fizeram isso com Getúlio - este era outro carismático - e com Tancredo. Já com Mário Covas... Pão-e-circo, hoje, é televisão, "viradas culturais", shows de conjuntos (seja qual for). Comício de político? Nem a pau. Só em cidade pequena e pobre - e olhe lá. Político só atrai grande quantidade de gente hoje se falar muito bem e se tiver música ao redor - os famosos "showmícios".

Realmente, era outro Brasil, esse de 1912. Rio Branco não teve, em toda a sua carreira, nenhum cargo de governo. Era um ministro, basicamente. Portanto, não aparecia para o povo. Porém, naquele tempo, e até a época de Getúlio, políticos eram endeusados, em geral. Inclusive secretários, por exemplo. Basta ler os jornais da época.

Hoje, ninguém quer saber o que o secretário da educação visitou ontem. Nem ponha isso no jornal, pois ninguém está interessado. Já há 70, 80 anos atrás... era o que os jornais mostravam.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

INSISTINDO NUMA TEORIA...

Esperando o trem da Sorocabana em Martinópolis, há muitos anos... acervo José Carlos Daltozo

Recebi hoje de um conhecido, o Jotacê, um jornalzinho deste mês de um deputado estadual de Presidente Prudente, um tal de Bragato. Nunca ouvi falar nele, mas deve ser outro deputado inútil. Demagogo, afirma que está tentando passar um projeto de lei para retomar para São Paulo as ferrovias com concessão nas mãos hoje da ALL. Ele deve saber que não dá, pois isso é de competência da União. Mas ele faz sua propaganda demagoga. Se o governo paulista as quisesse, teria de tirar a ALL da jogada, criar uma nova empresa para aí pedir a concessão à União. Ou comprar os ativos da velha Fepasa e começar tudo de novo. É obviamente inviável.

No mesmo e-mail, Jotacê coloca sua opinião sobra a implantação de um trem de passageiros Assis-Presidente Epitácio. Eu comentei que... as ferrovias paulistas em grande parte estão obsoletas. Esse trecho de Assis a Presidente Epitácio é basicamente o mesmo de 1922. Até Assis, houve retificações e mudanças de linhas até 1966, quando se completou a eletrificação até essa cidade, mas, a partir dali, é trajeto de quase 100 anos, com curvas demais etc.

Já falei sobre este assunto neste blog há algum tempo. O que deveria ter sido feito e não foi porque a FEPASA foi cega - ou não teve interesse, pois era uma empresa já decadente e falida - seria ter transformado a linha após Assis com algumas adaptações, inclusive eletrificação, em trens que andassem no estilo de trens metropolitanos da CPTM de hoje: usá-los não como trens que se esperavam tomassem pessoas em São Paulo e as levassem até Epitácio, porque todo mundo sabe que hoje de ônibus é muito mais rápido em boas estradas (de carro nem se fala), mas sim como trens que carregassem pessoas de uma cidade a outra em trajetos mais curtos com mais horários.

Ainda se pode fazer, se quiserem. Basta pegar uma concessão para trens de passageiros - afinal, a ALL mal usa a linha cargueira de Ourinhos a Prudente e não a usa depois até Epitacio. Por que não se faz? Por que falta vontade política. O lobby dos ônibus é muito forte e o governo é fraco.

A outra opção seria reformular totalmente a linha SP-P. Epitácio e colocar nela um trem muito mais rápido. Reformular a linha, neste caso, seria construir uma linha nova. Que se abandonasse a linha velha. Vão fazer? Não, não vão. O governo não percebe essas coisas.

Com Alkmin, então, um sujeito que não enxerga nada além de seu próprio nariz, nem pensar. Se com Serra já não foi...

quarta-feira, 16 de junho de 2010

PICUINHAS E IMPLICÂNCIAS

Não esperem ver nossa atual seleção jogar como este time: a equipe da A. A. das Palmeiras, em 1915. Nada a ver com a S. E. Palmeiras de hoje, mas, curiosamente, com o São Paulo F. C., do qual foi uma das equipes que se juntaram ao Paulistano para formar o primeiro SPFC, em 1929 - o São Paulo da Floresta.

Este não é um blog sobre futebol. Porém, em tempos de Copa do Mundo, não se fala de outra coisa, pelo menos no Brasil. O país realmente para.

Assisti ao jogo de ontem da seleção contra a Coréia do Norte. Ao contrário dos comentaristas que adoram ver defeito em tudo, não acho que o time brasileiro jogou tão mal assim... jogou até razoavelmente bem. Já teve times melhores, claro, mas ontem foi bastante razoável.

Afinal, de todos as 32 equipes que jogaram a primeira rodada da Copa, somente uma fez mais gols que o Brasil: a Alemanha, que fez 4. Dois outros times fizeram dois, além do Brasil. Os outros 28 países fizeram só um ou nenhum.

Os dois gols brasileiros foram bonitos. A Coréia é um time que joga fechado, porque joga mal, não tem talento. Dificulta o adversário pela ruindade e pelo antifutebol. Como várias equipes desta Copa, cheia de nulidades futebolísticas, como a África do Sul, Honduras, Grécia, Austrália e outros.

