Em fotografia de 1922, o jovem Ernesto, então com menos de um ano, posava sorridente e muito contente no seu jipinho Paige. Essa foto deve ter sido tirada em Ponta Grossa ou em Joinville.
Há cerca de uma semana, ouvi ao fundo, entre o ruído de duas televisões ligadas no piso superior da minha casa, um assobio duplo. Para tentar descrevê-lo, um assobio em duas notas: uma mais alta, depois uma mais baixa. Deve ter sido da televisão que estava mais distante de onde eu estava naquele momento.
O fato é que o assobio era igualzinho ao assobio de meu pai quando chegava em casa ou na casa de meus avós. Eu até havia me esquecido dele, mas eis que, no meio de diversos ruídos, ele apareceu e despertou minha memória adormecida.
Meu pai faleceu há quase quatorze anos. Morreu num sábado de manha, na casa dele, onde morava com a minha mãe e minha irmã. Foi, infelizmente, o cume de um ano (1996) em que ele passou cada vez pior, principalmente depois de uma operação mal conduzida no mês de março. Ele, que já não vinha muito bem de saúde antes, depois dessa operação piorou bastante.
Ele provavelmente teve um AVC que o matou de forma fulminante. Tinha então setenta e cinco anos e uma vida bem vivida e bem sucedida. Era uma pessoa amada por todos: sempre de bom humor, atendia a todos com um sorriso. Comia de tudo e adorava cerveja. Filho de “alemães” nascidos em Jaguariúna, SP e em Joinville, SC, foi criado em Ponta Grossa, PR, e com treze anos de idade veio com a família – seu pais, um irmão e uma irmã, para São Paulo, onde foi estudar no Liceu Coração de Jesus.
Dali Ernesto Giesbrecht – este era seu nome – foi estudar na Faculdade de Ciências e Letras da USP, na alameda Glette, no curso de Química. Na época, foram três anos de curso. Depois de formado, chegou a Professor Catedrático de Química Inorgânica na mesma faculdade, cargo que depois foi alterado para Professor Titular.
Viajou a trabalho e a turismo pelo Brasil e pelo mundo inteiro, quase sempre com minha mãe. Quando morreu tinha acabado de completar cinquenta anos de casamento, em festa que foi dada na casa de meus avós maternos, na Vila Mariana.
Eu me lembro dele sempre com muita saudade. Era ele que preparava o café da manhã em casa: até casar, eu sempre comia ovos com bacon e ovos pela manhã, acompanhados por uma xícara de Nescau. Sim, muito calórico, deve ter me afetado bastante no índice de colesterol, mas era muito bom. Aliás, o nível de colesterol de papai era baixíssimo, principalmente se lembrarmos que ele comia bastante.
Como disse, sempre que ele chegava na casa de parentes e na nossa própria casa, ele soltava seu assobio registrado. Eram tempos bons.
sábado, 20 de março de 2010
UM ASSOBIO NA NOITE
Marcadores:
Ernesto Giesbrecht,
Jaguariúna,
joinville,
Ponta Grossa,
vila mariana
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Seu blog é o melhor de toda a internet. Você escreve muito bem e de um modo como se o leitor fosse um amigo bem próximo. Além do mais, os assuntos são os mais diversos e variados. Vemos opiniões sinceras e corajosas. Até mesmo assuntos mais particulares, como esse por exemplo, nos interessam profundamente, seja por trazer recortes de um cotidiano, seja pela agradável pintura que o texto forma na cabeça do leitor. Obrigado, Ralph.
ResponderExcluir