Os jornais da região de Serrana (próxima a Ribeirão Preto, a leste) estão dizendo: “Trem turístico poderá ligar Serrana a Itaú de Minas”. E bastante otimistas. Será que esse pessoal sabe do que está falando? Querem “colocar em funcionamento um trem turístico chamado “Expresso Café com Leite”. O prefeito da cidade se encontrará esta semana com o empresário dono do Expresso Serra Verde para discutir o assunto. Este empresário, realmente, tem dois trens turísticos, um, bastante tradicional (o Curitiba-Paranaguá, que, de alguns tempos para cá, é apenas Curitiba-Morretes) e outro novo, o trem que leva da região de Ponta Grossa para Cascavel passageiros de fora do País, mas que na verdade inclui um pacote de uma semana de outras excursões não ferroviárias.
Basicamente o tal expresso deveria interligar Serrana a Itaú de Minas. Grosso modo, é a antiga São Paulo-Minas, ou, como se conhecia na região, o “Goiaba”, nome do trem que acabou em 1976 e de cuja menção provavelmente pouca gente se lembre hoje. A notícia afirma que “a composição terá sete vagões puxados por locomotiva a diesel, tendo como foco turistas e eventuais passageiros, devendo percorrer o trecho de 140 quilômetros em quatro horas, com paradas de dez minutos em cada estação. Em boa parte, por exemplo, próximo ao Distrito de Guardinha, os trilhos da extinta São Paulo e Minas, hoje pertencente a Ferrovia Centro Atlântica (FCA) – Vale do Rio Doce, foram furtados”. Aí começam os problemas: mais na frente, a FCA teria prometido emprestar máquinas e vagões. Está bem, seria uma forma de a concessionária deixar de pagar multas por ter a concessão e não usar o ramal, abandonado desde que a Fepasa foi entregue à RFFSA, em 1998 – e não, como o repórter escreve, “há três anos” somente. Está mal informado. Diz também que o Serra Verde inaugurou o expresso Pantanal no dia 8 de abril. Realmente, o Serra Verde terá a concessão desse trem na velha Noroeste, mas não inaugurou nada. Os carros do Expresso estão em Sorocaba há mais de um mês para ser reformados.
O sonho: “o projeto do Expresso Café com Leite já deu entrada no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes – DNIT –, em Brasília, com o pedido que aquele órgão proceda reparos na malha viária, implante a sinalização, rede elétrica, substituição de dormentes, trilhos, limpeza e conservação de trilhos”. O DNIT não vai fazer nada, muito menos eletrificar a linha, pois as locomotivas não serão, ué, a diesel? No máximo, vai aprovar algum projeto para que alguém a banque. Claro: “o custo do projeto não foi informado, mas de antemão o prefeito admite que o mesmo somente será viável com parcerias na iniciativa privada”. Claro. Resta saber quem terá peito para apostar em um trem desses, com 4 horas de viagem, sete estações, sem coisa alguma para apreciar e com cidades pequenas pelo caminho – apenas São Sebastião do Paraíso é um pouco maior, mas e daí? O que há para se ver nesse trecho? Há um carro restaurante previsto, mas depois de comer faz-se o quê? Dorme-se? Não vai ser fácil achar alguém para custear tudo isto e, principalmente, para manter tudo depois.
A pergunta: se tivessem mantido a linha nos últimos 15 anos, trilhos, pontes, estações, evitando roubos e furtos, não seria mais barato? Muito mais barato? Mais fácil? Quem responde? O Governo, claro. Mas ele não entende de ferrovias – nunca entendeu. Com raras exceções, onde pôs a mão, acabou com a operação. Houve exceções? Houve, mas poucas e por pouco tempo: a Sorocabana, nas mãos do Governo de São Paulo, deu-se relativamente bem de 1920 a 1960. Outro exemplo? Deem-me alguns dias para pensar.
Quanto ao histórico da linha que foi publicado, dizer simplesmente que os “ramais de Ribeirão Preto foram extintos no início da década de 1970” é fugir de um assunto delicadíssimo. Primeiro, porque o que foi extinto foi em 1968 e foi o ramal Bento Quirino-Serrinha, em Serrana, e não o (singular) ramal de Ribeirão Preto. Esse existe até hoje e teve trens de passageiros até 1976. Segundo, o binômio Laudo Natel-Bento Quirino é conhecido por todos em São Simão, e não são lembranças agradáveis.
Eu, particularmente, gostaria demais que esse trem efetivamente se tornasse uma realidade. Mas tudo indica que não passará de um sonho de uma noite de verão. Infelizmente.
terça-feira, 14 de abril de 2009
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Eu moro em Altinópolis-SP e a linha em referencia passa no municipio(trecho entre Serrana e Guardinha) e o que vemos aqui é uma empolgação muito grande do pessoal, mas concordo plenamente com vc sobre a questão de manter essa linha pois são cidades pequenas sem muito a oferecer, a unica cidade turistica que vc não se referenciou foi Altinópolis que prevalece o eco-turismo e o passeio em Hotel fazenda e ver alguns monumentos historicos, mas mesmo assim é muito pouco para manter uma linha de 140km, tambem soma o fato do turismos ser regional, ou seja, a maior parte dos turistas vem de Batatais, Ribeirão Preto, Franca entre outros de carro pois a linha não passa nesses.
ResponderExcluirAo meu ver a linha só funcionará em questão da estração de cargas pelo grupo votorantim, uma vez que os pedagios na região se multiplicam.