quarta-feira, 3 de março de 2010

ESCOLA RISONHA E FRANCA

Escola em Dobrada, SP, em 1920. Autor desconhecido

Eu não sou professor. Até já fui por um tempo, mas há mais de trinta anos, e por pouco tempo. Mas sempre me assombrou a enorme quantidade de “reformas do ensino” que acontecem neste País.

Não vou dizer que é quase uma por ano, mas posso dizer que vi muitas. Não as conheço em detalhes. O pouco que sei sobre educação no Estado vem do tempo em que escrevi o livro da biografia de meu avô Sud, em 1996/97. Mesmo no tempo em que ele foi professor primário, Delegado Regional de Ensino e Secretário da Educação do Estado (no tempo, este cargo se chamava Diretor Geral do Ensino, cargo que ele ocupou pot três vezes), ou seja, entre 1910 e 1945, havia uma quantidade enorme de reformas. Inclusive as feitas por ele (bastante criticadas na época, por sinal).

Na verdade, não estou capacitado a discutir quais mudanças são ou foram boas e quais não, nem o sistema de ensino em si. O problema é que o bom senso mostra que reformas em excesso dificultam a implantação delas próprias e consequentemente o ensino em si.

Tenho assistido nos últimos dias à propaganda do Governo do Estado elogiando as reformas feitas recentemente, que todos sairão ganhando, alunos e professores, haverá cursos de capacitação etc. etc. etc. Todos aparecem sorrindo no comercial, todos parecem felizes e contentes. Isto não condiz com o que a rádio-peão fala, nem com o que os pais e até alunos comentam em geral, em conversas particulares, em jornais e nas televisões.

Ou seja: não acredito no que o comercial apresenta, mas, por outro lado, gostaria imensamente que fosse tudo verdade.

Nem vou entrar no problema dos vencimentos dos professores do Estado (ou dos municípios; que seja): desde o tempo de meu avô as queixas acerca dos “baixos salários” são muitas. Professor primário, ou em geral, sei lá, não ganha nada. Como ele pode trabalhar direito assim?

Por outro lado, parece-me que o atual sistema escolar está falido. Aqui, não falo somente das escolas públicas, mas também das particulares. Num mundo totalmente diferente do que era oitenta anos atrás, onde hoje temos a companhia da televisão, dos computadores pessoais, dos vídeo-games, das lan-houses e das famosas baladas, fora a queda na qualidade da educação familiar em geral e da proliferação da pornografia pública, como querer que um aluno goste de ir à aula por meio dia todos os dias?

Ou se colocam professores excelentes e motivadores para tentar contornar isto tudo, ou continuaremos a ver as barbaridades que vemos por aí em termos de escolas de todos os tipos: alunos desmotivados, mal-educados, viciados, traficantes etc. A impressão que fica é que o bom aluno hoje é uma exceção. A escola não é mais “risonha e franca”. Ela é uma atrapalhação vista pelos olhos de uma criança.

Há oitenta anos, ela ainda podia ser considerada um passatempo para crianças que, quando voltavam para casa, ainda tinham meio dia para brincar de jogos inocentes para quem vive hoje: amarelinha, pular corda, bolinha de gude, futebol.

Tudo isso veio-me à mente quando li ontem uma carta publicada num jornal, carta que foi enviada por um professor desgostoso com o que vê acontecendo (ler o texto). Não sei se o que ele relata é verdadeiro, mas a pergunta aqui é: ele é professor e escreve desse jeito? A carta, como foi publicada no jornal: “Como é que é a vida... tenho 56 anos, sou professor a 30 anos, não aguento mais dar aula... mas tenho que sobreviver né.... e não tem outro geito... não posso me aposentar ainda... agora um sujeito de 48 anos, que passou 30 anos preso (por roubo, homicídio, etc etc) o cara é aposentado... eta paizinho de merda!” Se o professor escreve assim, o que esperar dos seus alunos?

2 comentários:

  1. Parabéns pelo blog, sempre estou lendo as matérias publicadas, e também pesquiso meus ancestrais que são de origens italiana e espanhola.
    E o que me chamou atenção foi esta foto do colégio de Dobrada, pois minha família morou em dobrada por volta de 1919 e 1 920. Fico pensando será que tem alguns parente neste foto?
    Felicia

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