ONDE ESTÁ JATAÍ?

Para quem não sabe – e muitíssima gente não sabe – existiu no Estado de São Paulo, até 1934, quando foi extinto, um município chamado Jataí. Descobri isso por total acidente, há alguns anos atrás, e não foi fácil descobrir onde era o dito cujo. Somente consegui inicialmente a informação de que ele ficava na região de Cruzeiro e de Cachoeira Paulista. Aos poucos, fui coletando informações, mas mesmo assim, até hoje, são bastante imprecisas. O município teria sido criado em 1881, separando-se do município de Lorena, no Vale do Paraíba. O povoado que deu origem ao bairro e depois município não era antigo e datava dos anos 1850. Somente para lembrar: a antiga vila nada tem a ver com a cidade de Luiz Antonio, localizada junto a São Simão, na média Mogiana, e que, até 1939, chamava-se também Jataí (mas não era município, então).

Com a decadência do Vale do Paraíba devido à extinção do plantio do café, no final do século 19, os municípios todos perderam em importância, mas alguns foram bem mais afetados. Jataí foi um dos que mais perdeu renda. Paralelamente a isto, criava-se ali a devoção à Santa Cabeça, ou melhor, a Nossa Senhora da Santa Cabeça. Uma igreja foi erigida a uma cabeça de santa encontrada, segundo dizem, no rio Tietê, anos antes, e acabou sendo entregue a um cidadão que morava na região de Silveiras, município que era limítrofe a Jataí. Em 1934, com devoção e tudo, o município foi extinto, na grande redivisão de municípios e distritos paulistas feita nesse ano. Foi nessa redivisão que municípios como Santo Amaro e Araçariguama foram extintos e incorporados a São Paulo e São Roque respectivamente. Também nesse ano Parnaíba, atual Santana de Parnaíba, perdeu toda a área que hoje corresponde a metade da área total dos municípios de Caieiras e Franco da Rocha, a oeste da linha da Santos-Jundiaí. E foi nesse ano que Jataí desapareceu e caiu no esquecimento, ao contrário dos outros citados acima. Na época, existiam três comunidades dentro do município, então incorporado a Cachoeira: Sapé, Santa Cabeça e Jataí. Sem ferrovia próxima à sede (condição praticamente sine qua non para a comissão que fez o estudo da redivisão), sem renda e população mínima para os padrões estabelecidos, o município foi extinto.

Fui atrás do local onde teria sido a sede da vila — Jataí jamais chegou a ser cidade, apenas vila (até 1934, os municípios ou eram cidades ou eram vilas; era mais uma questão de status e de numero de vereadores do que outra coisa) — e encontrei o local chamado Sapé, pequeníssimo, meia dúzia de construções, se tanto, chamado pelos locais tanto por este nome quanto pelo de Jataí. Se notarmos no final do último parágrafo, leremos que os dois teriam sido locais diferentes. De qualquer forma, ali há uma igreja, pequena para ter sido a igreja matriz de um município, e uma pequena escola, à beira da estrada, datada de 1894. Muito estranho. Uma foto antiga encontrada em uma pesquisa mostra uma igreja matriz bem diferente, de qualquer forma, da que encontrei. E maior.

Enfim, ainda haverá, para o curioso aqui, muita pesquisa até se chegar a algum ponto concreto de onde foi Jataí e o que representou para o estado. Mais uma curiosidade, para encerrar: no “Almanak da Província de São Paulo” de 1887, não existia nenhuma referência ao município de Jataí. E devia: diz-se que ele foi criado em 1881. Também não existe nenhuma citação a ele ainda como parte do município de Lorena. Mistério!