Ontem um amigo mandou, através de uma das inúmeras listas de discussão sobre ferrovias que existem na Internet, algumas fotos interessantes, tipo “antes e depois”. Aliás, é incrível como existem essas listas, e frequentadas não somente por saudosistas e memorialistas como eu, mas também por jovens que adoram fotografar os enormes comboios com mais de 100 vagões que trafegam por aí, puxados por até seis locomotivas a diesel.
Voltando ao caso das fotos interessantes: elas mostravam um TUE – Trem Unidade Elétrico, para quem não conhece o termo. São dele as fotos que estão acima: as coloridas de autoria de Marcelo Almirante e a preto-e-branco do acervo da FGV. E esse foi o primeiro deles que andou pela linha eletrificada da Central do Brasil no Rio de Janeiro, mais precisamente entre as estações de Dom Pedro II (hoje Estação Central) e a de Madureira. Mesmo que v. jamais tenha andado em um, você provavelmente já os viu, principalmente se v. mora na região da Grande São Paulo que tem linhas férreas: são os que trafegam, com 4 ou mais carros (cuidado! Nos trens, carros transportam passageiros, vagões transportam cargas, mas parece que ninguém sabe disso, só os chatos!), puxados por um deles que tem um pantógrafo que os liga aos cabos aéreos de eletricidade. Com a diferença de que muitos deles são bem mais modernos (mas há alguns deles que são de 1957 e seguem rodando na CPTM e em Salvador).
Muitos de nós, preservacionistas, recriminamos o fato de muitos carros como estes estarem abandonados por aí. Na verdade, muitos deles já viraram sucata há muito tempo, bem como inúmeras locomotivas a vapor, diesel e elétricas que rodaram pelo Brasil todo. Afinal, seria impossível e nem seria uma necessidade preservar-se tudo o que foi material. Entretanto, defende-se que pelo menos um carro, vagão ou locomotiva de cada tipo deveria ter sido preservado. No processo de preservação, entretanto, entram vários fatores: sorte (a máquina ou carro estava meio escondida ou esquecida num canto escuro até que algum interessado de fora a achou e a pediu para seu uso e gozo); política bem feita (o sujeito que a conseguiu era amigo de alguém influente na ferrovia); burocracia (nem preciso explicar); e finalmente real interesse (de ambas as partes).
Porém, há determinados itens que deveriam realmente ser preservados. A eletrificação da Central no Rio de Janeiro não foi a primeira de uma ferrovia no Brasil, mas foi a primeira que serviu (entre outros usos) para tracionar trens elétricos no sistema de subúrbios no País. Os que vieram depois – Sorocabana, Rede Mineira, Santos-Jundiaí – demoraram pelo menos mais oito anos para ser instalados. A Paulista não tinha subúrbios, embora tenha sido a primeira grande ferrovia a ter a eletrificação em suas linhas: em 1928, todo o trecho de 286 km entre Jundiaí a Rincão estava sendo utilizado por locomotivas elétricas puxando trens de passageiros de longo percurso e cargueiros. Portanto, esse TUE – eram 3 carros em cada comboio de subúrbios em 1937 – deveria realmente ter sido mantido, senão em condições de uso, pelo menos dentro de um museu onde pudesse ser admirado pelos interessados no assunto. Em vez disso, estavam, em 2005, à beira do sucateamento. Não sei como estarão hoje. Aliás, nem sei onde estão – se tivesse de dar um “chute”, diria que estão na estação de Barão de Mauá da antiga Leopoldina, no centro do Rio de Janeiro.
Na verdade, os museus ferroviários existentes no Brasil são muito poucos – o melhor, mais bem cuidado, que conheço está em Curitiba, mas é pequeno e não tem material rodante –, sem nenhuma locomotiva ou carro ou vagão exposto. No Engenho de Dentro, Rio de Janeiro, existe um, mas, com a construção do estádio Engenhão em boa parte de sua área externa (onde eram as oficinas da Central do Brasil), seu espaço para esse material minguou bastante. O que estava lá em volta – nada bem cuidado – foi transferido para a Barão de Mauá – e continua nada bem cuidado. Em São Paulo não há museu. Em Jundiaí, há, mas as locomotivas importantíssimas em termos de memória — V-8, russa, a locomotiva a vapor número 1 da Paulista (de 1872!) — que eles possuem estão jogadas às traças, ou a céu aberto ou em barracões imundos onde até chove dentro. Também existe um no Recife – não conheço, mas as informações que recebo sobre ele afirmam que a área não é grande e a manutenção é deficiente.
