segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

CONSEQUÊNCIAS DE SE TER GOVERNOS SEM CRÉDITO


Um velho prédio construído com projeto do arquiteto Ramos de Azevedo no longínquo ano de 1895, quando o Pacaembu fazia parte da “afastada” zona rural do município de São Paulo e não se tinha nem ideia de que um dia ao lado dele seria construído o Estádio Municipal, virou palco de discórdia na cidade.

Seu uso original foi o acolhimento de crianças abandonadas na Santa Casa de Misericórdia na “roda dos expostos” – onde bebês recém-nascidos e indesejados pelos pais eram anonimamente colocados do lado de fora em cima de uma roda que era girada para que dentro de um quarto onde se recolhiam os bebês.

Mais tarde, em 1935, transformou-se em um asilo, quando o bairro do Pacaembu começava a ostentar suas escassas casas em meio a centenas de terrenos ainda vazios e ruas recém-traçadas. Como o terreno era grande e a casa estava afastada dos seus limites, ninguém se preocupava com o “Asylo Sampaio Viana”. Nos anos 1960 virou um orfanato do Estado e posteriormente abrigou uma unidade da FEBEM. Agora, há anos está vazio.

Vazio mas com novo dono: há onze anos, a Fundação Faculdade de Medicina (a da Universidade de São Paulo) adquiriu o imóvel. Tem estado bem cuidada, a se julgar pela fotografia acima, publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo no último dia 12 de dezembro.

O problema é que a Fundação quer construir ali um centro educacional para profissionais da saúde, quando todo o bairro está tombado e, ainda por cima, a região é uma ZER – Zona Estritamente Residencial — e para ser usada dessa forma, precisaria ser transformada numa ZOE — Zona de Ocupação Especial. A Associação Viva Pacaembu, dos moradores da área, não quer isso e estuda entrar com uma ação na Justiça se for aprovado o projeto de lei que vereadores já estão apresentando para mudar o bairro.

Ora, se tudo é tombado, como se pode mudar o zoneamento? Tanto um tombamento quanto um zoneamento existem para não ser mexidos. É isto que eu penso e que os moradores também pensam. Mesmo que se torne verdade o que a Fundação apregoa — que seriam cem alunos por período apenas e que portanto isso não se tornaria de forma nenhuma um polo gerador de tráfego no bairro, quem garante que isso não é uma brecha para se instalar ali uma faculdade, por exemplo?

Têm toda a razão os moradores do bairro. Da forma como têm agido nossos governantes, sempre fazendo leis às escondidas com detalhes que muitas vezes passam desapercebidos justamente para darem abertura a mudanças nos anos seguintes, não há por que neles confiarmos. É isso que dá serem gente que age sem pensar nas consequências — ou, pior ainda, pensando nelas.

Afinal, os vereadores não representam maiorias? A Fundação é uma maioria, por acaso? Se os moradores do bairro, ou a associação, que representa um número de pessoas certamente muito maior do que a Fundação, não querem, por que insistir?

Ao mesmo tempo, há que se pensar num uso para o imóvel e seu terreno que evite que, sem uso, tudo fique no abandono, como sói acontecer com diversos imóveis pelo Brasil inteiro. Esse uso, no entanto, não pode se transformar em algo que a médio prazo destrua o bairro.

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