Em janeiro de 1968, mudaram-se as instalações que ainda restavam no pátio. A oficina do departamento de tração e a reparação foram para outras estações; a de locomotivas a vapor (já pouco usadas então) passou para as estações de Uberaba e de Franca; a de carros e vagões, para Campinas, e as das diesel-elétricas para Ribeirão Preto-nova. No mesmo mês, foi demolida a plataforma de pedras, para unir as ruas General Osório, que era a que antes começava exatamente à frente da porta de entrada da estação velha, e a Martinico Prado, sua continuação do outro lado. Antes, apenas a rua Duque de Caxias, no ponto em que mudava o seu nome para Luiz da Cunha, tinha uma passagem de nível que permitia aos automóveis cruzar a linha, exatamente ao lado do prédio da estação. Vários desvios foram removidos e somente ficando os trilhos que agora eram parte do ramal de Guatapará. Com isso, desapareceram todo e qualquer traço do velho prédio de embarque de passageiros. A agencia da estação de Ribeirão Preto-ramal, demolida, foi transferida para um pequeno cubículo, a “JP”, perto de onde estava a rotunda. Esta estaçãozinha tinha até chefe: Antonio de Freitas, vindo da estação de Igaçaba. Um ano e meio depois, em 10 de outubro de 1969, a área que um dia abrigou a estação e todo o pátio de manobras e oficinas foi, como um todo, oficialmente extinta. É Dirceu Baldo quem conta, muitos anos depois: "No início de 1968, eu e meus pais fomos de trem para São Paulo, e morávamos perto da estação; ela tinha acabado de ser demolida, e embarcamos na JP. Uma composição com uma diesel e dois ou três carros levou-nos pela alça de ligação até Ribeirão-nova: aí pegamos uma litorina para a Capital." Ainda assim, os trilhos do ramal ali ficaram, com tráfego, restos do antigo tronco da Mogiana, até outubro de 1976, com a JP, e os trens passando. O ramal fechou e aí foram retirados às pressas para a inauguração da estação rodoviária, que se deu em novembro de 1976. Para os lados da rua Guatapará, onde estava a rotunda, foi construído um prédio para abrigar a Câmara Municipal, e parte do pátio foi transformado em jardim. Sobraram apenas algumas pequenas casas de turma, na parte de trás dos jardins, que ainda hoje estão bem conservadas. Haviam demolido até o prédio em que até 1940 era o ponto de partida do histórico ramal da Fazenda Dumont, e que depois do fechamento dessa ferrovia passou a servir como escritório da Mogiana.
Esta história, que conta um triste episódio da história de Ribeirão Preto, está com um pouco mais de detalhes na página referente a esta estação no meu site sobre o assunto. A sua pesquisa foi feita por mim mesmo há nove anos atrás, quando passei quase cinco dias no Arquivo Histórico da cidade procurando os dados, devido ao fato de haver lido, pouco antes, um livro sobre a cidade, escrito por um advogado local e que não somente não citava quando o fato havia ocorrido, como ainda se orgulhava de ter participado da decisão de demolição do pátio histórico. A principal fonte foram as edições do “Diário da Manhã” da época, lidos um a um. E mais: são relativamente raras as fotografias da estação. Parece que o “efeito Goebbels” foi amplo: a impressão que se têm é que a cidade sentiu vergonha da bela estação que tinha, ou que sente vergonha do fato que acabou com ela.
A vida seguiu, e a rodoviária ali construída deteriorou rapidamente o local, inclusive o centro comercial da cidade. É uma área que não é bem cuidada, ao contrário da cidade em si, muito agradável e bonita. A locomotiva a vapor ali exposta, que veio da Usina Amália, em Santa Rosa do Viterbo, está enferrujando ao tempo. Os trens de passageiros, nos 32 anos restantes, até 1997, pararam na estação nova, situada num local, que, apesar do que se previa, jamais se desenvolveu. Hoje, já há 12 anos sem trens de passageiros, é um local que pouca gente conhece ou freqüenta. Apenas raros funcionários da atual concessionária da linha, a FCA, da Vale, ali comparecem para manobrar ou partir comboios cargueiros para Uberaba ou Campinas. A ferrovia, pelo menos para o povo, é somente saudade na cidade que cresceu por causa dela e do café. (Fotos: originalmente dos álbuns da Cia. Mogiana, anos 1910. Acervos Antonio C. Belviso e Museu da Cia. Paulista, Jundiaí, SP)
Ralph,
ResponderExcluirRetirei a postagem sobre Coelho Neto e João Pessoa - o problema, além da data e a praça.
Em Cambuquira não existe essa praça, o que deu a entender que João Pessoa esteve mesmo por lá, já que era costume na época, políticos da República se encontrarem por lá. Inclusive Marechal Deodoro e Floriano Peixoto ficaram algum tempo por lá tratando da saúde com a água mineral. Marechal Deodoro, inclusive, já muito doente faleceu na cidade.
Mesmo assim, obrigado pelo aviso.
Saudações,
Gilberto Lemes.
Já dei uma olhada no seu blog e gostei. Principalmente o caso das ferrovias, um triste epsódio de nossa história, inclusive na minha cidade.
Na verdade, eu também gostei de seu blog. Quanto à praça João Pessoa em Cambuquira, pela foto, dá para nota que a praça da estação teve esse nome logo após a revolução de 1930 e depois mudou outra vez. Algo muito comum nessa época em diversas cidades do Brasil, pois Vargas tinha o poder de passar um cidadão de herói a vilão em pouco tempo. Miguel Costa foi um exmplo. Abraços - Ralph
ResponderExcluir