Existe ainda uma infinidade de pequeninos museus ferroviários em diversas cidades do Brasil, o que pouco representa para uma história nacional – embora em termos regionais sejam válidos. O acervo da ABPF – Associação Brasileira de Preservação Ferroviária – espalhado por Campinas, São Paulo, Jaguariúna, Rio Negrinho e Piratuba (Santa Catarina), além de cidades mineiras, é excelente, mas parte do material aguarda verba para reforma. Neste caso, pelo menos, está tudo protegido das intempéries. Existem ainda os museus de São João del Rey e de Ouro Preto – estarei esquecendo algum? Estes, como a ABPF, têm como prioridade o uso do material para transporte turístico, não são estacionários. Por outro lado, há muitas locomotivas e carros expostos em praças sofrendo toda ação de intempérie e vandalismos.
Voltando ao caso das fotos interessantes: elas mostravam um TUE – Trem Unidade Elétrico, para quem não conhece o termo. São dele as fotos que estão acima: as coloridas de autoria de Marcelo Almirante e a preto-e-branco do acervo da FGV. E esse foi o primeiro deles que andou pela linha eletrificada da Central do Brasil no Rio de Janeiro, mais precisamente entre as estações de Dom Pedro II (hoje Estação Central) e a de Madureira. Mesmo que v. jamais tenha andado em um, você provavelmente já os viu, principalmente se v. mora na região da Grande São Paulo que tem linhas férreas: são os que trafegam, com 4 ou mais carros (cuidado! Nos trens, carros transportam passageiros, vagões transportam cargas, mas parece que ninguém sabe disso, só os chatos!), puxados por um deles que tem um pantógrafo que os liga aos cabos aéreos de eletricidade. Com a diferença de que muitos deles são bem mais modernos (mas há alguns deles que são de 1957 e seguem rodando na CPTM e em Salvador).
Muitos de nós, preservacionistas, recriminamos o fato de muitos carros como estes estarem abandonados por aí. Na verdade, muitos deles já viraram sucata há muito tempo, bem como inúmeras locomotivas a vapor, diesel e elétricas que rodaram pelo Brasil todo. Afinal, seria impossível e nem seria uma necessidade preservar-se tudo o que foi material. Entretanto, defende-se que pelo menos um carro, vagão ou locomotiva de cada tipo deveria ter sido preservado. No processo de preservação, entretanto, entram vários fatores: sorte (a máquina ou carro estava meio escondida ou esquecida num canto escuro até que algum interessado de fora a achou e a pediu para seu uso e gozo); política bem feita (o sujeito que a conseguiu era amigo de alguém influente na ferrovia); burocracia (nem preciso explicar); e finalmente real interesse (de ambas as partes).
Porém, há determinados itens que deveriam realmente ser preservados. A eletrificação da Central no Rio de Janeiro não foi a primeira de uma ferrovia no Brasil, mas foi a primeira que serviu (entre outros usos) para tracionar trens elétricos no sistema de subúrbios no País. Os que vieram depois – Sorocabana, Rede Mineira, Santos-Jundiaí – demoraram pelo menos mais oito anos para ser instalados. A Paulista não tinha subúrbios, embora tenha sido a primeira grande ferrovia a ter a eletrificação em suas linhas: em 1928, todo o trecho de 286 km entre Jundiaí a Rincão estava sendo utilizado por locomotivas elétricas puxando trens de passageiros de longo percurso e cargueiros. Portanto, esse TUE – eram 3 carros em cada comboio de subúrbios em 1937 – deveria realmente ter sido mantido, senão em condições de uso, pelo menos dentro de um museu onde pudesse ser admirado pelos interessados no assunto. Em vez disso, estavam, em 2005, à beira do sucateamento. Não sei como estarão hoje. Aliás, nem sei onde estão – se tivesse de dar um “chute”, diria que estão na estação de Barão de Mauá da antiga Leopoldina, no centro do Rio de Janeiro.
