A fotografia com a pergunta, ambas reproduzidas acima, estão presentes na página de abertura do meu site www.estacoesferroviarias.com.br há pelo menos seis meses. Nunca houve uma resposta de ninguém que seja. Não espero, realmente, que a resposta venha por e-mail. Espero que a resposta seja dada em um início de obras de restauração, por exemplo. Também espero que ela NÃO venha por um início de demolição. Mas eu esperava que, pelo menos nesse período de seis meses, algo mudasse nesta situação. Deve ter mudado, e para pior. As madeiras que restam ficaram mais podres, as paredes estão mais sujas e depredadas, a sujeira em volta também aumentou.
Por que esse prédio e não outro? Bom, eu explico. A estação ferroviária de Cordeiro, que hoje tem o nome de Cordeirópolis (desde 1944), foi inaugurada em 1876. Ela e o prédio, ou seja, a construção original não foi desmanchada para que fosse construída outra em seu lugar, como aconteceu com várias das estações que estão na linha da Companhia Paulista. Ela é o segundo prédio de estação original ainda em pé no Estado de São Paulo inteiro, por ordem de antiguidade. Prédio mais velho do que este, somente o da estação de Santos, e com igual idade, o de Cachoeira Paulista. São hoje 133 anos de idade. Por outro lado, em todos os prédios que sobraram de todos os construídos pela Companhia Paulista (considerada em sua época de ouro como sendo uma das cinco melhores ferrovias no mundo e a melhor do Brasil, descontando-se a curta e monopolista São Paulo Railway do tempo dos ingleses), este é o mais antigo.
Ali se bifurcava a linha de bitola larga – 1 metro e 60 – da Paulista, saindo composições tanto para Descalvado quanto para Barretos. Dependendo da época, estes comboios de passageiros vinham de São Paulo e eram desmembrados ali, com o acréscimo de outra locomotiva para a nova composição formada, ou havia uma baldeação de passageiros de um para outro trem. Por isso havia em Cordeiro um bar para a espera dos trens, no centro de uma plataforma triangular em curva, de onde prosseguiam a linha eletrificada para Rincão e a linha para Descalvado, para onde somente seguiam locomotivas a vapor e, a partir dos anos 1950, a diesel. Essa é a importância da bela estação de Cordeiro, ou Cordeirópolis, que ainda hoje, mesmo em ruínas, mantém-se bonita e imponente. Quanto ao ramal de Descalvado, já há pelo menos sete anos não existem mais seus trilhos, ou seja, ali não se bifurca nada, apenas trens cargueiros seguem direto para o norte do Estado.
Disseram-me, mas não sei se é verdade, que a Prefeitura da cidade adquirira a estação da hoje extinta Rede Ferroviária Federal. Se for verdade, por que a Prefeitura não age para consertar o prédio? Se não tem dinheiro, deveria pelo menos lacrá-la temporariamente e cercá-la para evitar invasões e depredações. Pessoas moram nas casas do pátio e usam a velha estação como banheiro, ponto de drogas, acampamento, local de “namoros”, “motel” etc. Uma vergonha, mas é isto. Se a Prefeitura não a adquiriu, a dona ainda é o espólio da Rede, então se justifica que a primeira não possa gastar dinheiro público com algo que não é dela, mas também ninguém exige que o espólio cumpra a sua obrigação de manter o imóvel decentemente.
O patrimônio — e, com ele, a história — vai se dissolvendo nas intempéries. Logo nada mais haverá para se restaurar. Ninguém parece se importar. Mas se alguém se importa, e com certeza há muitos que se importam, ninguém também se mexe. Portanto, a culpa também é de nós, brasileiros em geral, pois essa estação é um patrimônio do Brasil e não somente do povo e da cidade de Cordeirópolis. Ninguém exige que o local seja, pelo menos, limpo e não continue mais sendo como um ponto maldito numa cidade ainda pequena, que não devia ter de se privar de ter uma área tão grande e bonita nas mãos de poucos indigentes.
A culpa é de todos nós.
terça-feira, 5 de maio de 2009
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Estive recentemente na cidade de Cordeiropolis, e constatei pessoalmente que a estaçao começou a ser restaurada pela prefeitura, mas nao se se sabe ao certo as obras pararam. Silvio Rizzo - Ribeirao Preto SP
ResponderExcluirSilvio, eu não tive nenhuma notícia sobre isso: não sei, realmente, se a obra está seguindo ou não. Vamos esperar que sim. Obrigado
ResponderExcluirAlexandre e Ralph Vendo essa foto resolvi escrever para vocês .
