Na Internet, em uma lista de discussões sobre trem, por volta da meia-noite de uma quarta-feira, Antonio, Wanderley, Thomas e Renato faziam a comparação entre as estradas antigas, os ônibus e os trens da Santos-Jundiaí, anteriormente SPR:
“A SPR comprou caminhões e abriu o Rodoviário Santos-Jundiaí. Sem contar o ônibus que o povo chamava de "King-Kong". Embora tenha pisado nos (prejudicado) os trens do funicular com ele, era ruim na serra. Mais tarde, a SPR colocou os trens Cometa, Estrela e Planeta na sua linha.
Foi o melhor ônibus que o mundo conheceu...
Um deles foi restaurado.
Existe mesmo um King-Kong sobrevivente? Andei por uns tempos em listas de ônibus e consultei pessoal especializado no assunto, em busca de informações. Foram unânimes em confirmar que todos foram sucateados.
Sobrou só um desses funicobus, achado por pura sorte em um dos armazéns da Presidente Wilson, junto com um monte de outras tranqueiras. O dono salvou, restaurou e não deu satisfação a ninguém. Não havia como saber a cor correta, porque na pintura desgastada tinham camadas de preto e também de verde oliva, aí (...) optou-se por verde oliva e as letras em dourado claro. Tudo deu muito trabalho e muita despesa, especialmente o interior: não tinha nada a ver com ônibus comum, as poltronas eram de couro trabalhado, tapeçaria tipo veludo, detalhes dourados e estava mais para um carro de primeira da ferrovia do que para um ônibus comum.
Se bem que tem uma coisa dessa CGT (Companhia Geral de Transportes, da própria SPR) que eu nunca entendi... a SPR fazia concorrência para os próprios trens ? Esses ônibus são da década de 1930, quando o trem ainda era o que havia para se viajar, os ônibus, automóveis e caminhões não tinham nem como pensar em ameaçar, eram problemáticos e as estradas, além de poucas eram péssimas. Acho que só nos anos 1960, com o advento do rodoviarismo do Juscelino, é que eles começaram a ter condições de encarar os trens, tanto tinham que ganharam.
Realmente eu nunca entendi o motivo desses phunicobuses.
Se bem que, com a descida da serra com funicular, não sei se os trens da SPR conseguiam concorrer com os ônibus, mesmo com estes tendo de encarar a Estrada Velha. É curioso que, já na década de 1950, as pessoas ainda preferiam o trem para viajar entre SP e o interior. Contudo, tomavam o ônibus para se deslocar entre SP e Santos. Foi, por exemplo, o caso dos meus pais quando em lua de mel, no distante 1955. Ou mesmo em nossas primeiras viagens para a praia, na primeira metade da década de 1960.
Uma possibilidade é que os ônibus saíssem de um lugar mais acessível do que a Estação da Luz, no caso da Ipiranga e depois da Clóvis Bevilacqua, e também deixassem as pessoas bem mais perto das pensões de Santos, lá na praia, e não lá longe na Estação do Valongo, como faziam os trens. Já para Itanhaém, Mongaguá e Peruíbe, o pessoal sempre preferiu o trem, porque eram cidades bem menores e as estações ficavam perto dos seus destinos.
Correto. Contudo, no caso do litoral sul, não seria também pelo fato da estrada a partir de São Vicente não ser grande coisa? Aliás, havia estrada São Vicente-Peruíbe até a década de 1950?
Não, não havia. Nossas idas para Itanhaém eram sempre de trem, porque quando meu pai inventava de ir de carro tinha que ser pela praia. Passava um pouquinho da Ponte Pênsil e logo virava à esquerda e tome praia até lá, se parasse, atolava na areia molhada, ou encalhava no areião seco. Quem ia para Peruíbe só entrava na cidade em Itanhaém, ia pela avenida até onde hoje se chama Cibratel e aí tome praia de novo. Outra coisa que judiava muito eram aqueles canaizinhos de água que iam da terra para o mar cortando a praia: alguns eram fáceis de passar, outros, muito fundos, eram uma encrenca danada.