Na verdade, os museus ferroviários existentes no Brasil são muito poucos – o melhor, mais bem cuidado, que conheço está em Curitiba, mas é pequeno e não tem material rodante –, sem nenhuma locomotiva ou carro ou vagão exposto. No Engenho de Dentro, Rio de Janeiro, existe um, mas, com a construção do estádio Engenhão em boa parte de sua área externa (onde eram as oficinas da Central do Brasil), seu espaço para esse material minguou bastante. O que estava lá em volta – nada bem cuidado – foi transferido para a Barão de Mauá – e continua nada bem cuidado. Em São Paulo não há museu. Em Jundiaí, há, mas as locomotivas importantíssimas em termos de memória — V-8, russa, a locomotiva a vapor número 1 da Paulista (de 1872!) — que eles possuem estão jogadas às traças, ou a céu aberto ou em barracões imundos onde até chove dentro. Também existe um no Recife – não conheço, mas as informações que recebo sobre ele afirmam que a área não é grande e a manutenção é deficiente.
Existe ainda uma infinidade de pequeninos museus ferroviários em diversas cidades do Brasil, o que pouco representa para uma história nacional – embora em termos regionais sejam válidos. O acervo da ABPF – Associação Brasileira de Preservação Ferroviária – espalhado por Campinas, São Paulo, Jaguariúna, Rio Negrinho e Piratuba (Santa Catarina), além de cidades mineiras, é excelente, mas parte do material aguarda verba para reforma. Neste caso, pelo menos, está tudo protegido das intempéries. Existem ainda os museus de São João del Rey e de Ouro Preto – estarei esquecendo algum? Estes, como a ABPF, têm como prioridade o uso do material para transporte turístico, não são estacionários. Por outro lado, há muitas locomotivas e carros expostos em praças sofrendo toda ação de intempérie e vandalismos.
Enfim, será que não há lugar em algum deles para se conservar o TUE número 1 da Central? Não há nenhum interessado sério nele? Ou há, mas não se consegue o seu resgate por motivos políticos ou burocráticos? A cada dia que passa, sua recuperação torna-se mais difícil e cara.
Interessante como esses TUE's foram espalhados Brasil afora conforme foram sendo desativados.
ResponderExcluirA grande maioria deles foram transformados em carros de serviço (SOS e Via permanente).
Há alguns no Rio Grande do sul (inclusive dois deles transformados em manutenção de rede aérea pela Transurb), e muitos com a mesma finalidade (rede aérea), rodando na CPTM.
Não é difícil encontrar carros reboques desses TUE's perdidos por MG , SP e RJ. Tempos atrás, dois deles ganharam até uma pintura azul da MRS.
Existem dois em Paranapiacaba e em Campo Grande (pátio EFSJ)
Fui na estação da Leopoldina semana passada e realmente a situação é calamitosa ... soube que algumas das locomotivas e carros que se encontram nestas plataformas estavam no Engenho de Dentro e foram resgatadas antes que virassem sucata, sendo que as pesssoas que as slavaram ainda estão tomando processo por isso ! Entrei em alguns carros, inclusive deste TUE e dá vontade de chorar, tudo está se acabando, inclusive trens novos, como o que seria utilizado para retornar ao percurso do "Barrinha", que já foi inclusive, grafitado em uma das laterais (uma pena) ... este trem está paradao lá desde 2005 !
ResponderExcluirEduardo: se fosse uma situação isolada, mas esse tipo de abandono existe em todo o Páis, sendo não só uma perda de memoria historica, mas tambem dinheiro jogado pelo ralo. Para resolver isto, somente dando poder a alguem que tivesse peito para acabar com tudo isto. Mas isso e acreditar em Papai Noel é a mesma coisa.
ResponderExcluirEm 2009 o tue 100 sfreu mais um golpe. Além das pequenas peças que estão sendo furtadas o trem foi travestido de trem da índia pela tv globo, perdendo sua pintura original.
ResponderExcluirEsse TUE foi reformado pela CBTU em 1987, com suas características originais (exceto os truques) para preservação e comemorar o fim da operação comercial dos TUE série 100, fazendo uma ultima viagem entre d.pedro II e Deodoro, sendo depois recolhido e abandonado em Engenho de Dentro.
o primeiros tue foi os da SPRailway
ResponderExcluiro Gualixo
Estrela
Cometa
Planeta
Não, Eduardo, não foram. Eles chegaram em 1933, mas não eram TUEs e sim TUDs - Rens Unidades Diesel.
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