A verdade é que a imprensa brasileira "encarnou" em Dunga, treinador que detesta e que já detestava como jogador. Acho que o que matou Dunga desde o início para a imprensa foi o seu apelido, que, realmente, é ridículo. Sempre foi, na imprensa, alvo de chacotas. E ele também pegou raiva dos repórteres. Uma pena.

Não pe um grande técnico, mas está longe de ser ruim - como Parreira é, por exemplo. Também tem o péssimo defeito de somente convocar jogadores que atuam na Europa, deixando a torcida brasileira sem identificação com os jogadores, dos quais mal conhece alguns. Exemplos? Michel Bastos, Felipe Melo e alguns outros. E convocou e manteve no time jogadores sem condição física, como Kaká e Luiz Fabiano, apesar que o primeiro deles não jogou tão mal assim como falaram ontem. O segundo realmente foi mal.

Apesar de tudo isto, o time jogou, como falei, razoavelmente bem para um estréia. Pode até não chegar à final, mas tem chances, com certeza. E pode melhorar. Depende somente deles.

terça-feira, 15 de junho de 2010

SUD, INTERVENTOR DE SÃO PAULO?


Em 1932, quando Getúlio Vargas ainda era o Presidente da Junta Governativa e governava por decretos federais, a troca de interventores nos Estados era uma constante. Em São Paulo, então, "terra non-grata", a troca era mais corriqueira. Havia de ser alguém altamente confiável. Em março desse ano, foi nomeado Pedro de Toledo, velho diplomata, mais por pressão da ala paulista de Miguel Costa do que por desejo de Getúlio. Antes, porém, vinha a escolha.

A charge acima mostra a capa da revista "O Malho", desenhada pelo famoso caricaturista Luiz Sá, também desenhista das histórias em quadrinhos de Reco-Reco, Bolão e Azeitona, na revista infantil "O Tico-Tico". Não sei, realmente, quem são as pessoas retratadas no alvo, com exceção de uma. Esta pessoa é também a razão de esta capa ter sobrevivido nos arquivos de meu avô. Pois era ele mesmo. Ele está retratado no sujeito de óculos do lado esquerdo, ao alto.

Acabei não indo, por falta de tempo, atrás de mais literatura sobre esta época - cito como "esta época" justamente os dias em que Sud foi cotado para ser interventor paulista. Não sei como terá ele reagido a isto, se queria realmente o cargo ou se preferia ficar fora da linha de tiro - mas o fato é que ele era o braço direito do General Miguel Costa, comandante das milícias na época e o "governador militar" de São Paulo. Não faltava, porém, muito tempo para ele se indispor com Getúlio Vargas, o que ocorreria pouco antes da revolução de julho de 1932.

A revista, infelizmente, não tem a data na capa - mas é 1932, pela assinatura de Luiz Sá, em baixo na capa, à direita. E antes da revolução. Eu é que deduzo, talvez erradamente, que tenha sido na época em que finalmente foi escolhido Pedro de Toledo.

Em todos os escritos de Sud, jamais li uma linha dele referindo-se a ele ter sido um dos selecionáveis para o cargo. Porém, não foi somente nesta capa de O Malho que li sobre sua possível nomeação.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

CARTAS DE UMA ÉPOCA


Neste papel dos anos 1930, batido a máquina por meu avô (que, apesar de escrever o dia todo, era um "catador de milho" daqueles, segundo minha mãe...), o endereço, alguns certamente comerciais, outros não, de gente famosa daquela época. Muitos escritores, muitos são hoje nomes de ruas...

O endereço, naquela época, não tinha CEP, nem nada. Bastava escrever o que está na lista e a carta seguia para o destinatário. Em compensação, o correio tinha fama de mau entregador. Mas a maioria chegava.

Na lista, figuras como René Thiollier, Rui Bloem, Sergio Milliet, Embaixador Macedo Soares, Barbosa Lima Sobrinho, Afonso Arinos de Mello Franco, Afonso Taunay e outros. Todos gente pelo menos conhecida de meu avô Sud Mennucci.

Mera curiosidade de uma época. Hoje, a lista seria de e-mails... na verdade, ela nem seria impressa, estaria na memória do outlook ou de outro programa de correspondência eletrônica no computador, onde meu avô, se vivo fosse, certamente continuaria "catando milho".

domingo, 13 de junho de 2010

TINHA DE ACABAR MESMO

A estação ferroviária de Caraúbas, RN, "no final dos anos 1980", como diz o autor da foto, Ricardo Adriano do Nascimento. O trem provavelmente já não passava mais, mas quem pode ter certeza? Ninguém cuidava mais das estações, de qualquer forma...

Como já deve ter dado para perceber, a maior parte de minhas postagens fala, nem que seja "de leve", em ferrovias. Claro - todos os dias atualizo o meu site das estações ferroviárias brasileiras. E cada dia aprendo mais sobre a sua história.

Hoje, recebi uma fotografia de uma estação ferroviária em Caraúbas, Rio Grande do Norte. Uma cidade que fica a cerca de 100 quilômetros ao sul do porto de Mossoró. A linha que ali existe (existe?) seguia de Mossoró até Souza, no interior da Paraíba, não muito longe da divisa com o Ceará. Alto sertão paraibano.

