quarta-feira, 29 de abril de 2009

INGENUIDADE (OU O INÍCIO DE TUDO)

Num belo dia de 1996 – 29 de abril – eu e Ana Maria fomos a Porto Ferreira visitar um primo meu que mora há anos na cidade. Ficamos em um hotel, por uma noite, na avenida de entrada da cidade, a 24 de Outubro. No dia seguinte, antes de chegar à casa do primo, passamos de carro pela frente da antiga estação ferroviária da cidade, na verdade, poucos quarteirões à frente, na mesma avenida, do mesmo lado. Pelo fato de eu ter visto os trilhos da janela do hotel, achava que a ferrovia ainda estava ativa, havia trens etc. Ledo engano. Lá na estação, disseram-me que ela estava fechada havia tempos, que não havia mais trem algum e por aí vai. Ingenuidade minha. Eu não sabia, naquela época, coisa alguma sobre trens em São Paulo e no Brasil. Claro, sabia que havia algumas estações largadas pelo Estado, que eu via por acaso quando passava. Mas quando eu frequentava mais “o Porto”, como o pessoal de lá chama a cidade, no final dos anos 1960, ainda havia trens. Eu me lembrava vagamente deles passando.

Fiquei curioso. Se não havia trens e essa estação estava fechada, o que haveria de ser das outras dessa linha? Aquelas que ficam isoladas no meio de vilarejos pelos quais os trens passavam. Eu gostava da arquitetura desses prédios, a maioria deles construída antes dos anos 1930 ou 1940. Não sou arquiteto, mas consigo reconhecer a época de construção de um prédio. Comentei isso com meu primo, que saiu conosco e nos levou para algumas outras estações lá perto. Na verdade, apenas uma, a de Santa Rita do Passa-Quatro. Muito bonita e simpática, havia sido construída em 1898 e ficava no meio de uma praça. Era um museu (claro, como era domingo, estava fechado. Nada mais inteligente do que fechar museus aos domingos). Mas estava bem conservada, com grandes portas de madeira... sinal de trilhos não havia. Ou seja, aí a estação fechou, como no Porto, mas até arrancaram os trilhos!

Foi muita curiosidade para mim. A partir desse dia, pus na cabeça que queria saber como eram essas estações naquele ramal desativado, que logo descobri que se chamava ramal de Descalvado. Algumas semanas depois, já comecei a buscar informações sobre as 12 estações da linha. A seguir, passei a visitá-las e a fotografá-las. Gostei da coisa. Procurar estações significa aprender sobre ferrovias, sobre sua história, a geografia local... deu no que deu. Saiu um site 4 anos depois sobre as ferrovias de São Paulo, o www.estacoesferroviarias.com.br, e que, dois anos depois, começava a se expandir para ser um site com as histórias de cada estação no Brasil inteiro. Sim, valeu a pena.

Por outro lado, perdi a ingenuidade daqueles primeiros dias e aos poucos fui descobrindo que a pequeníssima chance que havia de os trens de passageiros voltarem a circular caía rapidamente para zero. O próprio ramal de Descalvado, apenas um ano e meio depois, começou a ter seus trilhos também retirados. Resultado: fotografei alguns dias de retirada desses trilhos, uma pena. Em abril de 1996 ainda existiam alguns trens de passageiros da Fepasa. Em marco de 2001, eles acabaram, já trafegando em péssimas condições e sem horários definidos, puxados pelas locomotivas da Ferroban, empresa a que foi dada a Fepasa em concessão. E nunca mais.

Quanto à foto acima: as aparências enganam. Ela foi tirada em 1980 por José Antonio Vignoli. Um trem de passageiros? Não, um carro de passageiros adaptado para ser um posto ambulante do Senai, parado em frente à estação de Porto Ferreira. Trens de passageiros já haviam desaparecido dali havia 4 anos.

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