quinta-feira, 9 de abril de 2009

NAVEGAÇÃO FLUVIAL


No Brasil, a navegação fluvial é certamente o meio de transporte mais antigo que existe. Os índios já o usavam em tempos pré-Cabral. E com a chegada dos portugueses, as entradas e bandeiras que partiam de São Paulo e de Santana de Parnaíba passaram a usá-lo mais frequentemente. Informalmente, a navegção fluvial existe até hoje e jamais deixará de existir, principalmente na Amazônia.

Com a chegada das ferrovias, em 1854, a navegação fluvial começou a ser organizada de uma forma mais profissional. As próprias ferrovias eram as donas de muitas delas e elas eram conhecidas como “ferrovias sem trilhos”, uma continuação das linhas em pontos que elas não existiam. A Companhia Paulista, a Mogiana, a Ituana e a Sorocabana a utilizaram em São Paulo, enquanto no resto do Brasil outras ferrovias também se valeram dos rios como extensões de suas linhas: a E. F. Oeste de Minas, a Porto Alegre-Uruguaiana, a E. F. do Paraná, a V. F. Sapucaí e outras.

O grande problema das hidrovias era que durante alguns meses do ano era impossível a navegação por causa do nível das águas. Outro fator era o número de corredeiras. As corredeiras tinham de ter equipamento especial, com a ajuda de correntes. Antes de a Paulista começar a operar sua navegação, no rio Mogi-Guaçu, entre Porto Ferreira e Pontal em 1885, o engenheiro Hammond visitou os rios Monongahella e Allegheny, formadores do rio Ohio nos Estados Unidos, que tinham regime e corredeiras de forma semelhante aos do rio Mogi, para poder fazer seu projeto. A navegação da Paulista durou até 1903, quando foi extinta: valeu mais a pena a construção de uma linha acompanhando o rio até Pontal, aberta nesse ano. A Mogiana somente operou sua linha no rio Grande, a partir da estação de Jaguara, em Minas, durante 6 meses em 1888: um desastre grave com uma de suas barcas levou a operação ao abandono. Quanto à Sorocabana, esta herdou as linhas da Ituana, implantadas nos rios Tietê e Piracicaba, entre os portos João Alfredo (Ártemis), em Piracicaba, e Porto Martins, em Botucatu, em 1887. Com a fusão das duas ferrovias em 1892, a Sorocabana continuou operando esta linha até 1962, ano em que não era mais viável economicamente. A Sorocabana ainda operava linhas, indiretamente através da Companhia Sul Paulista, na região dos rios Ribeira e Juquiá, no Sul do Estado de São Paulo.

Estas linhas transportavam tanto cargas quanto passageiros, embora estes últimos o fossem em quantidade infinitamente menor. O custo da baldeação das cargas nos portos estabelecidos no final das linhas férreas também era algo que atravancava o processo. A cidade que mais cresceu com um porto de baldeação foi Porto Ferreira. Por sua vez, as cidades de Pontal, Barrinha e Guatapará nasceram de portos de embarque e desembarque no rio Mogi. Já a estação de Jaguara, em Minas e bastante próxima a Rifaina, em São Paulo, foi projetada pela Mogiana para ser uma grande receptora e exportadora de cargas das linhas do Catalão e do Rio Grande (ali elas se encontravam), mas tornou-se um elefante branco em pouco tempo com o fim da navegação.

Muitas dessas linhas acabaram para as ferrovias quando foram substituídas pelas linhas em si que faziam o mesmo percurso e eram mais rápidas. Outras acabaram quando as estradas de rodagem passaram a substituir grande parte delas. Muitos barcos sobreviveram, no entanto, até os anos 1970, porque era um meio de transporte barato. Porém, o conforto era zero, ao mesmo tempo que em determinadas épocas eram um foco de epidemias. É conhecido o drama dos migrantes nordestinos que tomavam o barco no rio São Francisco para se dirigir a Pirapora e dali tomar a linha da Central para São Paulo. Muitos morriam no caminho ou logo depois do desembarque em Pirapora.

Hoje, alguns dos barcos, chamados em grande parte de “gaiolas”, sobreviveram e servem para passeios de turismo. Porém, nem de longe eles retratam o sofrimento que neles existiu por muito tempo, como se fosse penas um tempo de glamour. Era o contrário do que ocorria no Sul, onde as viagens eram mais curtas e levavam gente de um ponto a outro apenas pela necessidade de deslocamento e não de migração para tentar uma nova vida.

3 comentários:

  1. O Monongahella e o Allegheny se juntam para formar o rio Ohio... em Pittsburgh!

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  3. Observando o rio Sapucaí no Google Earth (ou no Google Maps - satélite), parece que foram feitos 2 canais para contornar trechos encachoeirados e permitir a navegação (que começava na estação de Porto Sapucaí da RMV) entre Careaçu e Ouro Fala. Acho que a barragem, que forçava o rio a entrar no primeiro desvio, foi derrubada e o rio voltou ao trecho encachoeirado original. Veja nas coordenadas:
    22 S 45 42 W

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