Foi-se o tempo em que os trens eram uma festa para as cidades. As crianças corriam ao longo dos trilhos à sua chegada. A plataforma se enchia de alegria, ansiedade e esperança. Eram entes queridos chegando, gente partindo, jornais sendo distribuídos, encomendas e mercadorias saindo. Os empregados da ferrovia caminhavam para cima e para baixo na estação, no armazém e no pátio. O telegrafista e o chefe da estação conversavam com o maquinista e com o agente do trem. Se houvesse sino na estação – muitas tinham – era hora de badalo. Chegavam também as cartas, recebidas na agência do correio, que em alguns casos era dentro da própria estação. Pobres e ricos embarcavam e desembarcavam. Tudo girava em torno da estação e das linhas bem cuidadas.
Hoje não é bem assim. Isso ainda existe, em parte, nas linhas da Vale, em Minas, Espírito Santo, Maranhão e Pará, e ainda no distante Amapá. Sem contar os trens turísticos e de subúrbios atuais, as linhas que transportam passageiros no Brasil são cerca de 5% do que eram em 1960, quando atingiram seu tamanho máximo, 30 mil quilômetros.
Apesar do pico ter sido em 1960, o transporte de passageiros já era decadente. A elite havia abandonado os trens no final da Segunda Guerra. O automóvel e a aviação civil, produtos caros, chegaram para ser utilizados pelos ricos. Com o sumiço deles das estações, as ferrovias foram abandonando o carinho pela manutenção destas, das linhas e dos carros de passageiros. O entorno urbano ao redor dos pátios ferroviários se deteriorou. Somente os mais necessitados continuam pegando o trem, mais baratos que os ônibus, estes cada vez em numero maior. Ferroviários são demitidos ou, quando aposentados, não têm substituição. A ferrovia não é mais responsável por um grande número de empregos na cidade, nem pela beleza de prédios das vilas ferroviárias e pátios da estação, que começam a se tornar ruínas.
Com isso, o trem passa de mensageiro da esperança a estorvo. Se antes ele matava algum familiar descuidado que andava pela linha, os cachorros e gatos de estimação menos espertos e o gado dos fazendeiros, tudo era perdoado pelo progresso que o trem significava para a cidade. O barulho e a fuligem das locomotivas a vapor e depois das diesel não era problema para ninguém. Mas hoje? Somente cargueiros cruzam as cidades buzinando e com locomotivas, às vezes mais de duas, puxando um interminável comboio de vagões de metal pichados e sujos se desconjuntando nas emendas dos trilhos.
A maior parte das pessoas não liga. Algumas crianças e adultos ainda gostam de vê-lo passar e até fazem festa, acenando para o maquinista. Conheço gente que acha uma dádiva morar ao lado da linha de trens metropolitanos ou mesmo em local de passagem de cargueiros. Adoram o ruído e as buzinas. Mas não é como antes. Bem longe disso, hoje há alguns neuróticos que querem porque querem que o trem não buzine nem faça barulho ao cruzar a cidade. Em alguns casos, pelo meio das ruas da cidade. Em Minas Gerais, isso é comum. Não sei por que é tão comum, já que em São Paulo não há nem nunca houve nenhuma cidade onde o trem passasse pela rua disputando espaço com automóveis, ônibus e caminhões. Em Pirassununga, por exemplo, a linha passava no centro de uma avenida, num canteiro central em desnível com o leito da rua. Mas em Minas, em cidades como Além Paraíba e Cataguases, os cargueiros da FCA passam no meio de ruas largas e estreitas. É até atração turística, mas há gente que reclama.
Recebi de uma pessoa que não conheço um vídeo sobre o trem passando dentro de Cataguases, em que a pessoa que enviou colocou frases no filme: enquanto o trem passa pela rua, ele xinga as autoridades que permitem esse barulho, principalmente da buzina do trem (por lei, ele é obrigado a buzinar em trechos como esse). Porém, as pessoas que estão andando em volta pouco se importam. Parece que só ele. Coitado. Perdeu de vez o romantismo. Irrita-se por algo que não tem tanto sentido. Mas é um direito dele. Assim como também é um direito dele mudar-se da cidade, já que o trem está passando por ali há muito mais tempo – precisamente, desde 1875.
