Não conheço a cidade de Iguape, por mais estranho que possa parecer. Afinal, fica no Estado de São Paulo, não fica tão longe assim de onde moro (210 km)... mas, embora uma cidade claramente muito bonita pela arquitetura antiga — vi Iguape somente em fotografias —, jamais houve uma oportunidade para visitá-la.
Meu pai, que passeava conosco de carro pelo Brasil afora nos anos 1960, nunca foi a Iguape. É bem verdade que me lembro de ter perguntado a ele por que não íamos lá. Afinal, era praia! Ao que me pai respondia: “a estrada é muito ruim, é de terra...” E parece que era mesmo. A volta também era grande em relação às praias que frequentávamos, como Santos, Praia Grande e Itanhaém. Não era somente continuar acompanhando a praia para o sul. Tínhamos de ir de Peruíbe à BR-116, num acesso ruim e o pesadelo que sempre foi esta última. Dali, na altura do vale do Ribeira, tínhamos de pegar a tal estrada de terra e seguir de volta para o litoral.
Enfim, jamais fui. Pretendo um dia ir, mas ainda não tenho nenhuma perspectiva. Na semana passada o Estadão publicou uma reportagem sobre a cidade. Como sempre, belas fotos de casas antigas e da sua Basílica do Senhor Bom Jesus de Iguape, construída em 1782 com duas torres. No aniversário da cidade, que fez 471 anos (é mais velha que a Capital), o IPHAN a declarou Patrimônio Cultural do Brasil, da mesma forma que o fez com Paranaguá, do entorno ferroviário da estação de Campo Grande, MS, e do toque dos sinos da Igreja de São João Del Rey. Afinal, Iguape tem o maior conjunto de construções do período colonial de São Paulo.
Dez anos antes, no entanto, o mesmo jornal publicava que Iguape estava em perigo, com várias casas com risco de cair por falta de manutenção. Nos dez anos que se seguiram, isto terá mudado? Não vi nada nesse sentido sendo escrito na reportagem da semana passada.
Iguape já foi porto importante. Porém, sendo também o local da foz do rio Ribeira de Iguape, que fazia com que a cidade tivesse há 200 anos na realidade dois portos: um fluvial e outro marítimo. A cidade era rica. No entanto, resolveram, por volta de 1825, construir um valo para unir os dois portos. A intervenção humana foi catastrófica. No início um escoadouro de pouco mais de 4 metros de largura, a força das águas corroeu as margens arenosas. Quarteirões inteiros e o cemitério foram destruídos. Os ricos foram embora da cidade. O porto, assoreado, foi fechado pois não conseguiam mais usá-lo. Em 1879, pedia-se pelo amor de Deus ao Imperador o fechamento do valo.
Meu avô Sud escreveu vários artigos sobre o problema nos anos 1930. No entanto, o fechamento com pedras, depois de décadas de discussão, veio cem anos depois, mas não durou nem dez anos. Aí resolveram fazer uma barragem com comportas que regulariam o curso do rio Ribeira. A obra parou em 1992 por falta de verbas. Em 2001 ainda estava parada.
No meio da história, projetou-se em 1943 a primeira fábrica de cloro e soda no Brasil ali na cidade. Ficou somente no projeto, embora a quantidade de sal marinho nas salinas da cidade fosse grande. Hoje existe uma série dessas fábricas no Brasil, mas em outros pontos bem longe da cidade. Entretanto, o turismo hoje já é uma renda importante na velha cidade. A própria decadência e estagnação da cidade causada pelo problema do porto acabaram levando ao isolamento e, como consequência, à conservação de seu casario — não necessariamente uma boa conservação, mas eles estão lá.
Meu pai, que passeava conosco de carro pelo Brasil afora nos anos 1960, nunca foi a Iguape. É bem verdade que me lembro de ter perguntado a ele por que não íamos lá. Afinal, era praia! Ao que me pai respondia: “a estrada é muito ruim, é de terra...” E parece que era mesmo. A volta também era grande em relação às praias que frequentávamos, como Santos, Praia Grande e Itanhaém. Não era somente continuar acompanhando a praia para o sul. Tínhamos de ir de Peruíbe à BR-116, num acesso ruim e o pesadelo que sempre foi esta última. Dali, na altura do vale do Ribeira, tínhamos de pegar a tal estrada de terra e seguir de volta para o litoral.
