quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

FERROVIAS SUL-MINEIRAS

A estação de Furnas, da linha Soledade-Barra do Piraí, foi fotografada por mim em 2003. Hoje não passa de um prédio mal-cuidado jogada no mato. Perdeu sua função original e toda a infraestrutura para atender o transporte ferroviário.

Para se ter uma boa ideia do que se fez com as estradas de ferro no Brasil, basta dar um pulo na região de São Lourenço e Caxambu, em Minas Gerais. Eu já havia pesquisado as ferrovias e suas estações de longe, por livros e fotografias antes de ir lá pela primeira vez em julho de 2003.

Fui até lá com minha mãe e primos para assistir a uma homenagem que foi feita para a minha tia Lélia, falecida no ano anterior e que normalmente participava da banca do Congresso de Bioquímica, todos os anos realizado em Caxambu.

Fiquei lá três dias. Durante boa parte desse tempo resolvi rodar pela região. Havia, saindo ou chegando a Soledade de Minas, pequena cidade próxima tanto a Caxambu quanto a São Lourenço, quatro linhas de trem e partindo de uma delas mais um ramal, o ramal de Campanha. Em Soledade cruzavam-se as linhas que vinha de Cruzeiro e seguia dali para Varginha e Muzambinho e a que vinha de Barra do Piraí e seguia para Itapira, em São Paulo. Essas linhas e o ramal de Campanha haviam pertencido a diversas ferrovias, que nos anos 1930 foram fundidas na Rede Mineira de Viação.

Todas foram exterminadas. A que liga Cruzeiro, Soledade e Varginha ainda mantém seus trilhos abandonados no mato. Um pequeno trecho dela (Três Corações a Varginha) ainda tem tráfego de cargueiros, que segue além de Três Corações para o porto de Angra dos Reis. De Soledade a São Lourenço – trecho curtíssimo – há um trem turístico semanal da ABPF e de Passa-Quatro ao túnel de divisa Minas-São Paulo há outro, também num trecho muito curto. Todos os trechos não citados foram arrancados. Como trens de carga não exigem estações para nada e trens turísticos não precisam dela para muita coisa, há uma quantidade muito grande de estações no meio do mato e de cidades naquela região, boa parte abandonada ou sendo utilizada geralmente como moradia.

Para qualquer ponto cardeal que v. se dirige, você as encontra. A conclusão é que os quilômetros de trilhos que se irradiam de Soledade como uma aranha representam um desperdício de dinheiro enorme por terem sido arrancados ou por não estarem sendo usados (com exceção dos pequenos trechos citados), sem contar toda a infraestrutura de apoio ao tráfego ferroviário (estações, armazéns, casas ferroviárias, depósitos, oficinas etc.).

Ah, mas diremos: “estava tudo obsoleto, mesmo em 1960-70 quando tudo isso parou, os trens demoravam muito, tinha ônibus já para todo lugar...”. E alguns responderão: “é, mas se o governo, dono das ferrovias, tivesse respeito pelos cidadãos do País, teria modernizado as linhas, com trens novos e que seriam uma excelente alternativa para as linhas de ônibus e as péssimas estradas que existem nessa região”.

Mas não. Ele extinguiu os trens, as estradas continuam ruins, os ônibus têm o monopólio e prestam um serviço não mais do que razoável, quando isso... e assim vai. E não digam que parte da linha está sendo usada por trens turísticos, mas trem turístico (principalmente com locomotivas a vapor) não é transporte, é diversão.

5 comentários:

  1. Conheço bem essa região, estive diversas vezes visitando as estações ferroviárias dessa região belíssima do sul de minas... inclusive o Túnel da Mantiqueira (Palco das Batalhas da Revolução de 1932- também esquecido).

    Vc conversa com a população que viveu a época dos trens (que circularam até meados de 1980) e eles quase choram, tamanho crime cometido.

    Nessa celeuma vem o Sr. Prefeito de Jacareí e diz que vai a Brasília defender estação do trem bala na cidade !!!!
    Pra que??? para ele mandar arrancar os trilhos na primeira oportunidade como fez com a Central??

    A estação tem que ser em Cruzeiro para a integração com o Sul de Minas!!!!

    ResponderExcluir
  2. É, v. está traumatizado com a retirada dos trilhos de Jacareí... eu também achei um absurdo. Agora, São José dos Campos também os retirou (mas ainda tem a variante). Enfim, trem para prefeito não é bom nem quando anda, pois quando anda cruza a cidade e "atrapalha o desenvolvimento"... a cegueira é total.

    ResponderExcluir
  3. Caríssimo Ralph,

    realmente é traumatizante assistir "in-loco" este tipo de evento. Aqui em Mogi das Cruzes, onde moro, quase fizeram o mesmo!!!! Alguns incautos cairam no canto da sereia de se substituir os centenários subúrbios (trens metropolitanos) por VLTs. Por sorte um dos jornais da cidade "comprou a briga" e a população acordou e exigiu a manutenção do bom e velho trem compromessa de up-grade para o trem espanhol.

    ResponderExcluir
  4. É, na história dos VLTs de Mogi eu me meti. Um jornal me convidou para dar uma opinião e eu fui contra os VLTs. Não por que eu não goste deles, mas, diabos, se a cidade já tem um trem, para que trocar por um sistema de VLTs? Não fazia sentido, mesmo que seja verdadae que a demanda após Suzano é baixa. Ora, é baixa em outros motivos por que o trem tem baldeação em Guaianazes. Tire a bakdeação e ela melhora. Mesmo assim, não entendo como um sujeito que mora em Mogi possa preferir vir de carro ou onibus para São Paulo. É muuuuito mais demorado.

    ResponderExcluir
  5. Trens e Minas fazem uma fusão tão feliz quanto goiabada com queijo.
    Como mineiro (de Juiz de Fora) fico triste em ver a malha ferroviária do estado diminuir com o passar do tempo, principalmente no sul de Minas, que na minha opinião é a região mais charmosa do estado.
    É a essência de um povo diminuindo pelo descaso!

    ResponderExcluir