A estação original de Anhumas, uma das que foram substituídas por outra mais nova e em local diferente na variante da Mogiana (1926).
Uma reportagem publicada pela Folha da Manhã (atual Folha de S. Paulo) de 8 de junho de 1929 mostra um quadro da primeira retificação de linha (variante) feita pela Mogiana, que ocorreu nessa época.
Antes disso, somente pequeníssimas variantes haviam sido construídas, como a de Guanabara, no início do século XX.
As variantes continuaram sendo construídas nos anos seguintes. porém foram terminadas apenas cinquenta anos depois (1979). Aparentemente foram realizadas de acordo com a prioridade, nos acertos de cada trecho. Um deles, o Mato Seco-Lagoa Branca, onde está a estação de Aguaí, acabou jamais sendo realizado (com exceção de um trecho de alguns metros que eliminou desse traçado a estação de Miragaia (1971).
O artigo da Folha de 8/6/1929
O que o jornal afirma é parcialmente verdadeiro; ele não levou em conta o fato de as condições para construção de uma linha nos anos 1870 e 1880 serem bastante diferentes, em termos de tecnologia, da dos anos 1920. Porém, muito provavelmente "garantia de juros" e "servir maior número de propriedades agrícolas" (2o parágrafo do artigo da Folha) foi uma estratégia de curto prazo num país ainda essencialmente agrícola. Além disso, não é muito provável que uma empresa privada, como era a Mogiana, efetuasse tantos erros quanto a reportagem leva os seus leitores a acreditar. Se fosse uma empresa estatal... bom, aí seria outra coisa. Estatais tendem a atender necessidades políticas e não econômicas.
Na época do artigo da Folha, a Mogiana estava terminando o trecho da 1a variante, Campinas-Jaguariúna... ou pensava que estava, pois em 1929 eles chegaram somente até a nova estação de Carlos Gomes e a extensão até a última estação, Jaguary (hoje Jaguariúna) ficou para ser entregue dezesseis anos mais tarde. O atraso provavelmente ocorreu por causa das dificuldades financeiras - ver o problema do empréstimo citado mais à frente -, pelos problemas econômicos causados pela Segunda Guerra Mundial e pelos imensos prejuízos tomados pela empresa com a Revolução de 1932.
A variante a ser atacada logo em seguida (1948-1960) foi a Lagoa Branca-Tambaú e também teve grande atraso: o trecho Coronel Corrêa-Tambaú somente foi completado nove anos depois de a linha nova ter chegado a Coronel Corrêa, na área rural de Casa Branca.
Qual o motivo deste atraso? Certamente o fato de que, em 1952, a Mogiana foi estatizada (por pressão de seus acionistas, que não viam como pagar as dívidas contraídas com o empréstimo tomado em Londres em 1908) e entregue em situação bastante precária ao governo do Estado. Este, por sua vez, pouco investiu na ferrovia nos primeiros oito anos, chegando a atrasar por diversas vezes os salários dos funcionários.
As quilometragens citadas nos 5o e 7o parágrafos, se tomados à risca, mostram que a extensão da linha entre Campinas e Jaguary, no final, foram reduzidas em apenas quatro quilômetros, não dez.
No fim das contas, apesar dos possíveis erros, a garantia de juros, o traçado para alcançar as propriedades agrícolas e as "curvas em excesso" a que se refere o jornal, a ferrovia nunca teria trazido o enorme desenvolvimento que trouxe para toda a região norte do Estado de São Paulo, ao Triângulo Mineiro e às cidades mineiras limítrofes (Guaxupé, Poços de Caldas, Muzambinho e muitas outras) e ajudado o Brasil a se tornar o país que se tornou no século XX.
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domingo, 7 de fevereiro de 2016
sábado, 21 de janeiro de 2012
PEDREIRA, SÃO PAULO

O nome "Pedreira" deve existir em inúmeros locais do Brasil. Em cada lugar onde um dia existiu (ou ainda existe) uma pedreira, este nome acaba por extrapolar os limites do empreendimento em si. Assim, existe um bairro da Pedreira em São Paulo (está one hoje acaba a Marginal do Rio Pinheiros, ou a avenida das Nações Unidas, ao sul do cruzamento desta com a avenida Interlagos), existe o bairro da Pedreira em Cajamar e inúmeros outros.

Lá entre as cidades de Jaguariúna e Amparo, no que antigamente era o ramal de Amparo da Mogiana, existe a cidade de Pedreira. Neste caso, entretanto, o nome foge à regra: os fundadores, pai e filhos, tinham como segundo nome sempre "Pedro": João Pedro, Bento Pedro, Antonio Pedro e José Pedro. Daí nasceu "Pedreira".

