sábado, 26 de dezembro de 2009

AS JANELAS DO NATAL


Desde o ano que nasci (1951) até 1986, eu passei a noite de Natal na casa de minha avó Maria. Ela era a matriarca da família. Casada com Sud, que morreu antes de eu nascer, o casal era o que ajudava a todos na grande família Silva Oliveira, de 12 irmãos. Como não poderia deixar de ser e com todos a partir dos anos 1930 já morando na Capital, a grande congratulação anual era no dia 24 de dezembro à noite. Porém, sempre lembrando que não era a única: em 17 de julho, aniversário da vó, e em 31 de dezembro, tudo se repetia com motivos diferentes.

No Natal havia aquela porta à esquerda da foto – uma porta-janela – que vivia aberta, mas nesse dia era fechada. Ali se distribuíam os presentes de Natal, trazidos, claro, pelo Papai Noel. À meia-noite, a porta se abria e cada um tinha o seu saco de presentes, com o seu nome escrito num pequeno envelope. A sala da foto era a sala de jantar da casa, que possuía, atrás da minha tia Ester e de minha mãe, sentadas à direita, três janelas, daquelas grandes, de madeira pintada de creme. A luminosidade de uma delas pode ser vista atrás de minha mãe.

Do lado direito, à direita das janelas, outra porta, que dava acesso a uma escada que levava para o quintal dos fundos. Do lado de cá, junto à posição de quem tirou a fotografia, era a saída para a copa. No canto ao fundo da foto, bem escuro, ficava a televisão – que, nessa foto de 1950, não deveria ainda existir ali (a TV chegou a São Paulo em meados desse ano).

Não sei se essa foto foi tirada no Natal, mas a cena era essa. No dia de Ano Novo, como não havia presentes, a porta que se vê era aberta – esqueci de citar que quem está de costas para ela era minha tia Lélia – e mais uma mesa era juntada à já existente, para caber todo mundo. No Ano Novo, vinha mais gente que no Natal. Era muita gente. Os “velhos” e as crianças. O único ano que sei que não passamos ali, eu e meus pais, foi em 1956, pois estávamos nos Estados Unidos, meus pais com bolsas de estudo durante um ano. Minha avó sempre se sentava no lugar atrás de minha tia Mévia, que é quem está à esquerda. Provavelmente minha avó estava sentada ali, mas a foto não a “pegou”. O fotógrafo deve ter sido meu pai.

Curioso, não tenho muitas fotos dessa sala, mas me lembro muito bem dos móveis e da distribuição. Nela, além da pesadíssima mesa, havia um móvel que era usado para guardar vinhos e sobre ele a televisão, havia um buffet que tinha dias gavetas sobre ele (colocadas como numa “caixa” de madeira) e também um outro buffet menor – e em cima dele se colocava o carrilhão. Os móveis eram todos escuros, bem escuros. Todos foram vendidos pelas minhas tias em 1995.

Em agosto de 1987, minha avó morreu. Por isso sei que 1986 foi o último Natal passado ali. É verdade, porém, que alguns Natais foram passados ali depois disso – minhas tias tentaram manter a tradição, mas era difícil. Também não citei que, no duro, no duro, o último Natal nessa sala dessa casa foi em 1965 – porque antes do Natal seguinte minha avó se mudou para uma casa, depois para outra, e finalmente, em 1972 estava numa nova, outra vez na Vila Mariana. Mas o Natal sempre a acompanhava. As salas, claro, eram diferentes.

Quando vovó morreu eu tinha já 36 anos de idade. Os Natais eram passados lá mas não necessariamente todo o tempo, pois eu já tinha família e filhos. Mas sempre passávamos lá. Sempre. Não era uma obrigação, era uma tradição. Porém, tudo um dia acaba.

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