quarta-feira, 2 de junho de 2010

CORRENDO ATRÁS DO RABO

Terraplanagem do pátio da estação Tamanduateí do metrô em 2008 - Foto Julio C. Paiva

As notícias dos últimos dias, semanas, meses, anos, vão dando conta de qua a cidade de São Paulo está crescendo - ou até já cresceu - além da conta, além do que deveria ter crescido. Muito se fala que o metrô veio tardiamente para a cidade... é verdade, até certo ponto. Se considerarmos que metrô e trem metropolitano são a mesma coisa, a cidade possui linhas férreas há muito tempo. Desde quando ela era uma cidade de pouco menos de 100 mil habitantes.

Atualizando nomes, São Paulo já possuía linhas em 1867, quando a população era mínima. Quantos trens havia por dia cruzando a cidade de noroeste a sudeste (a Santos-Jundiaí)? Poucos é certo (um vindo e outro indo?), mas a cidade tinha, sei lá, 60 mil pessoas. Em volta de quais paradas da época havia demanda? Somente a Luz - onde os passageiros tinham de vir "de longe", do centro velho (Sé) e o que mais? Jundiaí! Nem Santo André, nem São Caetano... tudo foi se formando em volta das estações.

São Paulo começou a ter bairros ao longo da linha, mas somente em alguns pontos. A Lapa e a estação somente surgiram mais próximos do final do sévulo. Idem a Mooca.

Em 1875, abriu-se a Sorocabana, partindo de bem próximo à Luz. Mas a primeira parada era... Barueri, que também era um bairro (de Santana de Parnaíba) que estava se formando desde o início da construção da linha, três anos antes! As estações intermediárias - mesmo a Barra Funda - surgiram depois.

No mesmo ano, abriu-se a São Paulo-Rio, depois Central do Brasil. Partia do Brás, bem mais longe da Luz que a estação da Sorocabana, mas alcançável pelo trem da Santos-Jundiaí (SPR). A primeira estação era São Miguel, que era o nome da estação de Itaquera naquela época. Não havia nada ali, a localidade mais próxima era o bairro de São Miguel, sei lá quantos quilômetros para o norte (daí o nome da estação primitiva) e com acessos à estação certamente terríveis.

E foi se espalhando a cidade pelos braços da Sorocabana, SPR e Central. O problema: não foi somente por ali. Crescia rápido demais, por causa de diversos fatores e inclusive por ser a capital do Estado, para onde afluíam os ricaços da época que viviam nas fazendas do interior e que no início vinham com mais frequência, pois precisavam discutir seus assuntos com o governador e que, depois, passariam a aqui morar.

As linhas "estacionaram". Aumentou-se o número de trens diários fazendo o percurso mais próximo à capital (ou seja, os trens de subúrbio), aumentou-se o número de estações nas mesmas linhas, sem a criação de novas. Entre 1875 e 1957, não se criou nenhuma via férrea dentro do município, com exceção da Carris de Santo Amaro, que ligavam a Liberdade ao centro do então município de Santo Amaro, que depois virou linha de bonde, e a frágil Cantareira. Em meados dos anos 1960, ambas desapareceram, juntamente com as linhas de bondes elétricos, "mini-trens", hoje chamados de VLTs, mas que disputavam a via com os automóveis, ao contrário dos trens.

Em suma, a quilometragem de linhas férreas na cidade não cresceu um centímetro (exceto duplicações de linhas) até 1957, quando se criou a linha que ligava a estação Julio Prestes a Santo Amaro e dali a Santos, hoje linha 3 da CPTM.

Enquanto em 1875 a população da cidade não chegava a cem mil pessoas, em 1957, já passava de 2 milhões. E quando acabaram as citadas Cantareira e os bondes, a população já estava em, pelo menos, 3 milhões, se não mais, Confesso que não fui conferir estes dados de populações, mas, com as diferenças mostradas, detalhes nem são necessários.

Quando o metrô foi entregue em toda a sua extensão em 1975, cem anos depois da Sorocabana, a população já se espalhava por todo o município, com uma área quase o dobro da de 1875 (Santo Amaro havia sido anexado e Osasco, desanexado). Quantos metrôs seriam necessários para se preencher toda essa área? É verdade que os trilhos deste avançaram muito devagar após sua inauguração, mas, mesmo assim, a necessidade era tão grande que muito dificilmente seria alcançada - e dificilmente será alcançada - agora. Os custos são muito maiores pois naõ há áreas livres.

O que quero dizer é que é muito mais fácil se planejar uma cidade a partir de linhas implantadas em uma área escassamente povoada do que planejar linhas de trens em cidades já excessivamente populadas. Não dá. Por isso, a "superpopulação" no metrô e na CPTM anunciados nos últimos meses por quase todos os dias. Não há governo que dê conta. Que se desinche São Paulo. Que se pare a cidade, construções, etc. e se tente arrumar o que está aí. Vai ser bem difícil.

Um comentário:

  1. Ralph, você usou o verbo preciso, exato (usei-o ontem em um comentário no Estadão): DESINCHAR! Precisamos desinchar a cidade, a metrópole. Imagine uma fazendo no interior do Mato Grosso, do tamanho da cidade de São Paulo (parece que por lá tem muitas fazendas desse tamanho). E de repente coloque 11 MILHÕES DE PESSOAS LÁ. Chegamos a esse estado entrópico, em que esforços pequenos ou grandes parecem virar fumaça, o famoso "enxugar gelo". Agora, esse esvaziamento das grandes metrópoles, rumo a uma qualidade de vida decente para MILHÕES de pessoas, só pode ser conseguido através de uma política pública NACIONAL. E como considero a aglomeração urbana paulistana o MAIOR PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA DO BRASIL, dá pra sonhar com um projeto nacional, de execução em 10, 20 anos, de transferir, sei lá, 2, 3, 5, 10 milhões de pessoas para outras frentes de desenvolvimento, tornando cidades como São Paulo e Rio viáveis de se viver. Convido as pessoas a pensar em como tornar isso uma proposta política objetiva. Abraço.

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