quinta-feira, 21 de maio de 2009

EM CASA QUE NÃO TEM PÃO...

Uma notícia publicada ontem sobre a MRS – concessionária da ferrovia que basicamente engloba as linhas de bitola larga da antiga Central do Brasil e da E. F. Santos a Jundiaí, nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais – fez-me mais uma vez perceber que nem o Governo nem as empresas estão preocupados com um assunto muito sério: o futuro a curto prazo dos trens metropolitanos e do próprio transporte de cargas na região metropolitana de São Paulo.

Enquanto o Rio de Janeiro resolveu já há quase quarenta anos o problema do transporte de cargas que passa pela cidade, com a construção da linha em bitola mista Japeri-Arará, livrando a região metropolitana do Rio do conflito entre trens suburbanos e de carga (pois deixou as antigas linhas Auxiliar e do Centro para o transporte de passageiros), em São Paulo, a construção do ferreoanel em volta da Grande São Paulo, do qual se fala pelo menos desde os anos 1950, foi sucessivamente postergada. É verdade que uma visão de futuro da Sorocabana (que já era do Governo paulista nessa época) nos anos 1930 levou à construção da linha Mairinque-Santos pelas regiões oeste e sul da cidade e já sendo então a primeira etapa do anel ferroviário, tudo parecia correr bem nesse sentido. Nos anos 1970, foi entregue também pela RFFSA a linha unindo Rio Grande da Serra a Suzano, somente para cargueiros. Faltava, no entanto, unir a linha da Sorocabana a Rio Grande da Serra e Suzano a Pinheirinho (Itaquaquecetuba), fora a ligação norte, da qual um projeto com seu traçado definido jamais foi sequer discutido – ligaria Itaquaquecetuba a algum ponto da Sorocabana, com intersecção na linha da Santos-Jundiaí em algum ponto da região norte da área metropolitana. Esta parte – a maior parte – jamais foi construída e ainda estava em discussão quando da concessão para a MRS em 1997 das linhas citadas mais acima.

Para se ceder a concessão das linhas das antigas Central e EFSJ à MRS houve que se fazer um acordo com a CPTM para que esta cedesse espaço para os trens cargueiros continuarem passando em todas as suas linhas. O acordo funcionou razoavelmente no início, quando não o serviço de trens metropolitanos e o numero de cargueiros ainda era razoavelmente pequeno por causa do abandono total das ferrovias que tentavam se recuperar àquela época. Hoje, porém, ele está no limite, mas, o que é pior, em doze anos nada foi resolvido e o ferreoanel também não foi construído.

Sua construção envolve o Governo Federal, o Governo do Estado, as Prefeituras (devido às prováveis desapropriações envolvidas), a MRS e a CPTM, esta do Estado. E todos somente discutiram, não chegando a conclusão alguma por todo esse tempo decorrido. Há teimosia em excesso por parte da MRS e da CPTM e descaso dos Governos, que não percebem o problema que o excesso e saturação de tráfego por essas linhas irão causar. Como as cargas cruzam São Paulo pelas linhas da antiga RFFSA estas passarão a sofrer atrasos cada vez maiores por causa do tráfego de trens metropolitanos, também cada vez maior, e por sua vez, estes não poderão ser expandidos na velocidade que necessitam. Resultado: todos perdem, e o tráfego de automóveis na Capital, já caótico, sofrerá mais ainda por falta de opção ferroviária. Isto agravado pelo fato de que carga que não pode seguir por trem segue por caminhão, daí...

Nos últimos anos cogitou-se em não fazer o que falta do ferreoanel, mas sim estabelecer linhas a mais para uso exclusivo de cargueiros ao longo do que já existe. Porém, esta ideia também não avançou. O único trecho onde existe esta linha adicional para cargas é o trecho entre o Brás e Santo André. Enquanto isso, o trecho entre a Luz e o Brás é o mais critico para a CPTM – basta olhar o mapa desses trens que existe nos próprios carros da empresa. A MRS afirma que até 2012 “ainda dá”, mas que depois será o apocalipse.

E todos continuam parados e discutindo. Pelo menos um problema já existe hoje: um dos três trens turísticos que a CPTM quer implantar (e somente em fins de semana, não estamos falando da semana inteira) ainda não saiu exatamente por causa de rixas dela com a MRS – sempre lembrando que o trem turístico São Paulo-Jundiaí já funciona há mais de um mês com excelente aceitação. Em casa que não tem pão, todos gritam e ninguém tem razão. Governos, MRS, CPTM – por favor, acordem e tirem o orgulho e a incompetência de lado e pensem na coletividade! Pelo amor de Deus!

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