domingo, 20 de dezembro de 2009

O ÚLTIMO TREM PARA CASA BRANCA

Em 1966, as pessoas posam antes da partida do último trem de passageiros que sairia de Mococa. Destino: Casa Branca. Acervo Lauro Dangelo

O trem se foi, e não voltará nunca mais. Como deve ter sido esta sensação, que ocorreu muitíssimas vezes e foi presenciada por inúmeras pessoas em diferentes lugares? A fotografia acima, tirada, segundo as informações, exatamente no último dia de circulação do trem em Mococa, com certeza foi uma das vezes onde isto aconteceu.

Muito provavelmente, a maior parte das pessoas presentes na fotografia ainda usava o trem, ou pelo menos o havia usado algumas vezes. O ano era 1966, e, nessa época, despedidas de trens eram comuns no País inteiro. O que sentiriam essas pessoas?

Algumas eram empregadas da ferrovia — foram transferidas para outras estações ou setores, na maior parte das vezes. As ferrovias ainda se preocupavam em não deixar velhos funcionários desempregados. Outros, a maioria talvez, eram usuários da linha. Uma parte também certamente gostava de visitas à estação por várias vezes só para ver trens manobrar, fossem cargueiros, fossem de passageiros.

Como estas pessoas se sentiram naquele momento em que estavam posando para o fotógrafo, que nesse dia resolveu gravar aquele triste momento para sempre? Uma sensação de perda? Ou de saudade? Quando a locomotiva diesel ligou os motores e quando pouco depois desatou a andar devagarinho, provavelmente buzinando (locomotiva diesel não apita, buzina).

Boa parte das pessoas que posaram nessa foto e nas outras tiradas com um intervalo pequeno na mesma oportunidade devem ainda estar vivas. Como será que hoje elas se lembram desse momento? Terão elas realmente saudades dessa época? Sentiam elas que esse momento iria se repetir, ou já havia se repetido em outros pontos, até um instante em que ninguém mais se preocuparia com a despedida do trem, como efetivamente viria a acontecer?

Enquanto nos anos 1960 diversas “últimas viagens” foram fotografadas e até filmadas, já nos anos 1970 nem tantas. Nos anos 1980, então, quase não há registros. Já nos anos 1990, há registros jornalísticos de alguns dos últimos trens. Os livros de história ferroviária e de história das cidades não registram nunca o último trem que de lá saiu. Nem falam que o trem acabou. Dizem que “um dia houve trem”, e falam das festas de sua implantação. Ou seja: ele foi um fator importante quando chegou, mas totalmente desprezível quando se foi. As pessoas já tomavam ônibus, já tinham carro, já preferiam assistir televisão a ir à estação ver o trem manobrar.

A verdade é que os trens e as estações eram fatores de integração entre família e amigos. Com o seu fim, sobrou o entretenimento pela televisão e mais tarde pelos computadores. O trem era anacrônico, mas era-o apenas porque as empresas ferroviárias brasileiras não se preocuparam em renová-lo, cedendo a outras tentações e a outras alternativas de transporte e entretenimento que não se revelaram tão boas assim.

Somente quem mora hoje às margens da Vitória-Minas e da linha de Carajás ainda pode sentir um pouco a emoção de antes. Esperemos e torçamos para que jamais haja um fotógrafo chegando à estação para fotografar o que seriam seus últimos trens de passageiros.

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