quinta-feira, 4 de março de 2010

TRAMWAY DE SANTO AMARO

Estação do Encontro, próximo à atual igreja de São Judas, na então divisa dos municípios de São Paulo e de Santo Amaro. Não encontrei referência alguma à desaivação ou desmonte deste pátio nos relatórios da Light até agora.

No ano de 1886, quando Santo Amaro era um município separado de São Paulo, o Engenheiro Kühlmann inaugurou uma linha de tramways a vapor que ligava a estação de São Joaquim (na esquina da rua São Joaquim com a rua da Liberdade, hoje avenida, no bairro do mesmo nome e no local onde hoje está a estação São Joaquim do metrô) à estação de Santo Amaro, muito próxima do centro dessa então cidade.

A história é contada em muitos livros e sites de Internet. A via permanente desse trem seguia pela rua da Liberdade, entrava pela Vergueiro e depois pela rua Domingos de Morais, já na Vila Mariana e daí prosseguia mais ou menos onde hoje é o leito da avenida Jabaquara até onde atualmente fica a igreja de São Judas, descia por dentro do Aeroporto de Congonhas e pelos bairros do Campo Belo e Brooklyh Paulista, estes últimos já em Santo Amaro, para finalmente entrar pelas atuais avenidas Vereador José Diniz e Adolfo Pinheiro, chegando à estação terminal.

Em 1913, a Light, que havia instalado e assumido a distribuição de energia elétrica e de bondes elétricos em São Paulo e em Santo Amaro, depois de comprar o tramway em 1900, completou sua eletrificação. A linha, então, passou a correr desde a Praça João Mendes, passando pelas ruas da Liberdade, Vergueiro e Domingos de Morais para aí mudar o seu caminho, entrando pela rua Jabaquara - hoje Conselheiro Rodrigues Alves - e dobrando ao lado do Instituto Biológico para numa grande reta alcançar o largo Treze de Maio, ao lado da praça central (Jardim Público) de Santo Amaro.

A linha que seguia pelas ruas Domingos de Morais depois do largo Ana Rosa e avenida Jabaquara foi mantida, também eletrificada. Ela hoje não existe mais, foi desativada em 1966, dando caminho para a passagem do metrô, linha Norte-Sul. A linha de Santo Amaro, por sua vez, foi a última linha de bondes a ser cancelada em São Paulo, tendo-o sido em março de 1968.

Essa é a história que consta. Não está errada, mas também não está totalmente correta. Por exemplo, a eletrificação da linha do antigo tramway já estava eletrificada antes de 1913 entre a praça João Mendes e a estação da Vila Mariana, na praça Teodoro de Carvalho. Somente depois desse ponto é que a linha continuava a vapor.

Esta foi uma das coisas que descobri nos relatórios da Light que pesquisei hoje, na verdade, as edições entre 1910 e 1916. Antes, não pesquisei, ainda, e tenho muitas dúvidas acerca do período entre a compra do tramway em 1900 e o ano de 1910. A estação da Vila Mariana, do tramway, por exemplo, foi demolida em 1911. Isto também não consta em nenhum livro que li. Acredito que alguém jamais tenha se importado com isto. Eu, como sou chato, fui pesquisar e achei isto hoje.

O curioso é que os relatórios da Light and Power são muito confusos, afirmando num ponto algo que parece diferente do que eles afirmam em outro local do mesmo ou do relatório seguinte. Por exemplo, a história diz que o ramal do Matadouro e a linha para São Judas também foram eletrificadas em 1913. Os relatórios não citam absolutamente nada sobre isto. Há muito ainda que se pesquisar.

Enfim, estou apenas transmitindo algumas coisas que consegui saber hoje depois de uma tarde lendo esses relatórios. Ainda faltam outros para ler.

6 comentários:

  1. Ralph, no arquivo público municipal há um mapa de 1897 em que aparece o primeiro trecho da ferrovia, desde seu início até a estação de Vila Mariana e o ramal do Matadouro:
    http://www.arquiamigos.org.br/info/info20/img/1897-download.jpg

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  2. Ralph, na planta em escala 1:300.000 aparece o traçado completo da ferrovia, até Santo Amaro.
    No mapa maior, a Brigadeiro Luis Antonio continuava com o nome de Rua Santo Amaro só até a av.Paulista. Depois ela mudava de nome para Estrada do Caaguassu. A Frei Caneca passava para outro lado com o mesmo nome. Já a Peixoto Gomide aparece com 2 nomes: Rua Tagipurú e Al.Limeira. Como a Ministro Rocha Azevedo não tem nenhum nome então um dos 2 deve ser o dela. Já a Al. Rio Claro aparece atravessando a Paulista, a Santos e a Jahú. É quase impossível que isso algum dia tenha acontecido porque entre a Santos e a Jaú havia uma grota que foi aterrada para a passagem do túnel da 9 de Julho. Lá fica hoje a praça Bartolomeu de Gusmão e a saída de emergência do túnel, que mais parece um coreto.

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  3. Errei, a praça chama-se Alexandre de Gusmão, e não Bartolomeu. A rua que se atravessasse a Paulista sairia na grota é a Itapeva que em 1897 era apenas uma rua projetada.

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  4. Uma vez falei dessa grota aterrada numa lista do Facebook e só faltou me chamarem de burro, que isto nunca existiu etc

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  5. No mapa da Sara Brasil, de 1930, ela está bem visível. A primeira alameda a atravessá-la era a Itú. Parece que havia um aterro no cruzamento da Itú sobre a grota, que ali já era mais rasa. Acho que fizeram o túnel primeiro e depois jogaram terra por cima. Aproveitaram para fazer a tal saída de emergência que felizmente nunca precisou ser usada porque está sempre trancada. Alguns anos atrás li uma reportagem em que diziam que por muito tempo ninguém sabia o que era aquilo e muito menos onde estava a chave. Depois fizeram aquela grade para impedir que moradores de rua dormissem no "coreto".

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  6. Estadão de 03.06.1916, Notícias do Interior e do Litoral do Estado - Santo Amaro:
    "Com grande brilhantismo, realisou-se no domingo passado, nesta cidade, a tradicional festa de Santa Cruz da Estação.
    Para o anno de 1917 foram nomeados festeiros os srs..."
    Até hoje, a praça que ficava em frente da estação do tramway, na avenida Adolfo Pinheiro, chama-se praça Santa Cruz.

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