Jamais estive aí. Não conheço nenhuma das cidades ou vilarejos que tiveram estações nessa linha, há anos desativada, ainda nos tempos da RFFSA. Isso, claro, dificulta as informações sobre as estações e a história da linha. A documentação é muito escassa. As informações que recebo são pouquíssimas. Fotografias, então, raríssimas. Por incrível que pareça, porém, sempre se sabe alguma coisa.

Uma ferrovia numa região tão pobre e seca não podia ter muito futuro, realmente. Ela começou a ser implantada no ano de 1915, em Porto Franco, perto de Mossoró, e somente chegou à cidade de Souza, na Paraíba, no ano de 1951. Foram menos de 300 km de trilhos assentados em 36 anos. É muito tempo para isso.

As poucas fotografias e informações que tenho das cidades ao longo da linha mostram uma região muito pobre e com industrialização mínima. Os trens eram um meio de transporte decente numa época em que as rodovias eram pavorosas, quase inexistentes, e ônibus e caminhõezinhos eram raridades. Com o tempo, a ferrovia continuou no marasmo de sempre, e as estradas foram se tornando, pelo menos, transitáveis. Ônibus e caminhões passaram a ser meios de transporte mais comuns. A ferrovia, maltratada pelos governantes, foi ficando cada vez pior.

Os últimos trens de passageiros nessa linha são notados no ano de 1979 nos Guias Levi - que são uma fonte de referência, mas não são totalmente confiáveis, infelizmente, em termos de informação correta, nessa época. Algumas informações dão conta de que o trem teria ainda trafegado por ali por mais algum tempo. Em 1990 já não existiam mais.

Os trilhos foram arrancados em alguns pontos e cobertos com terra, areia e asfalto em outros. A linha foi, como digamos, parece que esquecida. De vez em quando alguma reportagem da região lembra que um dia o trem passou por ali. E que hoje não há alternativas para o trasnporte de pessoas ou de determinadas cargas, minerais ou de grãos. Ninguém se interessa, na verdade, apenas os saudosistas.

É um país em que o dinheiro é jogado foram constantemente, e quem pagou por isso - ou seja, o povo inteiro, ricos e pobres - ficou a ver navios. O pior é que isso se repete constantemente, em fábricas, escolas, hospitais, rodovias, ferrovias. E cobre-se impostos, altíssimos. Afinal, se pagamos tudo o que o governo manda, para que economizar, certo?

Tratada do jeito que descrevi, a ferrovia tinha de acabar mesmo. Porém, commo não conheço a região pessoalmente, pode - e deve - haver uma série de histórias que podem desmentir o que escrevi acima. Eu, pessoalmente, duvido... enfim...

sábado, 12 de junho de 2010

RUAS QUEBRADAS

Belo sobrado na rua Homem de Mello. Foto Ralph Giesbrecht, em fevereiro de 2010.

É sabido por muita gente que a confusão nos nomes dos logradouros da cidade de São Paulo (e também em quase todas as cidades do Brasil, mas o caos é pior aqui, pois a cidade é grande demais) é um fator que ajuda a piorar as condições de trânsito, além, claro, do excesso de carros, falta de fiscalização, falta de educação, falta de manutenção dos veículos e das ruas etc. etc. etc.

Há casos curiosos neste assunto. Além de uma mesma rua ter dois ou mais nomes por toda a sua extensão - os exemplos são vários, mas vamos citar aqui somente com as Marginais e com a rua Augusta -, existem as praças minúsculas que têm nome, a falta de placas em algumas esquinas... e outros fatores no mesmo assunto. Para mim, o mais estranho é o das "ruas interrompidas", ou seja, ruas que, de repente, desaparecem - supõe-se que acabem - e depois descobrimos que elas reaparecem, "lá do outro lado".

Existem várias, mas sempre me lembro de três exemplos desta situação: as ruas Monte Alegre e Homem de Mello, nas Perdizes, e a avenida Angélica, em Higienópolis.

A rua Monte Alegre começa (seguindo o sentido da sua numeração) na avenida Francisco Matarazzo e segue até um pouco além da rua Wanderley, onde acaba, de repente. Não no mapa, mas "na vida real". Depois do seu "fim", existe um barranco, o qual somente dá para seguir por uma escadaria lateral na calçada, com a rua reaparecendo no vale, ali embaixo, de um antigo córrego, continuando a sua pavimentação até a rua Ilhéus, quase no Sumaré.

A rua Homem de Mello era contínua originalmente - isto, até 1966, quando começaram as obras da projetada (havia décadas) avenida Sumaré. Como o córrego da Água Branca passava pelo leito da rua Homem de Mello, fizeram a avenida entre a rua Ciro Costa e um ponto mais à frente, onde o córrego saía do alinhamento da antiga rua. Com isso, o último quarteirão da rua Homem de Mello ficou separado do resto, bem como há um enorme hiato na numeração - na verdade, o leito da rua e da avenida se confundem por pouco mais de um quarteirão. Quem mora no último quarteirão deve ter dificuldade para explicar a localização de sua casa para o entregador de pizza.

