terça-feira, 7 de abril de 2009

NOMES DE ESTAÇÕES

A moda é antiga, mas continua prejudicando todo mundo, em prol de meia dúzia de pessoas. Mudar nomes de cidades, ruas e estações de trens começou há mais de cem anos e cada vez piora mais, confundindo a cabeça dos usuários e gerando custos desnecessários apenas para homenagear pessoas que na maioria das vezes são ilustres desconhecidos e para agradar e puxar o saco de entidades. Número de pessoas satisfeitas: diretores de entidades e meia dúzia de familiares. Número de pessoas prejudicadas: praticamente todos os habitantes e usuários dos locais públicos. Afinal, nomes existem para facilitar a vida das pessoas, para ajudá-los a achar esses lugares com facilidade. Na foto acima, do acervo Rodini, a festa pela troca de placas em 1937, na estação da Paulista em Santa Veridiana. Só que a troca era somente da placa, não do nome. Até o cachorro (à esquerda) posava.

Não é a toa que os nomes de ruas muito longos são encurtados na referência a eles e no uso público, embora nas placas o nome siga sendo aquele gigantesco ou sem sentido. Vou me resumir aqui apenas aos nomes das estações de trens e metrô, senão, o assunto ficará muito extenso e chato. E mais: falarei apenas das estações da Grande São Paulo.

Os exemplos são muitos. A estação do km 21 da Sorocabana, depois Fepasa, era chamada também de Matadouro, porque ficava junto ao matadouro na divisa de Osasco com Carapicuíba. Dizem que deu briga, porque as pessoas diziam: “e aí, vai para o Matadouro?” e o cara se ofendia e partia para o pau. Um dia mudaram o nome da estação, e colocaram “General Miguel Costa”, por sugestão do seu filho, que morava ali perto. O nome é comprido demais. A alegação? Ele visitava o local nos anos 1920. Grande coisa. Mudaram o nome da estação Ponte Pequena, um nome tradicional, no metrô, para Armênia, porque existe uma colônia armênia no bairro. E daí? Acabaram com um nome de mais de 200 anos, que existia porque ali existia a ponte pequena, sobre o Tamanduateí. A ponte grande era sobre o Tietê, menos de 1 quilômetro à frente.

A Prefeitura de Santo André fez o favor de mudar o nome da estação central da cidade para Prefeito Celso Daniel. Para que? O passageiro vai para Santo André ou para o Prefeito morto? A referência sempre foi o centro da cidade.

Começaram então a anexar nomes: Hebraica-Rebouças (era somente Rebouças, pois fica em frente ao final da avenida), para homenagear um clube que fica a mil metros dali a pé; Sumaré-Santuário Nossa Senhora de Fátima... olhem o tamanho do nome. É óbvio que o passageiro vai para o Sumaré, muito mais curto, fácil e que está no bairro desse nome. Corinthians-Itaquera em lugar de Itaquera, que é o bairro. O Corinthians ia construir um estádio ali. Ia. Mas o nome ficou e não tem sentido algum. Palmeiras-Barra Funda. O bairro é Barra Funda, a estação sempre teve este nome. O estádio do Palmeiras fica a uma caminhada de mais de meia hora dali. Os palmeirenses ficaram felizes. E daí? Nunca vi, a não ser talvez um fanático torcedor, alguém chamar a estação com o nome do clube. Portuguesa-Tietê é demais. O clube fica do outro lado do rio. A estação sempre foi Tietê. Dom Bosco se chamava Pêssego, pois era este o prosaico nome da Estrada do Pêssego, velha estrada que ali se iniciava. Puseram o nome que nada tem a ver. A estação Imigrantes, sobre a avenida que vai até a rodovia dos Imigrantes, passou a se chamar Santos-Imigrantes. Santos está a 80 quilômetros dela. Quem vai dizer que vai para Santos e ir para a estação? Dizem que a estação Morumbi, da linha 4, vai se chamar São Paulo-Morumbi, pois está “perto” do estádio do São Paulo (dois quilômetros) e somente o São Paulo F. C. não tem nome de estação, os outros times da Capital têm. E daí? Que se tire os nomes dos outros três, é muito mais razoável, pois esses nomes, como já escrito, só servem para atrapalhar a vida dos usuários. A estação de Guilhermina-Esperança mostra dois bairros, pois está na divisa deles. Deveria ter então mantido o seu nome do projeto, que era Rincão, nome do córrego que passa ali e, que na época, todos no local sabiam qual era.

Daqui a pouco as estações vão acabar se chamando Sé-Catedral, Bairro Japonês-Liberdade, Luz-Museu da Língua Portuguesa, assim como a estação Jaguaré já se chama Jaguaré-Villa Lobos, ou o contrário, porque o parque está perto (mas não tão perto assim, dá uma boa caminhada).
Bons tempos em que nem as ruas tinham nome, pois não precisavam... quem queria chegar a uma delas (eram tão poucas na cidade), simplesmente perguntava “como chego na casa de fulano?” e a resposta era: “é naquela rua ali”... ou que se mandava cartas para as cidades do interior, escrevendo: “Sr. Fulano de Tal, Porto Ferreira, Linha Paulista”. E a carta chegava.

2 comentários:

  1. Muito bom!

    PS:
    Sobre as estação Pêssego, acredito que foi alterada para Dom Bosco por influência do Padre Rosalvino.
    Sobre o Conrinthians-Itaquera, sempre teve um centro do time lá, talvez sub-utilizado, mas agora com a construção do tal estádio, o nome faz mais sentido (embora eu não concorde mesmo com misturar nome de estação de trem/metrô com times de futebol)...

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  2. A estação Gal. Miguel Costa foi inaugurada pela Fepasa, nos serviços de subúrbio, como Matadouro Municipal pelas razões relatadas. Quem estrilou foram os moradores da região, principalmente os moradores do conjunto da Cohab de Carapicuiba. Quando se fez um estudo para mudança do nome da estação (no govêrno Montoro) sugeriu-se adotar os nomes antigos da EFS (Sorocabana) que era, Parada do km 21. Na mesma oportunidade também se sugeriu que se readotasse o nome de Km 18 para a estação Comandante Sampaio (vale registrar que, ainda hoje, todos os serviços públicos e privados adotam o nome de Km 18 para as suas instalações existentes no bairro. Os ônibus que passam pelo local sinalizam rota "pelo km 18".
    A Fepasa optou apenas pela mudança do nome de Matadouro. O filho do Miguel Costa tinha um jornal em Carapicuiba e era um apoio político forte do Montoro na região. Porisso conseguiu que se mudasse o nome da estação.

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