terça-feira, 16 de março de 2010

O SUBURBÃO DE BAURU

Trem de suburbios de Bauru em 1988, em foto de J. H. Bellorio

Pouca gente fora de Bauru sabe, mas durante alguns meses, a partir do dia 10 de dezembro de 1988, a cidade de Bauru teve seu trem de subúrbio. A FEPASA, na época cessionária das linhas da antiga Companhia Paulista na cidade, passou a operar este trem que, segundo alguns, era um trem político, ali colocado para agradar a alguma facção na cidade ou no Estado (jamais consegui descobrir quem) e segundo outros, seria uma tentativa de se colocar esse tipo de trem para atender às cidades paulistas que na época estavam já se expandindo bastante e já dando motivo para ter essa melhoria. Do resultado desta empreitada, poderiam sair trens também em Campinas, Santos e outras cidades do interior do Estado.

O fato é que ele partia da estação de Bauru e ia até a estação de Aimorés, bairro praticamente rural do município. Era puxado por uma locomotiva elétrica e, embora seja esta a tração recomendada para esse tipo de trens, ela impedia que a linha se estendesse para além da estação principal da cidade, entrando nas linhas da Noroeste e da Sorocabana, que jamais foram eletrificadas.

Nesse histórico dia 10 de dezembro, a primeira viagem partiu às 10 horas, levando dirigentes regionais da ferrovia (claro!), autoridades (lógico!) e (até) passageiros. A passagem custava paga CZ$ 30,00 – trinta cruzados, lembra deles? – 10 cruzados a menos que o ônibus urbano. O serviço funcionaria diariamente, inclusive aos sábados, domingos e feriados, entre as 6 e as 23 horas e trinta minutos, com intervalos menores nos horários de pico (entrada e saída do trabalho).

Eram dois carros de passageiros de segunda classe, reformados, mais duas locomotivas elétricas, que também foram reparadas para poder andar em curto percurso. A capacidade dessa composição era de 300 passageiros por viagem e o trecho de cerca de dez quilômetros era realizado em pouco mais de 20 minutos. Há fotografias que mostram a composição com duas locomotivas elétricas e tanto com um quanto com dois carros de aço-carbono advindos do Trem Azul, com pintura tipo Ave Maria”. As duas máquinas eram necessárias, uma em cada extremidade, pois não havia como manobrar nos pátios das estações terminais.

Além das paradas já existentes (Bauru-Noroeste, Bauru-Paulista e Aimorés), foram construídas mais três – na verdade, plataformas com uma tosca cobertura em eternit: Guadalajara, Distrito Industrial e Octavio Rasi, estas colocadas entre as duas últimas estações citadas. Triagem, embora no percurso, não tinha parada para esse trem. Alguns afirmam que no início a composição levada menos de 20 minutos, na verdade pouco mais de 15; no final – a iniciativa foi extinta em meados do ano de 1990 – até 40 minutos (!).

Por que foi extinta? Não se tem uma resposta clara, mas provavelmente por falta de interesse dos passageiros: vê-se, no entanto, que o trem já levava o dobro do tempo de percurso nos seus tempos finais. Desinteresse da Fepasa? Pressão de empresas de ônibus? Problemas operacionais? Possivelmente um pouco de tudo, típico de uma empresa que jamais foi séria em suas operações. Uma pena, pois essa iniciativa, se bem tocada, poderia gerar frutos em outras cidades. Os dois trens metropolitanos de Santos acabaram também: o TIM (1990-99 – Ana Costa-Samaritá) e o Valongo-Cosipa (1978-92); além do VLT de Campinas (1991-95), operado pela Fepasa.

A falta de seriedade do Governo e da Fepasa levaram ao fim de iniciativas que hoje seriam muito úteis às duas cidades e a outras onde isso jamais foi implantado.

2 comentários:

  1. Meu nome é Valdeni da Silva sou Pedagogo e mor em São Miguel Capital mas nasci em Aricanduva no estado do Paraná saí de lá aos 15 anos e hoje na internet busquei sobre Aricanduva e encontrei seu site aproveitei para viajar no tempo revendo as estações ferroviárias que fizeram parte de minha vida e de milhões de Sulistas,fiquei feliz pela lembrança mas triste pela situação em que está aquele patrimômio de riqueza histórica,de um valor cultural sem preço mas que jaz no esquecemento do poder público,estações que deveriam ser resprovetadas para serem museu,salas de leituras sala de informática para a população mas que a exemplo a de Aricanduva virou uma favela,isso mostra que o Brasil não preza sua cultura despreza o passado e não se prepara para o futuro.
    Sei que seu trabalho é merecedor de um premio pelo governo do Estado do Paraná,mas você é um exemplo de brasileiro que vê onde autoridades deveriam estar olhando.
    Sei que as chances de você ler esse e-mail é uma em um milhão mas se ler responda por favor e vamos juntos tranformar essas estações em um espaço de lazer e entretenimento para essa população que teve imenso prejuízo com o fim da linha do famoso Ouro Verde que ia de Maringá a São Paulo e do Misto que ia de Maringá a Ourinhos.
    Abraços
    Professor Valdeni
    valdenieduca@gmail.com

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  2. Valdeni, eu realmente nõ sei o que fazer. No duro, no duro, mesmo, recuperar qualquer dessas coisas só comprando e fazendo a gente mesmo. Senão, é coisa para prefeituras e empresas. Há 14 anos que estou pesquisando ferrovias, tanto sua historia quanto sua atualidade e a depredação e abandono só fizeram aumentar. Algumas estações e material rodante são recuperados por entidades, mas tudo acaba sempre tendo que passar pela mão da burocracia do governo. Abraços

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