A avenida Angélica, antiga rua Itatiaia, começa na rua da Barra Funda e acaba na Paulista? Errado. Na verdade, acabava na Doutor Arnaldo, bem no início desta. Quando construíram a ligação rebaixada da avenida Paulista com a Doutor Arnaldo - se não me engano, no final dos anos 1960 - o leito contínuo da avenida Angélica passou a terminar na Paulista, enquanto dois pedaços da rua, um próximo à Paulista e outro, perto da Doutor Arnaldo - desapareceram em meio à demolição necessária. Ficou o trecho do meio, que somente pode ser alcançado hoje por alguém que saia da rua da Consolação, rua à qual o trecho perdido ficou ligado. A numeração e o nome ainda são mantidos como avenida Angélica. Outro problema para o entregador de pizza.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

ALGUÉM CONHECE POCINHOS...

Pelo Google, Pocinhos do Rio Verde seria a cidade no canto esquerdo inferior. Caldas, sede do município, é a cidade no canto direito superior.

O Paulo leu a postagem de ontem sobre Pocinhos do Rio Verde e me escreveu. Ele conhece o local. Os comentários dele sobre o local e o hotel seguem transcritos:

"Caro Ralph, tudo bem?
O hotel de Pocinhos ainda existe, é o mesmo ao qual você se referiu hoje em seu blog. Estive lá no começo do ano, conserva a mesma arquitetura, embora tenha um padrão bem simples.
Getúlio Vargas esteve lá, o quarto onde ele ficava está lá, com um brasão da república na porta.
O hotel não tem luxo algum, embora a comida servida seja excelente. É muito bom para uns dias de descanso. Os quartos acomodam até 6 pessoas (fiquei num duplo, eu, a esposa e dois filhos). Os banheiros tem aquecimento central e banheira, mas os registros e a banheira são "daquele tempo".
As águas minerais continuam lá, todas elas. Na entrada do hotel há uma fonte da água radioativa. No balneário, uns 200 m do hotel, estão as demais fontes (outras três), cada uma com uma indicação. Como hoje em dia ninguém mais faz tratamento crenoterápico (cura baseada no tratamento com águas minerais, ingestão ou imersão), que requeria 21 dias de estada e tratamento, o objetivo do hotel atualmente não é mais a cura de moléstias, como está enfatizado no papel da carta. Mas conheci várias pessoas que vão lá pra passar duas semanas.
Pocinhos é um nada, uma rua principal, duas laterais, um balneário, um pequeno comércio e muitas cachoeiras, videiras e passeios em volta. O hotel tem uma piscina, uma sauna, comida boa, cavalos para passeios e é barato. Nada mais que o necessário..."

Enfim, nada muito diferente do que eu imaginava. Só me surpreendi com o hotel ainda mantendo pelo menos algumas instalações da época da carta - 1932. Segundo o site do próprio hotel (o Grande Hotel de Pocinhos do Rio Verde) ele é o hotel mais antigo do Brasil ainda em funcionamento.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

UMA CARTA DE 1932


Uma carta do acervo de meu avô, enviada para minha avó Maria em 1932. Somente uma lembrança de época.

Não conheço Pocinhos do Rio Verde, que é um balneário mineiro próximo a Poços de Caldas. Olhei na Internet e vi que ainda há um "Grande Hotel de Pocinhos".

Será o mesmo hotel da carta?

Interessante sempre é ler o que o hotel oferecia nesse distante ano de 1932, a três meses da revolução constitucionalista de São Paulo.

Como sempre, a indicação era o trem com que se chegava à região. No caso, o ramal de Caldas, da Mogiana.

terça-feira, 8 de junho de 2010

NORDESTE SEM TRENS

Estação de Paquevira, no sul de Pernambuco, em 1977 - foto revista VEJA

Em 15 de março de 1977, diversos trens de passageiros que mal e mal se aguentavam no Nordeste foram desativados. A desculpa: "economia de combustível". Claro, nas locomotivas diesel. No ramal de Camocim, CE, a população se sentou sobre os trilhos para protestar. Não adiantou. Não somente o trem foi mesmo eliminado, como também nesse ramal específico, os trilhos foram logo arrancados. Nem para carga ele servia: o porto de Camocim, de peso econômico muito grande no Ceará do século XIX, já estava decadentíssimo então.

As populações pobres que tinham trens vagabundíssimos sofreram. Vejam quem, segundo a revista VEJA da época, reclamava "em nome deles": Renan Calheiros, então secretário da Prefeitura de Murici, Alagoas. Lá, todos os trens foram eliminados nesse dia, com exceção dos de subúrbio entre Lourenço de Albuquerque e Maceió, que subsistem até hoje. Ele contestava o fato de que as rodovias substituiriam os trens, alegando que elas estavam longe de ser boas. É provável.

Esses trens do nordeste, então muito ruins, deixavam, numa comparação, os trens paulistas da época, também já decadentes e nas mãos da Fepasa - a ferrovia que, segundo alguns, foi "criada para acabar com todas elas" - parecerem verdadeiros trens de luxo.

Nesse dia, acabaram com as linhas de longa distância em Alagoas, com o ramal de Camocim, com as linhas na Paraíba, no Rio Grande do Norte e com muitas em Pernambuco - algumas sobreviveram até os anos 1980. Isso, se a relação que a revista listou na sua edição de 23 de março de 1977 estava correta.

