terça-feira, 22 de dezembro de 2009

UMA AVENIDA CHIC QUE NAO DEU CERTO

Avenida Eusébio Matoso em 1962. Ao fundo, a ponte sobre o rio Pinheiros. - foto Aldo Anhezini

A avenida Eusébio Matoso tem uma vida relativamente curta no bairro de Pinheiros, São Paulo. Muita gente pensa que ela é continuação da avenida Rebouças, entre a avenida Faria Lima e a ponte sobre o rio Pinheiros; na verdade, não é. É, sim, continuação do fluxo de trânsito desta última, que, por sua vez, continua, mais estreita e sem canteiro central, até a avenida Marginal do Pinheiros, escondida, fazendo um “bico” com o entroncamento da Eusébio e da Faria Lima. Ou seja: essa continuação e a Eusébio Matoso começam mais ou menos no mesmo ponto da Faria Lima. É nessa Rebouças que fica a entrada do Shopping Eldorado.

A primeira referência que vi à avenida Eusébio Matoso foi em um mapa de São Paulo de 1947: ela aparece com o nome “variante”e segue para a ponte. A ponte original, aliás, não era nessa avenida, mas um pouco mais para o norte, na rua Butantan. A nova ponte e a avenida devem ter surgido pouco antes, quando terminou a retificação do rio Pinheiros no trecho entre as avenidas Cidade Jardim e rua Butantan. Depois, nos anos 1980, creio, duplicaram a ponte, que nos anos 1990 ganhou uma companheira, mais alta e maior, ligando-se novamente à rua Butantan e de nome Bernardo Goldfarb.

Era para ser uma avenida basicamente residencial: dá para se perceber isso quando vemos as casas que ainda restam, bem ou mal cuidadas, grandes, muitas de uma arquitetura que lembra o neocolonial ou estilos mais recentes de linhas retas. No início dos anos 1960 tinha pouquíssimo trânsito, como se pode ver na foto acima. Nota-se, entretanto, entre os poucos veículos que por ela trafegam, a presença, na pista ponte-centro, de três caminhões. Isso se explica pelo fato de a avenida ser na verdade parte da chegada de cargas do Sul do País: o corredor Rebouças-Eusébio-Francisco Morato (avenida já do outro lado da ponte)-rodovia Regis Bittencourt explica isso.

Tentei localizar o local exato da foto. É muito difícil. Parece ter sido tirada quase do início, na Faria Lima (que, na época, ainda era a estreita rua Iguatemi), de costas para esta, ou um pouco mais para a frente. Os canteiros centrais ainda pequenos, permitindo diversos retornos, não existem dessa forma já há muitos anos. As árvores cobrem toda e qualquer identificação de casas que porventura existam. Somente se nota o bico de um telhado do lado direito, atrás das árvores. O local imediatamente em primeiro plano está quase que certamente onde hoje passam os corredores de ônibus e o túnel que liga a avenida à Rebouças por baixo da Faria Lima e que existe desde o ano de 2004.

Sei que até o ano de 1978, o lado esquerdo da foto, ao fundo, ou seja, no quarteirão entre a rua Ibiapinópolis e a Marginal era um terreno baldio cheio de campos de futebol de várzea e de mato, e foi nele que se construiu o Shopping Center Eldorado, que o ocupa inteiro (além de, na saída da ponte, três prédios, um residencial e dois de escritórios, estes últimos já existentes nos anos 1970). A construção do Shopping iniciou-se em 1978, presenciado por mim “de camarote” dos últimos andares do atual prédio do Unibanco, onde eu trabalhava na época. Ficou pronto no final de 1980.

Hoje, as casas são todas escritórios, lojas ou estão abandonadas. Não valem nada – recentemente se demoliram duas casas pouco antes da rua Cardeal Arcoverde para se construir um estacionamento, cujos preços são altíssimos nesta região. Duas passarelas de pedestres, um corredor de ônibus, uma boca de túnel e uma lateral de shopping – sem entrada alguma pela avenida – deterioram cada vez mais a avenida, outrora de ricas casas. É o retrato (ou um dos) da decadência da Capital.

2 comentários:

  1. Olá Sr.Ralph, boa noite. Em SP, é engraçado como as coisas acontecem. Há outra avenida que atualmente não vem dando certo em SP: A av. Dom Pedro, que sai da Av. do Estado e leva ao Museu do Ipiranga. São duas avenidas largas, uma de cada lado, separadas por mum lindo canteiro com árvores, a avenida também ladeadaspor elas. Cosbtruções em terrenos grandes, geralmente sobrados da década de 50 (ou não?). Há dez anos, as famílias que ali moravam deixaram os imóeveis para clínicas, consultórios, escritórios. Hoje, porém, acho que a taxa de ocupação desse imóveis (não os edifícios antigos e bonitos) não chega a 60%.Perguntei para alguns comhecidos da região e alguns dizem que é por causa de muitos assaltos na região. Seré? De qualquer forma, as placas de "aluga-se" ou "vende-se" se mutiplicam. Abçs.

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  2. A Dom Pedro é dos anos 1920, quando foi reformado o museu do Ipiranga para as festas de 1922. Era para ser uma "avenida tão chic quanto a Paulista", mas acabou se degrdando mais rápido por que o bairro era mais operário do que qualquer coisa. Daí, veio o motivo de sempre: muito movimento, barulho, ônibus, etc. e deu no que deu. Aliás, hoje em dia ninguém quer construir em qualquer avenida que seja, seja nova ou não. Nem morar em prédios nelas. Por isso que já disse em outras postagens: a construção de grandes avenidas leva à degradação. Quanto maior a cidade em que ela está, maior a degradação que ela causa.

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