Hoje não é bem assim. Isso ainda existe, em parte, nas linhas da Vale, em Minas, Espírito Santo, Maranhão e Pará, e ainda no distante Amapá. Sem contar os trens turísticos e de subúrbios atuais, as linhas que transportam passageiros no Brasil são cerca de 5% do que eram em 1960, quando atingiram seu tamanho máximo, 30 mil quilômetros.
Apesar do pico ter sido em 1960, o transporte de passageiros já era decadente. A elite havia abandonado os trens no final da Segunda Guerra. O automóvel e a aviação civil, produtos caros, chegaram para ser utilizados pelos ricos. Com o sumiço deles das estações, as ferrovias foram abandonando o carinho pela manutenção destas, das linhas e dos carros de passageiros. O entorno urbano ao redor dos pátios ferroviários se deteriorou. Somente os mais necessitados continuam pegando o trem, mais baratos que os ônibus, estes cada vez em numero maior. Ferroviários são demitidos ou, quando aposentados, não têm substituição. A ferrovia não é mais responsável por um grande número de empregos na cidade, nem pela beleza de prédios das vilas ferroviárias e pátios da estação, que começam a se tornar ruínas.
Com isso, o trem passa de mensageiro da esperança a estorvo. Se antes ele matava algum familiar descuidado que andava pela linha, os cachorros e gatos de estimação menos espertos e o gado dos fazendeiros, tudo era perdoado pelo progresso que o trem significava para a cidade. O barulho e a fuligem das locomotivas a vapor e depois das diesel não era problema para ninguém. Mas hoje? Somente cargueiros cruzam as cidades buzinando e com locomotivas, às vezes mais de duas, puxando um interminável comboio de vagões de metal pichados e sujos se desconjuntando nas emendas dos trilhos.
A maior parte das pessoas não liga. Algumas crianças e adultos ainda gostam de vê-lo passar e até fazem festa, acenando para o maquinista. Conheço gente que acha uma dádiva morar ao lado da linha de trens metropolitanos ou mesmo em local de passagem de cargueiros. Adoram o ruído e as buzinas. Mas não é como antes. Bem longe disso, hoje há alguns neuróticos que querem porque querem que o trem não buzine nem faça barulho ao cruzar a cidade. Em alguns casos, pelo meio das ruas da cidade. Em Minas Gerais, isso é comum. Não sei por que é tão comum, já que em São Paulo não há nem nunca houve nenhuma cidade onde o trem passasse pela rua disputando espaço com automóveis, ônibus e caminhões. Em Pirassununga, por exemplo, a linha passava no centro de uma avenida, num canteiro central em desnível com o leito da rua. Mas em Minas, em cidades como Além Paraíba e Cataguases, os cargueiros da FCA passam no meio de ruas largas e estreitas. É até atração turística, mas há gente que reclama.
Recebi de uma pessoa que não conheço um vídeo sobre o trem passando dentro de Cataguases, em que a pessoa que enviou colocou frases no filme: enquanto o trem passa pela rua, ele xinga as autoridades que permitem esse barulho, principalmente da buzina do trem (por lei, ele é obrigado a buzinar em trechos como esse). Porém, as pessoas que estão andando em volta pouco se importam. Parece que só ele. Coitado. Perdeu de vez o romantismo. Irrita-se por algo que não tem tanto sentido. Mas é um direito dele. Assim como também é um direito dele mudar-se da cidade, já que o trem está passando por ali há muito mais tempo – precisamente, desde 1875.
Bem lembrado ... os incomodados que se mudem !
ResponderExcluirNo distrito de Muriqui (Mangaratiba-RJ) o trem passa no meio da cidade e as pessoas precisam esperá-lo passar para ter acesso à praia. No acesso à Ilha de Guaiba (terminal de minério da Vale), também no Rio, a praia é que invade o trilho do trem e os banhistas tem o privilégio de unir duas paisagens inusitadas.
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