O material de muitas delas, inclusive rodante, foi para as linhas do subúrbio em Recife, que era altamente deficiente. Teriam estes trens ganhado grande coisa? Provavelmente trocaram seis por meia-dúzia. Dez anos depois, Recife teria seu metrô, construído sobre as linhas da Great Western na região metropolitana de Recife. As linhas de subúrbio que não foram engolidas pelo bom metrô acabaram aos poucos e sofriam na época da safra de açúcar: as usinas congestionavam as linhas para o porto, de forma que os trens de passageiros tinham de parar nessa época.

Desde o final dos anos 1950, vinha se processando no Brasil inteiro o fim dos trens de passageiros, por um motivo ou outro. Em 1991, havia pouquíssimas linhas operacionais da RFFSA; no final de 1996, nenhuma. Sobraram os trens da Fepasa em São Paulo, que acabaram em lamentável esquecimento, dirigidos pela Ferroban, por coincidência em outro dia 15 de março - de 2001. Ficaram só os trens da Vale e o do Amapá.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

INVASÕES

Isto não existe mais - a linha foi removida e as favelas, depois da remoção das linhas, deram lugar a um conjunto habitacional. O depósito, ao fundo, passou a receber o cimento por caminhões que entopem mais ainda as estradas. A foto é de dezembro de 2002 e foi tirada na Marginal do rio Pinheiros junto aos desvios de Presidente Altino.

Notícia publicada hoje no portal da Revista Ferroviária mostra a falência da ordem e da justiça no Brasil. Se acreditarmos piamente no que está escrito, não há solução para a invasão de áreas das ferrovias. Estas invasões causam acidentes, alguns deles fatais, redução na velocidade das composições (e consequentemente tempo e fretes mais altos) e em alguns casos a interdição das linhas e posterior retirada - como aconteceu, por exemplo, no desvio do depósito do cimento Cauê na Marginal do Pinheiros há alguns anos.

A reportagem fala da dificuldade - mais ainda, da impossibilidade - de se remover habitações ao lado da linha e eventualmente dentro dos muros que deveriam separar as ferrovias da área de habitação. Não se trata aqui de condenar a existência de favelas, de discutir política habitacional: construir irregularmente em um terreno é uma coisa, fazer isso colado a uma linha férrea é outra muito diferente: no acidente, quem sofre mesmo é o morador local, pois se machuca ou até morre, enquanto, do lado da ferrovia, são os prejuízos para ela. Todos perdem.

As contradições judiciais apresentadas no estudo mostram um absurdo: basta ter cara de pau e construir onde não pode que v. dificilmente sairá de lá. E parece que as pessoas que fazem isso não estão preocupadas com a própria segurança nem com a de seus familiares - onde se incluem crianças pequenas, que não têm a mesma noção de perigo que os adultos. Sem falar dos viciados em crack que vagueiam pelas linhas.

Se a propriedade particular e pública - no caso das ferrovias, pública, pois a ferrovia tem apenas a concessão de uso das linhas da União - não têm garantia alguma, como se pode programar um sistema de transporte decente, tanto para passageiros como para cargas neste país?

Segundo o artigo, a ANTF calcula que existem 327 - sim, trezentos e vinte e sete - invasões nas linhas brasileiras. Mesmo se levando em conta que áreas da União não geram usucapião, não se consegue tirar os invasores com facilidade porque se fica discutindo anos e anos a fio na justiça sobre eventual indenização a gastos efetuados pelos invasores durante a invasão (!!!!!). É de assustar... Se alguém quiser ler o artigo, segue o link.

domingo, 6 de junho de 2010

INOCÊNCIA


Até quando o ser humano mantém sua inocência?

Um bebê que nasce passa a observar e ouvir tudo que se passa à sua volta e aos poucos vai compreendendo que a vida não é só para se viver, mas também deve ser movida com hipocrisia para não melindrar a todos.

Enquanto isso não acontece, as crianças mostram o que é a inocência e a felicidade por coisas simples.

Ontem, meu neto Willi estava em casa com os pais e nós. Dois de nós estávamos no escritório e as duas mulheres estavam na sala. Ele estava com elas. De repente, foi até o escritório e me puxou com a mão, falando "pé-pé", que eu não consegui descobrir o que era. Foi de volta para a sala, sem largar meu dedo, fez a mãe e a avó se levantarem do sofá, fez com que nos puséssemos de pé numa parte mais livre da sala, chamou o pai ("papa-i"!) e fez com que todos nós nos déssemos a mão numa roda de cinco.

Começou a cantar "roda-roda-roda, pé-pé-pé" conosco enquanto girávamos e ele sorria uma imensidão de felicidade.

Com um ano e meio de idade, como é fácil ser feliz.

sábado, 5 de junho de 2010

NÃO DÁ PARA LER

Vila Itororó. Autor desconhecido.

Está mesmo na hora de se demitir todos os vereadores, deputados estaduais e federais, além dos senadores, e economizar para o Tesouro uma boa quantia de dinheiro. Afinal, eles não servem para nada. Além de — de acordo com a imprensa dos últimos 188 anos — constantemente aplicarem mal o dinheiro público, eles fazem leis que não são seguidas. Se não são seguidas, eles não servem para nada. Para que fazer leis que não são seguidas nem pelos políticos — ou principalmente por eles?