A cidade formou-se alguns anos após o surgimento da estação, que fora construída em terras da Fazenda Grande, dos "Pedros", no ano de 1875. Já em 1896, a vila ganhou o status de município, separando-se de Jaguai (hoje Jaguariúna). Às margens do rio Jaguari, quem desembarcava na estação da Mogiana deveria ter uma belíssima vista do rio e dos poucos casarões em volta da linha. O pátio e a plataforma de embarque e desembarque davam frente para o rio.

Com a chegada das fábricas de cerâmica, em 1916, desenvolveu-se o comércio de peças deste material pela cidade, que hoje tem boa parte de sua renda de turistas que vêm a ela para fazer compras. Tal comércio se dá principalmente em volta da rodovia Amparo-Jaguariúna, que passa pela estação, ocupando parte do antigo leito da ferrovia que corria ao longo do rio. Com isto, o velho prédio da estação ficou ilhado no meio da pista, movimentadíssima principalmente durante o final de semana. Pedreira é um dos raros casos de cidades que ainda têm a estrada passando dentro dela.

Diversos casarões dos séculos XIX e início do XX ainda se mantêm na cidade. Um deles, dos "Pedros", é talvez o edifício mais antigo, às margens do rio Jaguari - à outra margem dele, junto à cabeceira da ponte - e que hoje abriga a sede da Prefeitura Municipal.

Curioso na cidade é a quantidade de placas de prefeitos indicando inaugurações de obras. Até o banheiro municipal, construído na lateral da estação (a lateral à direita da antiga plataforma), tem uma - lastimável procedimento de gasto de dinheiro e de propaganda inútil de prefeitos do interior.

Ao contrário do que pode parecer, o centro da cidade não é realmente a região da estação, com suas lojas de cerâmica e a parte mais movimentada, mas sim um pouco mais além, onde a cidade, no mesmo lado do rio, se espicha perpendicularmente à rodovia-avenida. Por ela se espalham outros casarões, alguns muito bonitos. Há, também, muitos bairros rurais pelo município.

As fotos que apresento aqui foram tomadas por mim em visita à cidade no último domingo, dia 15 de janeiro.
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sexta-feira, 20 de janeiro de 2012
O RAMAL DE AMPARO RESSURGIRÁ DAS CINZAS?

Surgem notícias estranhas... os prefeitos das cidades do antigo ramal de Amparo anunciam a reativação da ferrovia, para passageiros e cargas.
O mais estranho é que essa notícia somente apareceu em jirnais da região e não em São Paulo, Capital. Dirão os senhores, a capital se interessaria por isto? Não sei (eu me interesso), mas sempre é notícia.
O grande problema: os trilhos foram arrancados em 1967. O velho ramal - inaugurado em 1875 juntamente com a linha-tronco - saía de Jaguariúna, passava pelos municípios de Pedreira, Amparo e Monte Alegre do Sul. Além das estações centrais destes municípios, havia ainda as de Arcadas, Três Pontes e Reversão.
Para além de Monte Alegre, a linha se estendia até Socorro, passando por três etações intermediárias. A notícia, no entanto, se refere ao trecho Jaguariúna-Monte Alegre. Gostaria que vingasse, mesmo. Mas não acredito. Já estou cético demais para essas notícias.
Primeiro, há trechos por onde passava o ramal em que ninguém recolocaria trilhos. Um exemplo? Os trilhos passavam pelo centro da cidade de Pedreira numa avenida estreita que é hoje parte da rodovia Jaguariúna-Amparo.
Há trechos complicados, como o de Três Pontes. Ainda por cima, o ramal passa pelo topo do divisor de águas dos rios Jaguari e Mogi-Guaçu.

O leito teria de ser modificado. Isso ocorrendo, será que seria viável em termos de pegar a maior parte de passageiros para justificar a linha? De fato, esse teria de ser um dos trens regionais de que se fala hoje em dia. Tirar a linha do centro de Pedreira significa passar por um local mas afastado e com certeza com menos usuários. Por mero acaso, estive em Pedreira neste domingo que passou. Não consigo imaginar um TUE passando pelo centro de Pedreira.
Ah, sim, tem de ser um TUE - Trem Unidade Elétrico. Se não, não justifica de forma alguma. E essa história de cargas? Difícil. Em trechos curtos, já há muito tempo não se transportam cargas por ferrovia. Aliás, esse foi o principal motivo da desativação do ramal em janeiro de 1967.
Não agouremos. De repente, alguma ideia genial e um projeto bem bolado pode ser o que se estuda e eu queimo minha língua. Há trechos lindos por onde o trem passava. Afinal, eu gostaria de ver o trem por lá. Mas que não se iludam com bobagens tipo "trem turístico" ou trens como existiam nos anos 1960. Aí, sim, seria dinheiro jogado fora. Esse tempo, felizmente ou infelizmente, já passou.
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sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
MÃOS FRANCESAS

