segunda-feira, 1 de março de 2010

O FIM DO EXÍLIO?

A foto publicada hoje no jornal "O Estado de S. Paulo". Meu avô Sud é o último sentado à direita. Dois para a esquerda, Julio de Mesquita Filho. Mais dois, José Mindlin, depois Manequinho Lopes e Leo Vaz.

Hoje, no jornal O Estado de S. Paulo, saiu uma reportagem sobre a morte de José Mindlin. Não tive tempo de ler ainda, então fiz como o leitor brasileiro típico: vi as fotos. Qual não foi minha surpresa ao saber que ele havia trabalhado no jornal, e na mesma época que meu avô Sud Mennucci.

Mindlin era bem mais novo, doze anos. Morreu com 96. Meu avô, mais velho, morreu com 56 há mais de sessenta anos. A surpresa maior foi ver uma foto tirada no jornal em 1931, mostrando Julio de Mesquita Filho, meu avô, Mindlin, Manequinho Lopes, Leo Vaz e outros. Segundo o jornal, foi a foto de despedida de Mindlin.

Talvez eu até tenha a foto. Se não tiver, tenho uma muito parecida. Minha grande surpresa é ter visto meu avô nela.

Afinal, meu avô tornou-se persona non-grata no jornal. Depois de ter sido convidado por Julio de Mesquita Filho em fevereiro de 1925 por uma carta de fazer inveja a qualquer mortal, onde Julio (cujo pai ainda era vivo na época) quase implorava para meu avô deixar a Delegacia de Ensino em Piracicaba e vir para a Capital trabalhar no jornal (não estranhem o termo "implorar", pois o texto da carta mostra isso), um dia a situação azedou. A carta dizia entre outras coisas que "já eu estava temendo que sua resposta fosse a que hoje recebi (da carta anterior, convidando-o pela primeira vez: essa carta não tenho). Acho que você tem razão. Entretanto, como você é moço e cheio de talento restava-me ainda uma vaga esperança que sua resposta fosse afirmativa. Entre São Paulo e Piracicaba, para quem se dedica à cultura do espírito, embora menos remunerado aqui do que lá, supus que a Capital vencesse. (...) A época é dos corajosos e não estou propondo a você a escalada do Himalaia ou a jornada de Verdun. Meu velho Sud: não me dê uma resposta definitiva, sem afastar da cabeça os obstáculos que ainda lhe tolhem uma decisão favorável. O 'Estado' é uma empresa que não morre, o que já não acontece com os que nele trabalham. Os que o dirigem hoje, amanhã já não mais existirão. Você é, dentre os rapazes da minha geração, o único que eu vejo - quando penso nisso - nas condições de tomar-lhe, um dia, a direção. Tem V. o talento equilibrado e profundo que requer a chefia de uma casa como esta. (...) São todos os nossos ideais de remodelação do Brasil e criação de uma mentalidade forte e alevantada que se abrem diante de nós. Que dirá V. disso tudo? Nem assim voltará V. atrás? Tenho certeza que sim, e, por isso, aqui fico à sua espera, para pormos mãos à obra, a começar de 1o de fevereiro. Do amigo certo, a) Julinho. São Paulo, 2 horas e meia da madrugada de 12 de janeiro (de 1925)".

A carta ainda dizia o salário oferecido (1,5 conto de réis, um bom dinheiro na época), uma vaga para Sud lecionar no Liceu Franco-Brasileiro e tocava no nome de grandes amigos de Sud que já trabalhavam no jornal como redatores, como Leo Vaz, Amadeu Amaral e outros. Sud acabou indo. Ficou no Estado até sair para ser redator-chefe de O Tempo, jornal criado em dezembro de 1930 por Miguel Costa. Depois, tornou-se Diretor da Imprensa Oficial do Estado, deixando O Tempo apenas quinze dias depois. Julinho tinha razão.

Tinha tanta razão que Sud acabou por ser mesmo diretor do Estado, de 1943 a 1945, só que isto ocorreu na época da intervenção de Ademar de Barros no jornal. Quando o jornal foi devolvido, Sud renunciou ao cargo, em dezembro de 1945.

Não se sabe o que foi exatamente que detonou a rixa entre o jornal e Sud. Sabe-se, no entanto, que os problemas começaram quando Sud foi nomeado professor da recém-criada Faculdade de Economia da USP e o jornal imediatamente criticou dois professores que não tinham diploma universitário (Sud era professor primário e jamais cursou faculdade alguma). A campanha durou um mês e fez com que meu avô pedisse demissão.

Minha família sempre disse que a inimizade tornou-se grande. Jamais ouvi o outro lado, pois à época em que comecei a pesquisar sua ha vida já estavam todos mortos. O fato é que não havia nada que se referisse a meu avô no jornal. É certo que ele faleceu em 1948, apenas dois anos após a discussão; mas tinha fama suficiente para merecer algumas páginas eventuais no jornal. Apenas sua morte foi publicada secamente.

Hoje, ao ver a foto no jornal com meu avô, fiquei emocionado.

Um comentário:

  1. Luiz Carlos Hummel Manzione

    O que quer que tenha ocorrido entre seu avô e a direção do Estadão está seguramente ligado aos fatos decorrentes da intervenção feita pelo Adhemar por ordem do Getulio.
    Você notou que seu avô é o unico com polainas?
    Histórica também a foto de um jovem Mindlin.

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