Basta abrir o jornal hoje. Na cidade de São Paulo, uma lei de 2003 determina que sejam abertas 31 centrais de triagens de lixo reciclável. Não estou aqui discutindo as vantagens ou desvantagens delas. Mas o fato é que elas não foram criadas, sete anos depois. Então, para que a lei? Também está escrito que o presidente Lula foi multado pela quinta vez por fazer propaganda política indevida. Ora, se ele já descumpriu a lei cinco vezes, o que faz pensar que ele não descumprirá mais? Principalmente porque a punição é a multa — que os políticos, sabe-se, jamais pagam. Enfim: para que serve essa lei? É melhor não gastarmos dinheiro pagando para pessoas fazê-las.

Ainda no jornal, a remoção das famílias que moram na Vila Itororó, na rua Martiniano de Carvalho, na Bela Vista. Tombada pelo Patromônio Histórico, construída nos anos 1920, era uma vila de casas tão comum (essa, na verdade, não era "comum", era diferente das outras, por suas características arquitetônicas únicas) então na cidade e habitada por diversas famílias. Está malcuidada, mas continua sendo habitada por moradores. Pô-los para fora por quê? (serão removidos para um prédio da COHAB ali perto.) O local vai ser transformado em centro cultural. Para quê? Se centro cultural desse cultura, o povo brasileiro seria o mais culto do mundo, pois tudo que é prédio velho, estação ferroviária, armazém, fábrica velha, vira centro cultural. E não somos cultos, não...

Enfim, se a função da vila é abrigar moradores, que os deixemos lá morando. Apenas coloquemos ordem na bagunça: sujeira e criminosos (se é que existem ali), não. E pronto, tudo resolvido, e que se abra para visitas de quem queira a vila. Afinal, vilas são públicas. Transformá-la em cinema e centro cultural, embora mantenha sua arquitetura, o que é ótimo, vai descaracterizá-la.

Seguindo adiante, pichadores foram surpreendidos emporcalhando um prédio na Consolação. A polícia foi chamada e um deles caiu no chão e foi levado ao hospital. Não morreu. Porém, o jeito que a imprensa publica essas coisas dá a nítida impressão de que os culpados são os policiais e quem os avisou, não esses idiotas que arriscam a vida para sujar e enfeiar a cidade. E o site da UOL de ontem condenava uma repórter de televisão que havia usado esse termo para se referir aos pichadores.

Enfim: é ótimo ler jornais pela manhã. Nós sempre nos surpreendemos com as coisas que cada vez parecem mais absurdas que lemos.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

A HISTÓRIA NUMA PORTA DE METAL


Hoje fui almoçar com um amigo em um restaurante na praça atrás da Biblioteca Municipal. Na volta, fomos a pé dali até a rua da Boa Vista, passando pela rua João Brícola.

Ali há uma curiosíssima e bela porta metálica no prédio de uma antiga agência bancária. Era do Banco Econômico, mas teria sido colocada ali por algum banco que ocupou o prédio antes desse.

Ela mostra moedas desde a época do Império até a época do cruzeiro - o primeiro cruzeiro (1941-67), claro. A última moeda embaixo à direita mostra a de 20 centavos (de cruzeiro) dos anos 1940.

Tal porta foi fotografada por minha esposa Ana Maria há quatro anos atrás quando fomos almoçar também com amigos num restaurante no largo de São Bento, o Girondino. A foto está acima.

É um prazer caminhar pelo centro velho e novo. Os prédios, em sua maioria antigos, são em grande parte muito bonitos e não tão altos. O predio do Banco do Brasil na esquina da rua da Quitanda com a Álvares Penteado, a antiga Casa Garroux na 15 de Novembro, a única casa que ainda sobra na rua 7 de Abril em frente à Conselheiro Crispiniano que hoje é um restaurante.

Há muito mais. Um passeio atento pelo centro leva pelo menos um dia inteiro.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

FERIADOS


Hoje é feriado. Corpus Christi. Nome latino para "corpo de Cristo". Está bem. Sou católico, mas, sinceramente, não sei o porquê do feriado. Se eu fosse à igreja e prestasse atenção ao que o padre diz, talvez aprendesse. Mas não. Haja paciência para assistir a missas.

Antigamente, missa era o "divertimento" do domingo. Se não fosse a missa, far-se-ia o quê? E olhe que nem se entendia o que o padre dizia, pois a missa era rezada em latim. Mas não havia televisão, nem computador... ia-se à missa e depois passeava-se na praça, na avenida, ia-se à estação de trem para ver o trem chegar... e visitava-se os amigos e parentes.

Por isso, naquela época conhecia-se a família toda. Quando tínhamos interesse em saber quem era tio, quem era primo etc., então, ficava mais interessante ainda. Era o meu caso. Nem por isso eu gostava de ir à missa, e somente ia quando minha mãe obrigava. Íamos muito para a cidade de Santos. Minha mãe ia à missa no Embaré todos os domingos quando estava lá. Até que um dia disse que não ia mais, pois o padre criticou os turistas que iam a Santos e preferiam ir à praia a ir à missa. Minha mãe era turista e frequentava a missa, por isso ficou ofendida e não foi mais.