Pelo que estudei a respeito, o problema foi que com o surgimento das empresas de ônibus fazendo o percurso para o litoral, a viagem pela ferrovia se tornou mais demorada. O problema da ferrovia era a necessidade de fracionar as composições por causa do funicular. O tempo que antes não era notado pela falta de opção, passou a ser comparado com o tempo gasto pelos ônibus e isso se tornou um problema, com evasão de público para a novidade...
Como paliativo, a SPR adquiriu jardineiras e ofereceu o serviço até a chegada dos trens Cometa, onde esse TUD fazia o percurso de serra inteiro, sem fracionamento e consequentemente mais rápido. Dessa forma, o tempo gasto pela ferrovia se tornou menor e a paz reinou na SPR novamente. Estrela e Planeta vieram depois para aumentar a capacidade e gerar mais dividendos. O problema era dividido em dois pontos: Tempo e Custo. As estradas podiam ser ruins, mas a viagem de ônibus passou a ser mais rápida e provavelmente mais barata, pois, apesar do trem ser obviamente mais econômico, imagino que a tarifa cobrada não deveria ser barata.
Mas, de qualquer maneira, os trens deixavam as pessoas lá no Valongo, bem longe das pensões da praia... naquele tempo, a maioria das pessoas que iam a Santos ficavam em pensões no Gonzaga.
Não é a toa que, até hoje, os ônibus de SP para Santos ou vão até a Ponta da Praia ou até São Vicente, cobrindo toda a extensão de praias.
Na última vez que estive em Santos eu fui de ônibus, fui visitar um amigo que mora lá perto do pontão dos práticos. O tempo que o ônibus levou para cruzar a cidade, para ir da rodoviária até a Ponta da Praia, foi quase o mesmo que levou do Terminal do Jabaquara até Santos, a cidade está complicada.
Realmente... Essa versatilidade do ônibus realmente era forte. Essa foto (acima) mostra a estrada entre Santos e Cubatão. Era boa na época.
De fato, o trânsito urbano piorou muito em toda a Baixada Santista. Você teve sorte, porque de vez em quando desaba uma sujeira danada do Planalto que trava tudo aqui, desde a Henry Borden até o Valongo - e, se bobear, a serra da Anchieta também. Geralmente os ônibus que servem aos empregados da Cosipa chegam à entrada de SP ou São Bernardo bem pouco antes de chegarem no centro de Santos e São Vicente. O problema é depois.”
Aí o sono chegou e as mensagens pararam de ser trocadas.
quinta-feira, 28 de maio de 2009
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Falando em Listas de discussão, alguém aí freqüenta comunidades do Orkut ? Tem algumas comunidades muito boas, umas com milhares de usuários, outras com menos de 50 ... mas o que tem em quantidade não quer dizer que tenha em qualidade. Participo de algumas, e vejo que a qualidade e diversidade de assuntos relativos às ferrovias é muito extenso por lá, tem membros atuantes e muito entendidos do assunto.
ResponderExcluirFalando sobre a matéria citada acima, lembro-me (por fotos, claro) de como era complicado o acesso à zona sul do RJ, onde moro, no início do século XX, tarefa cumprida com esmêro pelos bondes da época, inclusive semana passada publicaram uma foto de Augusto Malta na primeira página do Jornal O Globo, mostrando Ipanema de início de século, um imenso areal, com pouquíssimas propriedades, mas com ... um bonde percorrendo o bairro de ponta a ponta ! Bons tempos devem ter sidos estes da matéria, estes aqui no RJ, em SP, em vários lugares onde os trilhos chegavam e levavam progresso.
Dado, eu não frequento Orkuts pr absoluta falta de tempo. As listas de discussão são mais light, dá para raciocinar melhor. Há informações em diversos pontos, simplesmente não consigo acessar todos. Quanto às histórias, são muitas. Gosto delas. Por isso conto algumas aqui. Abraços
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