ResponderExcluirSerá que vocês não têm informação sobre alguma "Associação", ONG , "Projeto", "Entidade", "Empresa" que se empenhe em preservar e restaurar as antigas Estações da Rede Ferroviária?
Sou de Cachoeira Paulista, e a estação daqui está em um estado lastimável, se continuar logo vai desaparecer.
Meu caro, não se trata de conhecer. Sei do estado da estação há anos. Trata-se de ter interesse e principalmente dinheiro para isso. Nào sei nem se a estaçõ já foi passada para a Prefeitura local (duvido) ou se (mais provavelmente) está ainda de posse do espólio da RFFSA. Enquanto não se souber quem é o dono e se há interesse e dinheiro, vai continuar assim, infelizmente.
ResponderExcluirPrimeiramente obrigada pela atenção... mas existem as tais entidades? Creio que ainda está no espólio da rede, mas, se houver interesse em se resolver o problema a rede estaria se desfazendo de seu patrimonio (nesse caso a Estação)?
ResponderExcluirNão, não existe uma firma especializada em restaurar ou recuperar estações ferroviárias.
ResponderExcluirMuito grata pelas respostas.
ResponderExcluirFirma especializadas não existem não, disso eu tenho conhecimento, mas , já encontrei ANPF-Associação Nacional de Preservação Ferroviária, se for ao site deles pode ver la fotos de restaurações em algumas Estações aqui do Vale do Paraiba.
e o IPHAN-Instituto do Patrimônio Histórico e Artistico Nacioanl. Ambos envolvidos na preservação e restauração de prédios tombados como patrimônio histórico.
Um abraço
Juliani
Juliani: o IPHAN não restaura nada, apenas avalia estações e bens para tombamento ou não. A ANPF também somente restaurou a própria estação que têm em comodato (Sabaúna). Abraços
ResponderExcluirO prédio retratado na foto não é o da Estação de Cordeirópolis. Ele era (ou é) muito mais bonito. Ela, a Estação, articulava o ramal de Descalvado e a continuidade da linha principal, que seguia para Rio Claro.
ResponderExcluirComo entroncamento ferroviário, Cordeirópolis tinha muitas construções ao longo da ferrovia. Algumas muito bonitas. Uma delas ainda a vejo, inteira, ao transitar de carro pela rodovia que passa por Cordeirópolis. Como bicho da terra, não desgrudo do lugar.
O prédio da foto estava ao lado do trilho para Descalvado. Acho que era um prédio de escritório ou de coordenação de manutenção. No conjunto, pouco importante. Não era a Estação. Nela, a Estação, estive muitas vezes. Era térrea e, em ponto menor, muito parecida com a Estação de Rio Claro, mas com duas plataformas de embarque e desembarque. Não sei se ainda subsiste ou se foi destruída.
Definitivamente, este prédio da foto não é, não foi e não será o da minha Estação.
Mais. Cá entre nós, não creio que o edifício retratado na foto tenha qualquer valor histórico ou arquitetônico. Enfim...
Abraços
PS: Depois de tudo o que escrevi, assaltou-me uma dúvida. E se a memória me é traiçoeira? E se este edifício, estragado pelo tempo, foi mesmo o lugar da antiga Estação? Mesmo assim, não brigo pela sua manutenção. A Estação da minha memória é muito mais imponente, importante, bela e inesquecível que este feio edifício que a foto me mostra. Prefiro a destruição do feio real pela preservação do belo, sempre presente na memória.
José Antonio Küller
José, é sua opinião. Mas este é a estação de Cordeirópolis, sim. Sua conservação não deve ser feita somente porque ele seja bonito, mas também porque é a mais velha estação da Paulista ainda em pé, já há 134 anos.
ResponderExcluirRealmente a culpa é de todos nós. Não é de nenhum governo, empresa, órgão, regime ou cartel. A culpa é só nossa, um povo que luta com todas as forças quando o assunto é futebol e até se mata, mas que nem de longe enxerga o mundo como algo coletivo. Vê o "público" como "sem dono". Não sou pessimista, percebo que as coisas já foram bem piores e só tendem a melhorar, cada vez mais com educação. Mas tenho que admitir que fico triste em ler comentários, principalmente de gente que se diz tão apaixonado pela sua terra, acreditar que devastar uma construção quase sesquicentenária irá preservar sua "bela" memória.
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