Acabou-se a missa, acabaram-se as religiões, mas ficaram os feriados, agora sem significado algum. Não há procissão, exceto nas cidades menores e, mesmo assim, porque é evento turístico. Veja o caso, aqui, de onde moro, Santana de Parnaíba. É hoje, lá no centro. Aqui no bairro, alguém vai? Só se for de curioso.

A última procissão a que compareci foi por acaso, há uns quatro anos. Foi na Lapa, cidadezinha linda e histórica a 65 km de Curitiba. Fui conhecer a cidade e de repente demos de cara com uma procissão. Apesar de a cidade ser turística, não havia muita gente olhando. A maioria estava era participando dela. Eu fiquei olhando uns 2-3 minutos e fomos para outro lado.

Enfim, que significado têm os feriados hoje em dia? Nenhum. É dia "de ir pra praia", de fazer churrasco, de tomar uma bebedeira, de jogar futebol. Não sabemos por que eles existem, qual o significado histórico ou religioso deles. Às vezes damos graças aos céus por eles existirem, para podermos descansar. Às vezes, eles são uma atrapalhação.

Porém, ninguém para para refletir no seu significado, o que, teoricamente, é o motivo de os feriados existirem. Dia de Tiradentes. Quem foi mesmo ele? Sim, eu sei, mas quanta gente sabe? Dia da consciência negra. É preciso um dia inteiro para se parar e pensar no que isso significa? Se sim, quem faz isso? Não! É mais um dia "para ir para a praia".

Sou a favor de que se acabem com os feriados. Ou, pelo menos, que se diga: "tais dias serão feriados: a, b, c, d e e. Não terão nomes. Somente isso: serão dias em que não se trabalha. Apenas isso. Não é, afinal, o que eles são?

quarta-feira, 2 de junho de 2010

CORRENDO ATRÁS DO RABO

Terraplanagem do pátio da estação Tamanduateí do metrô em 2008 - Foto Julio C. Paiva

As notícias dos últimos dias, semanas, meses, anos, vão dando conta de qua a cidade de São Paulo está crescendo - ou até já cresceu - além da conta, além do que deveria ter crescido. Muito se fala que o metrô veio tardiamente para a cidade... é verdade, até certo ponto. Se considerarmos que metrô e trem metropolitano são a mesma coisa, a cidade possui linhas férreas há muito tempo. Desde quando ela era uma cidade de pouco menos de 100 mil habitantes.

Atualizando nomes, São Paulo já possuía linhas em 1867, quando a população era mínima. Quantos trens havia por dia cruzando a cidade de noroeste a sudeste (a Santos-Jundiaí)? Poucos é certo (um vindo e outro indo?), mas a cidade tinha, sei lá, 60 mil pessoas. Em volta de quais paradas da época havia demanda? Somente a Luz - onde os passageiros tinham de vir "de longe", do centro velho (Sé) e o que mais? Jundiaí! Nem Santo André, nem São Caetano... tudo foi se formando em volta das estações.

São Paulo começou a ter bairros ao longo da linha, mas somente em alguns pontos. A Lapa e a estação somente surgiram mais próximos do final do sévulo. Idem a Mooca.

Em 1875, abriu-se a Sorocabana, partindo de bem próximo à Luz. Mas a primeira parada era... Barueri, que também era um bairro (de Santana de Parnaíba) que estava se formando desde o início da construção da linha, três anos antes! As estações intermediárias - mesmo a Barra Funda - surgiram depois.

No mesmo ano, abriu-se a São Paulo-Rio, depois Central do Brasil. Partia do Brás, bem mais longe da Luz que a estação da Sorocabana, mas alcançável pelo trem da Santos-Jundiaí (SPR). A primeira estação era São Miguel, que era o nome da estação de Itaquera naquela época. Não havia nada ali, a localidade mais próxima era o bairro de São Miguel, sei lá quantos quilômetros para o norte (daí o nome da estação primitiva) e com acessos à estação certamente terríveis.

E foi se espalhando a cidade pelos braços da Sorocabana, SPR e Central. O problema: não foi somente por ali. Crescia rápido demais, por causa de diversos fatores e inclusive por ser a capital do Estado, para onde afluíam os ricaços da época que viviam nas fazendas do interior e que no início vinham com mais frequência, pois precisavam discutir seus assuntos com o governador e que, depois, passariam a aqui morar.

As linhas "estacionaram". Aumentou-se o número de trens diários fazendo o percurso mais próximo à capital (ou seja, os trens de subúrbio), aumentou-se o número de estações nas mesmas linhas, sem a criação de novas. Entre 1875 e 1957, não se criou nenhuma via férrea dentro do município, com exceção da Carris de Santo Amaro, que ligavam a Liberdade ao centro do então município de Santo Amaro, que depois virou linha de bonde, e a frágil Cantareira. Em meados dos anos 1960, ambas desapareceram, juntamente com as linhas de bondes elétricos, "mini-trens", hoje chamados de VLTs, mas que disputavam a via com os automóveis, ao contrário dos trens.

Em suma, a quilometragem de linhas férreas na cidade não cresceu um centímetro (exceto duplicações de linhas) até 1957, quando se criou a linha que ligava a estação Julio Prestes a Santo Amaro e dali a Santos, hoje linha 3 da CPTM.