Mãos francesas, suponho que todos saibam o que são: são armações feitas geralmente de ferro, aço ou madeira para sustentar uma prateleira ou telhado em uma parede ou muro.

Nas estações ferroviárias brasileiras havia diversos tipos de mãos francesas diferentes. Aqui, listo apenas alguns tipos usados, num universo muito grande de variações.

Note-se que nem todas as estações possuíam mãos francesas, mesmo quando tinham um telhado a ser sustentado.





sábado, 5 de novembro de 2011
A MONTANHA DO REI

O que liga duas cidades, uma no norte da Europa, e outra na região de Campinas, em São Paulo? Em princípio, nada. Kaliningrado, antiga Königsberg - "montanha do rei" -, é hoje um enclave russo em terras da Polônia, mas, até 1945 pertencia à Alemanha. Cidade milenar, foi bastante conhecida pelo enigma das Sete Pontes, do qual já falei antes neste blog. Jaguariúna, antiga Jaguary, a poucos quilômetros ao norte de Campinas, muito menor do que a outra alemã, não tem ainda 120 anos de idade.
O que as liga é um alemão de nome Wilhelm, ou Guilherme Giesbrecht, meu bisavô, nascido em 1866 em Königsberg. Diz a história que seu padrinho de batismo foi o rei da Prússia que alguns anos mais tarde tornou-se o Kaiser Guilherme I e que ele deixou seus pais e uma irmã na Alemanha e chegou ao Rio de Janeiro em 1888. Alguns dizem também que ele esteve antes em Buenos Aires e no Chile. Guilherme casou-se em Diamantina, Minas Gerais, logo depois, em 1890, quando já estava trabalhando, provavelmente na cidade de Ouro Preto, para a futura Estrada de Ferro de Paracatu. Em 1892, mudou-se para "a estação de Jaguary", em Mogi-Mirim, estado de São Paulo, para trabalhar na duplicação da linha da Companhia Mogyana.

A duplicação, por diversos motivos, acabou não se efetivando e ele foi convidado pelo Coronel Amâncio Bueno, um dos pouquíssimos moradores próximo à estação, para criar uma vila: deveria construir para Bueno "onze casas e uma igreja". Foi o que "o engenheiro alemão", como era conhecido, fez. Em 1895, deixou a cidade. Mais tarde, foi reconhecido como fundador de Jaguary, que se tornou município somente em 1953, já com o nome de Jaguariúna.
É difícil saber se ele tinha esta pretensão; acredito que ele jamais tenha pensado nisto. Seu primeiro filho, Hugo, meu avô, nasceu lá em 1893. Os outros oito nasceram em cidades diferentes, dependendo de onde o casal estava trabalhando na época. Quase que com certeza, Guilherme jamais retornou a Jaguary. Trabalhou em diversas outras ferrovias até os anos 1920. A partir daí, meteu-se também na construção de rodovias, como, por exemplo, a São Paulo-Belo Horizonte, na região próxima a Belo Horizonte. Outra cidade na qual ele é também citado na história é Brumadinho, em Minas, exatamente pelo tempo em que lá passou construindo essa estrada, que, aliás, hoje em dia não passa mais lá.

Também é pouco provável que ele tenha vindo alguma vez em sua vida à cidade de São Paulo, onde viveram meu avô e seus filhos, a partir de 1934, vindos de Ponta Grossa, no Paraná. Grande parte de sua vida ele viveu em Minas Gerais, provavelmente por causa de sua esposa, Maria, que era de Diamantina. Nos trinta anos finais de sua vida, ele morou em Governador Valadares, a antiga Figueira do Rio Doce. Morreu lá em 1957.
No final de 2008, a cidade de Jaguariúna publicou um belo livro sobre a cidade, citando tanto Amâncio Bueno quanto Guilherme Giesbrecht como seus fundadores. Fui convidado para a festa de lançamento e compareci. Eu já conhecia a cidade. Ainda existem algumas casas (poucas) das onze contruídas por meu bisavô. O livro relaciona-as todas. Existe também uma planta da cidade desenhada por ele. A igreja ainda está lá, tendo sido restaurada recentemente. É bonita, mas pequena. Por isso, construíram outra, cerca de um quarteirão para cima da praça. A igreja se chama Santa Maria. Teria sido uma homenagem à sua esposa?
Em algum local do município - acabei não indo conferir - há um bairro de nome "Vila Guilherme Giesbrecht". Acabei não indo conferir onde é. Pelas construções - há uma fotografia dele no livro citado - deve se tratar de um loteamento recente. Para quem mora lá, deve ser bem difícil pronunciar o nome.
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
PONTES QUE DURAM UMA VIDA

