quinta-feira, 14 de maio de 2009

REPRESENTANTES DO POVO

Leio todos os dias a seção de cartas do jornal O Estado de S. Paulo. Na verdade, nem sei por quê. Parece que sou masoquista ou tenho tendências ao autoflagelamento. Ainda não cheguei a tal ponto, mas eu me pergunto todos os dias: quem é que perde tempo escrevendo tudo o que escreve para os jornais? Quem são essas pessoas? De vez em quando vejo algum nome conhecido. E noto também que há diversas pessoas que escrevem que o fazem constantemente.

Na enorme maioria das vezes eu concordo com suas reclamações ou desabafos. A maioria das cartas vai contra a Câmara ou o Senado. Algumas contra a Presidência da Republica. Como o jornal é de São Paulo, muitas falam da Prefeitura. Não há quase cartas contra a Assembleia Estadual ou as Câmaras de Vereadores. O caso destas duas últimas se explica: elas não trabalham em geral, especialmente a da Capital. Vereadores da Capital somente são conhecidos para quem vota neles, pois eles não trabalham. Deputados estaduais também não fazem nada – raramente se vê alguma notícia, sendo que o motivo é: o que eles fazem, além de apoiar o Governo do Estado?

Juntemos as coisas. Claramente os escritores das cartas estão contra os deputados federais e os senadores, por causa das atitudes por eles tomadas, seja pela elaboração de leis imorais e inconstitucionais, quanto pelo constante envolvimento em escândalos. Claro, sabemos disso pela imprensa falada e escrita, mas, pela quantidade de acusações e provas, parece que o risco de a imprensa estar errada é muito pequeno. Há também gente que diz que representa o povo, mas diz que “se lixa” para a opinião pública; e há um presidente que diz que a crise é culpa de gente loira de olhos azuis – racismo puro, mas que vai ficar por isso mesmo.

Até na época dos malfadados (para alguns) governos militares a opinião pública tinha alguma influência nas decisões do governo: estourava algum escândalo nos jornais e raramente alguma coisa não era feita para resolver o problema, mesmo que fosse alguma atitude inócua ou paliativa. De FHC para cá, parece que as notícias de primeira página dos jornais denunciando todos os tipos de escândalos e rapinagens feitas por “homens públicos” não dão em nada – o governo não se manifesta, e quando o faz é para defender os pobres infelizes que praticaram somente “deslizes”.

É por isso que considero o sofrimento de quem escreve para os jornais: eles estão certos, pedem providências, mas absolutamente nada acontece. Parece que suas cartas são como palavras ao vento, que se ouve nos primeiros segundos e logo a seguir desaparecem no éter. Não os censuro – mas temo pela sua saúde. Eles mostram o que está errado e absurdo, mas não são ouvidos. Se não são ouvidos (ou lidos e não ouvidos), de que adianta escrever?

E tome leis como a cota racial, que claramente vai contra o conceito de que “todos os brasileiros são iguais perante a lei”. Tome calote de precatórios – ou seja, não basta o aborrecimento de se perder anos lutando por um direito seu que o governo não cumpriu; quando você ganha, não leva, e agora a lei confirma que você não levará mesmo. Ou seja: eu posso dever para o governo, que serei cobrado e executado, mas o contrário não é válido.

Todos são mesmo iguais perante a lei? Onde? No Brasil não é, mesmo que a Carta Magna diga isto. E agora querem aprovar o aumento do número de vereadores nas Câmaras Municipais. Para quê? Por acaso esses senhores eleitos como vereadores representam o povo? Infelizmente, a maioria representa apenas a si próprios, suas famílias e seus amigos, e, ainda por cima, pouco fazem no sentido de representar o povo que os elegeu. Seria melhor se as Câmaras e Assembleias não existissem. Não servem, mesmo, para nada. E não consigo pensar em exceções em termos de instituições: elas existem apenas como um ou outro deputado ou vereador que conheço.

2 comentários:

  1. O Painel dos Leitores é mesmo uma das minhas seções favoritas. Mesmo que os desabafos sejam inócuos, é muito bom ver que existem leitores/cidadãos atentos no mundo e ansiosos por expressar sua indignação.

    ResponderExcluir
  2. Cris, também acho. Mas é frustrante para mim e mais ainda para eles que absolutamente nada seja feito em relação a fatos lamentáveis consumados e provados, deixando a todos nós com cara de palhaços.

    ResponderExcluir