Enquanto em 1875 a população da cidade não chegava a cem mil pessoas, em 1957, já passava de 2 milhões. E quando acabaram as citadas Cantareira e os bondes, a população já estava em, pelo menos, 3 milhões, se não mais, Confesso que não fui conferir estes dados de populações, mas, com as diferenças mostradas, detalhes nem são necessários.

Quando o metrô foi entregue em toda a sua extensão em 1975, cem anos depois da Sorocabana, a população já se espalhava por todo o município, com uma área quase o dobro da de 1875 (Santo Amaro havia sido anexado e Osasco, desanexado). Quantos metrôs seriam necessários para se preencher toda essa área? É verdade que os trilhos deste avançaram muito devagar após sua inauguração, mas, mesmo assim, a necessidade era tão grande que muito dificilmente seria alcançada - e dificilmente será alcançada - agora. Os custos são muito maiores pois naõ há áreas livres.

O que quero dizer é que é muito mais fácil se planejar uma cidade a partir de linhas implantadas em uma área escassamente povoada do que planejar linhas de trens em cidades já excessivamente populadas. Não dá. Por isso, a "superpopulação" no metrô e na CPTM anunciados nos últimos meses por quase todos os dias. Não há governo que dê conta. Que se desinche São Paulo. Que se pare a cidade, construções, etc. e se tente arrumar o que está aí. Vai ser bem difícil.

terça-feira, 1 de junho de 2010

VISÕES DO PARAÍSO

O paraíso, a tranquilidade... acervo Roland Baraud

O primeiro que viu foi um menino. Devia ter uns 8, 9 anos. Era por volta de 5 e 15 da tarde. Os ônibus começavam a passar cada vez mais rápido, tentando chegar a algum lugar antes que as filas aumentassem naquele cruzamento de duas enormes avenidas, ambas com canteiro central. Várias pessoas atravessavam a rua tentando chegar aos pontos dos coletivos - no meio da rua, junto ao canteiro - e elas tentavam desviar umas das outras para não colidirem em meio à sua pressa.

Anoitecia rápido - era outono, quase inverno na cidade no princípio de junho. O menino seguia ali, fito em algo que achava estranho e curioso. Logo outras pessoas pararam e se juntaram a ele, tentando entender o que acontecia. Algumas começaram a apontar e a conversar com o menino: - Eu também estou vendo! Ali! Veja como eles se mexem devagar! - Eles também nos vêem? Os ônibus vão passar por cima deles! Ali! - Opa, um passou no meio deles! - Ei, mas o que é isso? Eu não estou vendo nada! Será que todos estão malucos? - Eu também não enxergo coisa alguma... o que está acontecendo?

O que estava acontecendo era que o menino e cada vez mais gente viam um casal muito bem vestido, com roupas de época e também algumas crianças, estas com roupa de marinheiro, andando no meio da rua e dos estacionamentos fronteiriços dos edifícios, às vezes saindo e entrando das construções atravessando as paredes como se elas não existissem. O mato! Dava para ver o mato se mexendo com o vento! Eles nem ligavam para os ônibus e automóveis que passavam rápido por ali, ou mesmo estavam parados esperando o semáforo abrir e o tráfego andar.

As pessoas, o mato, o cachorro que passava correndo, eram como fantasmas, transparentes, mas com um contorno muito nítido, como que iluminado por uma luz dando uma forma muito definida a tudo aquilo. Quem eram eles? Por que somente algumas pessoas os viam e outros não? Quanto mais escuro ficava, mais nítidos eram eles. Aliás, era certo que eles não nos viam, pois senão, assustar-se-iam com os veículos movendo-se contra eles, as pessoas meio assustadas, meio maravilhadas, fitando-os nos olhos, cara a cara, quase se tocando.

Uma cena maravilhosa. Em vez de as pessoas que os viam se assustarem, elas pareciam cada vez mais extasiadas de estarem presenciando tudo aquilo no meio da cidade feia, cinza, apressada, esburacada, suja. Aos poucos, todos se foram. Tanto os "espectros" quanto a sua assistência. Precisavam todos voltar para casa. No dia seguinte, isso se repetiu. Depois, dia após dia, quem acreditava voltava para ver, sempre que possível... às vezes, o casal não aparecia. A paisagem, no entanto, sim, contrastando com o concreto colorido e duro.

Por que alguns os viam e outros não? Seria porque aquilo espelharia o desejo de tranquilidade de cada um de nós? Aquelas pessoas, com suas roupas e atitudes, viviam há cem anos. Seriam elas os moradores da chácara que ali existia nessa época? Nenhuma dessas ruas existia. Era bonito ver as crianças atirando pedras no córrego. Córrego? Mas não há água ali hoje... - Há, sim! Veja aquela baixadinha ali. O rio passava ali, cortava a avenida. Hoje é uma galeria de concreto sob a terra. Nós somente o vemos quando aqui inunda.

Seria tudo isso um sinal para que nós possamos conhecer um pouco da tranquilidade de cem anos atrás? Ver o que todos perdemos? Comparar as coisas, como numa folha de papel transparente com um desenho a bico de pena sobreposta sobre uma fotografia atual do mesmo local?