A linha da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro iniciou sua construção nos anos 1870. Em 1875 abriu seus dois primeiros trechos: Campinas a Mogi-Mirim e Jaguari (Jaguariúna) a Amparo.
Em 1878, a linha foi prolongada de Mogi-Mirim até Casa Branca. Nesse trecho aberto, foi construída uma ponte sobre o rio Mogi-Guaçu, cruzando-o na cidade homônima. Esta ponte foi utilizada até 1904; neste ano, a Mogiana entregou uma nova para substituir a anterior, agora em ferro importado. A própria ponte já deve ter chegado pronta do fabricante, geralmente norte-americanos.

As bases, como se costumava fazer, eram de pedra. Uma obra de arte, mesmo. Numa das pedras, foi colocada uma inscrição com a data de finalização.

Em 1979, a ponte foi abandonada pela ferrovia, pois a variante que foi construída passando por fora da cidade exigiu uma nova, em outro ponto do rio, além de uma nova estação. Ponte e estação antigas deixaram de ter funções ferroviárias.
Hoje a velha ponte centenária serve para o tráfego rodoviário. Conservaram-se as bases de pedra e a estrutura em ferro. No lugar dos trilhos e dormentes, retirados, o asfalto cobre hoje seu leito, da mesma forma que cobre o velho leito da linha que cruzava a cidade. O trem passa por fora.

As fotos mostram o passado e o presente da velha ponte da Mogiana.
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sexta-feira, 14 de janeiro de 2011
AS ÁGUAS ROLARAM

Mais uma vez as águas rolaram no verão. E vão continuar a rolar cada vez mais, por causa da imprudência das pessoas que insistem em viver nas encostas, dos governos que se omitem, do excesso de chuvas combinado com a impermeabilização dos solos, do excesso populacional (ou da concentração populacional) e de múltiplos outros fatores.
As tragédias estão em todos os jornais. Desta vez foi Nova Friburgo, Teresópolis, Franco da Rocha, Jaguariúna, São Paulo. O ano passado foram outros locais e no ano que vem serão ainda outros.
Como no ano passado, o fato será esquecido em breve. A verdade é que não se pode culpar somente os governos por tudo isto. O fato é que os próprios municípios deveriam se unir e incentivar a criação de organismos sérios por parte dos próprios munícipes. Como é claro que as enchentes não são necessariamente originadas no próprio município e sim em outros, esse organismo deveria ser composto de pessoas sérias das diversas cidades de uma mesma bacia hidrográfica (por exemplo) e que realmente conhecessem o assunto, de forma a poder pelo menos prever um problema como esse de forma a avisar a população com uma antecedencia viável. E trabalhar constantemente com objetivos sérios.
Está na hora de parar de depender do poder público. Na verdade, este organismo poderia ser a própria Defesa Civil de que tanto se fala, só que trabalhando de forma diferente do que atua hoje. Eu realmente não sei como ela atua, mas está mais do que claro que ela, como está, não está resolvendo.
Enquanto isso, os governos deveriam retirar mais do que imediatamente a população dos lugares de risco, que não são poucos. É claro que, infelizmente, a tarefa é dificílima, mas há de se ter vontade política.
A floresta nativa recuperar-se-á rapidamente nos locais que hoje são manchas de barro causadas pelos arrastes, mas se não se tomar cuidado essas manchas tornar-se-ão comunidades em vez de seram abandonadas para a construção, baseado no célebre lema "um raio não cai duas vezes no mesmo lugar".
Esperemos que o nosso Brasil ponha a cabeça no lugar.
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terça-feira, 9 de novembro de 2010
A IGREJA QUE MEU BISAVÔ CONSTRUIU
Durante anos, meu pai me contava que a igreja Santa Maria, de Jaguariúna, havia sido construída por meu bisavô, avô dele, Wilhelm (Guilherme) Giesbrecht e que em algum local ali existia uma placa que afirmava isto.
Nunca fui com meu pai à cidade, mas o fato é que jamais esqueci disso. A primeira vez que me lembro ter ido lá foi em 1991. Procurei pela placa e não achei. E nem tinha ninguém para perguntar, pois a igreja estava fechada. Fui à cidade várias vezes depois e novamente encontrei a igreja fechada - e não encontrei a tal placa.
Nesse meio tempo, porém, eu descobri que não só meu avô havia mesmo construído o templo, como ainda era considerado como sendo um dos dois fundadores da cidade, em 1894. Com efeito, nesse ano ele havia construído "onze prédios e uma igreja" a pedido do Coronel Amâncio Bueno, que queria construir o núcleo de uma cidade ali. Ele morava numa fazenda bem junto ao futuro centro da cidade; por sua vez, o trem já havia chegado bem antes, em 1875, trazido pela Mogiana, que ali plantou a estação de Jaguari - que em 1945 virou Jaguariúna. Mesmo com o trem, a cidade só veio 19 anos depois.

