Jean Villin era francês. Jamais perguntei a ninguém da família quando ele chegou ao Brasil e a Porto Ferreira, mas ele já deveria estar na cidade no inicio dos anos 1920, época em que se casou com Nalsira, filha de um português que era dono do hotel em frente à estação ferroviária da cidade.
Nalsira era professora e irmã da esposa de um tio-avô meu, Urbano, este irmão de minha avó materna. Chamávamo-la de tia Nalzira, mesmo não sendo nossa tia. Nessa época, era uma grande honra ser chamada de tia ou tio por quem não era sobrinho. Era uma deferência a alguém de quem se gostava muito. Se não fosse o caso, era seria “Dona Nalzira”, mesmo.
Tiveram três filhas. Vieram para São Paulo e moraram por um bom tempo em frente à casa de Sud e de Maria, meus avós, na rua Capitão Cavalcanti, na Vila Mariana. Assim como Nalzira, professora primária, era tia, Jean era o tio Jean – tio Jan, como se pronunciava. Tio Jean era pintor, desenhista... artista plástico, como se chama hoje. Tenho alguns quadros dele. Ele desenhou nos primeiros livros infantis de Monteiro Lobato. São dele os desenhos do marco zero da Praça da Sé (alguém já viu?).
Em São Paulo, sempre os encontrava na casa de minha avó. Às vezes iam em casa. Lembro-me de ter ido ao casamento de sua filha mais nova em São Paulo. Quando podiam, iam para o Porto, onde tio Jean encontrava meus pais e tios para andar de barquinho no rio Mogi-Guaçu e pescar (a foto acima foi tirada por volta de 1950 e mostra tio Jean no rio Mogi em Porto Ferreira).
Nos anos 1960 tio Jean e tia Nalzira – que aqui em São Paulo havia me dado aulas particulares em casa – mudaram-se de volta para “o Porto” – Porto Ferreira. Por volta de 1970, fui umas três ou quatro vezes à cidade, e sempre me encontrava com tio Jean, que saía pela cidade com sua lambreta – é, lambreta. E eu. Várias vezes, na garupa. Eu tinha 18, 19 anos naquela época.
Aí foi um longo tempo ser vê-los, até que, em 1978, eu e Ana Maria fomos a Ribeirão Preto. No caminho, decidimos, sem avisar, parar no Porto e visita-los. Lá estavam eles, com todos os filhos – era uma festa. Entramos de carona. Jamais fomos tão bem tratados. Tio Jean com suas gargalhadas repetia sempre: “como van as creonças?”, com seu inconfundível sotaque francês. Tia Nalzira servindo uma comida deliciosa feita ainda em fogão a lenha. Uma beleza.
Morreram, infelizmente, poucos anos depois. Ô gente boa. Gente não tão fácil de se encontrar na vida.
quarta-feira, 13 de maio de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Apenas para constar - mais informações sobre tio Jean em http://www.portoportal.com.br/materias/0050.htm
ResponderExcluir