Enfim, jamais fui. Pretendo um dia ir, mas ainda não tenho nenhuma perspectiva. Na semana passada o Estadão publicou uma reportagem sobre a cidade. Como sempre, belas fotos de casas antigas e da sua Basílica do Senhor Bom Jesus de Iguape, construída em 1782 com duas torres. No aniversário da cidade, que fez 471 anos (é mais velha que a Capital), o IPHAN a declarou Patrimônio Cultural do Brasil, da mesma forma que o fez com Paranaguá, do entorno ferroviário da estação de Campo Grande, MS, e do toque dos sinos da Igreja de São João Del Rey. Afinal, Iguape tem o maior conjunto de construções do período colonial de São Paulo.
Dez anos antes, no entanto, o mesmo jornal publicava que Iguape estava em perigo, com várias casas com risco de cair por falta de manutenção. Nos dez anos que se seguiram, isto terá mudado? Não vi nada nesse sentido sendo escrito na reportagem da semana passada.
Iguape já foi porto importante. Porém, sendo também o local da foz do rio Ribeira de Iguape, que fazia com que a cidade tivesse há 200 anos na realidade dois portos: um fluvial e outro marítimo. A cidade era rica. No entanto, resolveram, por volta de 1825, construir um valo para unir os dois portos. A intervenção humana foi catastrófica. No início um escoadouro de pouco mais de 4 metros de largura, a força das águas corroeu as margens arenosas. Quarteirões inteiros e o cemitério foram destruídos. Os ricos foram embora da cidade. O porto, assoreado, foi fechado pois não conseguiam mais usá-lo. Em 1879, pedia-se pelo amor de Deus ao Imperador o fechamento do valo.
Meu avô Sud escreveu vários artigos sobre o problema nos anos 1930. No entanto, o fechamento com pedras, depois de décadas de discussão, veio cem anos depois, mas não durou nem dez anos. Aí resolveram fazer uma barragem com comportas que regulariam o curso do rio Ribeira. A obra parou em 1992 por falta de verbas. Em 2001 ainda estava parada.
No meio da história, projetou-se em 1943 a primeira fábrica de cloro e soda no Brasil ali na cidade. Ficou somente no projeto, embora a quantidade de sal marinho nas salinas da cidade fosse grande. Hoje existe uma série dessas fábricas no Brasil, mas em outros pontos bem longe da cidade. Entretanto, o turismo hoje já é uma renda importante na velha cidade. A própria decadência e estagnação da cidade causada pelo problema do porto acabaram levando ao isolamento e, como consequência, à conservação de seu casario — não necessariamente uma boa conservação, mas eles estão lá.
É uma bela cidade Ralph! Aproveite, sei que vai apreciar muito! (só faltam alguns trilhos pra ficar melhor)
ResponderExcluirOlá Sr. Ralph, boa noite.
ResponderExcluirEu era pequeno nos anos 70, mas lembro-me de ter ouvido qualquer coisa no sentido de construir-se uma usina atômica por lá, na mesma época de Angra (acho que no governo Geisel). Ou teria sido Iperó? De qualquer forma, se tivesse acontecido, haveria o comprometimento desastroso para o valor histórico. Abçs.
É verdade, tenho aqui num quadro a capa da folha de São Paulo da data do meu nascimento e a manchete é essa
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirConheço a cidade bem, afinal nasci e vivi toda a minha adolescência lá. Sempre que posso passo uma temporada em Iguape. Nos últimos anos, no entanto, percebo que a cidade está abandonada pelos órgãos públicos, estes não são capazes de perceber a importância histórica da cidade, muito menos seu potencial turistico.
ResponderExcluirNa reportagem de 1991, é citado que as casas que estavam bem cuidadas estavam-no por iniciativa dos proprietários. O governo não estava cuidando de praticamente nada. Apesar disso, as pessoas vão a Iguape para admirar o casario, pois casarios antigos são bonitos quando bem cuidados e ironicamente são bonitos também mesmo em ruínas... veja Paranaguá, que não cuida de coisa alguma.
ResponderExcluirÉ interessante citar que o Rio Ribeira de Iguape é (ou era) o único Rio para embarcações de porte que permitia a entrada mar - interior do Estado de São Paulo. Com o valo, a navegação de porte foi impossibilitada em todo o rio e a região consagrou-se como a mais pobre do Estado. Moro em Registro atualmente.
ResponderExcluir