Não pode haver nada mais poético do que uma velha estaçãozinha de trem abandonada no meio do mato. Quantas histórias não podem elas nos contar? Existem várias pelo interior afora: uma delas se chama Elihu Root. Está lá, perto de Araras, em ruínas e com o mato crescendo a seu redor. Conheci-a há treze anos atrás. Quem vinha de trem para Santa Cruz das Palmeiras, de São Paulo, obrigatoriamente passava por ela. Com o nome de Guabiroba, ela foi inaugurada em 1877, e em 1891, foi construído o prédio que hoje lá está. Fiquei sabendo que o seu nome atual veio de um secretário de Estado norte-americano, durante o governo de Theodore Roosevelt, na primeira década deste século. Em meados de 1906, ele veio presidir a Conferência Pan-Americana no Rio de Janeiro, e, ao fim desta, foi-lhe oferecida uma visita a uma fazenda de café, e a escolhida foi a Fazenda Santa Cruz. Ele, então, embarcou para Santos num navio, e ali tomou um trem que seguiu diretamente a Guabiroba, onde desceu e tomou um cabriolet até a fazenda. Na sua volta, Elihu Root ainda parou na estação de Americana, então ainda um lugarejo sem energia elétrica, e na estação foi recebido por centenas de americanos que para lá haviam emigrado quarenta anos antes, fugindo do Sul destruído pela Guerra da Secessão. Eles o receberam com tochas, que, na noite escura, davam uma visão realmente impressionante. Mr. Root se emocionou até as lágrimas com tal recepção. Com todas essas aventuras vividas por ele, numa época em que americanos ilustres eram uma raridade em nosso país, a Companhia Paulista de Estradas de Ferro, que havia patrocinado a viagem à fazenda, houve por bem homenagear tão ilustre visitante, trocando imediatamente o nome de Guabiroba para o dele. Mr. Root lembrou-se dessa visita até sua morte, em 1937. A pequena e bela estação sobreviveu até 16 de fevereiro de 1977, quando o último trem, já da Fepasa, deixou e recolheu os últimos passageiros. Nesse dia, a estação de Elihu Root morreu. Hoje, trinta e dois anos depois, somente seu esqueleto ainda está em pé.
Doze anos atrás. Eu queria saber mais sobre a estaçãozinha. Escrevi para a Prefeitura da cidadezinha de Clinton, no estado de New York, terra natal de Elihu Root, perguntando se haveria algum seu descendente vivo ainda morando lá, contando sobre a existência da estação. Dias depois, recebi um telefonema emocionado do mister Elihu Root... neto, que assinava Elihu Root III. Alguns dias depois, conforme sua promessa, recebi uma carta, seguida por troca de emails (Ah, a Internet...). Por eles, ele ficou sabendo do que aconteceu com a estaçãozinha, inclusive por fotografias que eu tirei e lhe enviei. Pedi desculpas por todos os brasileiros, pelo abandono em que ela se apresentava, vítima dos desmandos de nossa política ferroviária. Eu soube, também, que sua neta havia passado uns tempos em Ilha Solteira, aprendendo algum português, e que tinha muitas saudades daqui. Ele me enviou, também, cópias de algumas páginas de um livro, raro, segundo ele, que contava trechos da vida de seu ilustre antepassado, citando o episódio de Americana. Um pouco depois, ele me mandou uma fotografia de seu avô, de uma nitidez espantosa, datada de 1902. Três meses depois, recebi uma carta de Mrs. Molly Root, sua esposa. Nela, ela me contou que, um pouco mais de um mês antes, seu marido infelizmente havia falecido, mas que ela teria uma grande satisfação em receber a mim e minha família em sua casa quando eu fosse visitar seu país. Essa foi a terceira vez que Elihu Root morreu.
Doze anos atrás. Eu queria saber mais sobre a estaçãozinha. Escrevi para a Prefeitura da cidadezinha de Clinton, no estado de New York, terra natal de Elihu Root, perguntando se haveria algum seu descendente vivo ainda morando lá, contando sobre a existência da estação. Dias depois, recebi um telefonema emocionado do mister Elihu Root... neto, que assinava Elihu Root III. Alguns dias depois, conforme sua promessa, recebi uma carta, seguida por troca de emails (Ah, a Internet...). Por eles, ele ficou sabendo do que aconteceu com a estaçãozinha, inclusive por fotografias que eu tirei e lhe enviei. Pedi desculpas por todos os brasileiros, pelo abandono em que ela se apresentava, vítima dos desmandos de nossa política ferroviária. Eu soube, também, que sua neta havia passado uns tempos em Ilha Solteira, aprendendo algum português, e que tinha muitas saudades daqui. Ele me enviou, também, cópias de algumas páginas de um livro, raro, segundo ele, que contava trechos da vida de seu ilustre antepassado, citando o episódio de Americana. Um pouco depois, ele me mandou uma fotografia de seu avô, de uma nitidez espantosa, datada de 1902. Três meses depois, recebi uma carta de Mrs. Molly Root, sua esposa. Nela, ela me contou que, um pouco mais de um mês antes, seu marido infelizmente havia falecido, mas que ela teria uma grande satisfação em receber a mim e minha família em sua casa quando eu fosse visitar seu país. Essa foi a terceira vez que Elihu Root morreu.
Caro Sr.Giesbrecht! Comecei a pesquisar sobre estações da região de Araras e seu blog foi de extrema importancia. Meu bisavô e seus irmãos, todos de origem italiana, tem história nesta estação. O primo de minha avó, um senhor com seus 84 anos não sabia escrever corretamente mas fala algo como "Eleurote" na região de Araras e Fazenda Santa Cruz. Lendo um livro descobri sobre a familia Crespi e resolvi ir mais a fundo. Ainda estou pesquisando, sou apaixonado por genealogia e estou com algumas dificuldades para localizar certidões naquela região Descalvado-Leme-Araras. Mas aproveito para parabenizar pelo blog e deixar um pouco da relação da estação com minha vida, hoje muito esquecida. Abraços
ResponderExcluirDiogo Nunes diogon@gmail.com