Tenho lido na imprensa, nos últimos 45 dias, a discussão sobre se retirar ou não o trem da CPTM de Mogi das Cruzes. A ideia da CPTM é fazer o Expresso Leste seguir até Suzano e aí parar – hoje, ele para em Guaianazes. As estações seguintes, que são basicamente as de Mogi das Cruzes, inclusive a estação central – ficarão sem ele, mas ganhariam VLTs – os bondes modernos que já citei aqui em artigo anterior. A CPTM alega que não vale a pena continuar com o seu trem até Mogi, que não teria demanda suficiente para justificá-lo. Como não teria? O trem de subúrbio, que era o da Central, existe desde a estação Roosevelt até a Mogi das Cruzes desde 1914, e desde 1977 até uma estação além, a de Estudantes. E, se seguisse até pelo menos César de Souza, estação seguinte, ainda teria provavelmente um número significativo de passageiros.
Existem muitos pontos conflitantes aqui. Primeiro, a luta do Diário de Mogi, jornal frontalmente contra a retirada dos trens. Os trilhos nada sofreriam com isto, pois continuariam sendo o meio de passagem para os cargueiros da MRS que por ele passam todos os dias. Mas para que retirar os trens, se a estrada para São Paulo é extremamente extenuante para o mogiense que tem de se deslocar para lá ou mesmo para Suzano todos os dias a trabalho? Claro, uma parte apenas dos habitantes de lá vai para São Paulo, mas, como toda cidade próxima à Capital, muita gente vai para a capital resolver diversos assuntos. E o trem é uma excelente alternativa, pois evita a estrada cheia de curvas que passa pela Serra do Itaqui, que tem de ser tomada para se chegar até a Ayrton Senna – e, depois, ainda tem o eterno congestionamento da Marginal do Tietê. A alternativa rodoviária é a Estrada Velha Rio-São Paulo, cheia de lombadas e semáforos. Um martírio. E o mais importante: o trem já está lá!
Deviam, sim, era colocar VLTs, mas não para ligar Suzano ao centro de Mogi como substituto de um trem, mas sim como elo (s) entre as estações da cidade e bairros mais afastados e populosos. O que fez decair o número de passageiros que tomam o trem em Mogi, se é que isto realmente ocorreu, foi, sim, o abandono a que estiveram relegados por muitos anos os trens de subúrbio até a chegada da CPTM. Basta ler um trecho publicado sobre a cidade de Mogi das Cruzes na Revista Brasileira de Geografia na sua edição do 4º trimestre de 1960, p. 576: "No setor do transporte coletivo, a Central do Brasil, que conta com cinco estações dentro do município (em 1960), serve a um contingente apreciável de operários e estudantes que fazem o caminho Mogi das Cruzes-São Paulo, pagando Cr$ 3,00 para viajar nos demorados e malcheirosos carroções atados a mais de duas dezenas de trens suburbanos diários". A CPTM, mesmo operando as linhas há 15 anos, ainda relega em algumas delas trens antigos, como exatamente o que liga hoje Guaianases a Mogi. Com a chegada do Expresso Leste, um trem muito melhor e mais rápido, com pequeno número de paradas, isso se resolveria. O que se faria com as duas paradas intermediarias entre Suzano e Mogi, não sei – mas estas, sim, poderiam ter um VLT alternativo ligando-as a Suzano e Mogi, por exemplo.
O Brasil já sofreu demais com a retirada de trens de passageiros de longa e curta distância nos últimos 50 anos, até o seu quase completo desaparecimento. Cidades que já tiveram trens de subúrbio hoje não mais os têm, como Curitiba, Belo Horizonte (esta tem hoje um metrô, mas cobrindo uma área muito menor do que os trens anteriores), a região industrial de Salvador (Camaçari e Dias D’Ávila, que tiveram seus trens de subúrbio a partir de Salvador retirados nos anos 1980, justamente quando a demanda pelo polo petroquímico em termos de passageiros crescia muito rapidamente), Juiz de Fora, Vassouras, Bauru, Campinas (um VLT que foi abandonado depois de cinco anos de utilização nos anos 1990) e mais outras cujos nomes não me vêm à memória agora.
Pela notícia do Diário de Mogi publicada no último sábado, 4 de abril, parece que o governador teria mudado de ideia e deverá esticar o Expresso Leste para a cidade. Esperamos que seja verdade, ou Mogi vai aumentar a lista de cidades que já tiveram seu trem de subúrbio e viram-no sumir como fumaça. E que não caiam no conto do VLT. É muito possível que tirem o trem, prometam o VLT e este jamais saia. (Foto: Ralph M. Giesbrecht, 2005, em Mogi)
segunda-feira, 6 de abril de 2009
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Segundo a CPTM, a justificativa para levar o Expresso Leste apenas até Suzano é que Mogi das Cruzes não é mais uma "cidade-dormitório", e que a maioria das pessoas que utilizam o trem mora, trabalha e/ou estuda na própria cidade, e somente 5% dos mogianos vão até São Paulo, o que tornaria inviável o serviço até Mogi. Além disso, existem várias passagens de nível na cidade, e, para receber um serviço como o Expresso Leste, seria necessário eliminar tais passagens com a construção de pontes ou túneis. O trecho entre Suzano e Mogi viraria uma espécie de extensão operacional, com o uso de VLT's (Veículo Leve Sobre Trilhos).
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