Somente no ano de 2005, eu e Ana Maria visitamos a cidade com o intuito de finalmente conseguir entrar na igreja, que fica na praça central. Conseguimos: encontramos uma pessoa que nos abriu a porta lateral. A igreja estava bem. Havia sofrido uma reforma recentemente. Porém, só havia cultos em dias especiais, pois, muito pequena, foi ela substituída por outra, construída a uma quadra dali. Eu tentei convencer meu filho a se casar ali, mas acabou não vingando: um dos motivos era porque a igreja era pequena.

Ana tirou uma série de fotografias nessa ocasião. Algumas delas estão retratadas nesta postagem. O interior é realmente muito bonito. Não sei se todos os materiais que estão lá dentro são os originais.
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sábado, 20 de março de 2010
UM ASSOBIO NA NOITE

Há cerca de uma semana, ouvi ao fundo, entre o ruído de duas televisões ligadas no piso superior da minha casa, um assobio duplo. Para tentar descrevê-lo, um assobio em duas notas: uma mais alta, depois uma mais baixa. Deve ter sido da televisão que estava mais distante de onde eu estava naquele momento.
O fato é que o assobio era igualzinho ao assobio de meu pai quando chegava em casa ou na casa de meus avós. Eu até havia me esquecido dele, mas eis que, no meio de diversos ruídos, ele apareceu e despertou minha memória adormecida.
Meu pai faleceu há quase quatorze anos. Morreu num sábado de manha, na casa dele, onde morava com a minha mãe e minha irmã. Foi, infelizmente, o cume de um ano (1996) em que ele passou cada vez pior, principalmente depois de uma operação mal conduzida no mês de março. Ele, que já não vinha muito bem de saúde antes, depois dessa operação piorou bastante.
Ele provavelmente teve um AVC que o matou de forma fulminante. Tinha então setenta e cinco anos e uma vida bem vivida e bem sucedida. Era uma pessoa amada por todos: sempre de bom humor, atendia a todos com um sorriso. Comia de tudo e adorava cerveja. Filho de “alemães” nascidos em Jaguariúna, SP e em Joinville, SC, foi criado em Ponta Grossa, PR, e com treze anos de idade veio com a família – seu pais, um irmão e uma irmã, para São Paulo, onde foi estudar no Liceu Coração de Jesus.
Dali Ernesto Giesbrecht – este era seu nome – foi estudar na Faculdade de Ciências e Letras da USP, na alameda Glette, no curso de Química. Na época, foram três anos de curso. Depois de formado, chegou a Professor Catedrático de Química Inorgânica na mesma faculdade, cargo que depois foi alterado para Professor Titular.
Viajou a trabalho e a turismo pelo Brasil e pelo mundo inteiro, quase sempre com minha mãe. Quando morreu tinha acabado de completar cinquenta anos de casamento, em festa que foi dada na casa de meus avós maternos, na Vila Mariana.
Eu me lembro dele sempre com muita saudade. Era ele que preparava o café da manhã em casa: até casar, eu sempre comia ovos com bacon e ovos pela manhã, acompanhados por uma xícara de Nescau. Sim, muito calórico, deve ter me afetado bastante no índice de colesterol, mas era muito bom. Aliás, o nível de colesterol de papai era baixíssimo, principalmente se lembrarmos que ele comia bastante.
Como disse, sempre que ele chegava na casa de parentes e na nossa própria casa, ele soltava seu assobio registrado. Eram tempos bons.
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