domingo, 17 de maio de 2009

O MAIOR GOVERNADOR DE SÃO PAULO

O maior Governador que São Paulo já teve esteve por apenas seis meses no cargo. Assumiu como Presidente da Província (era assim que se chamavam então os governadores) em 24 de outubro de 1867 e deixou-a em 24 de abril de 1868. Não existiu até hoje ninguém que tenha feito tanto pelo Estado e em tão pouco tempo quanto Joaquim Saldanha Marinho, um pernambucano de Olinda que foi também Presidente de Minas Gerais, deputado e senador do Império. Nos tempos em que São Paulo era província, e pobre, sem influência nos destinos do País, os Presidentes eram nomeados pelo Governo Imperial e na maioria das vezes, além de não serem paulistas, entravam e saíam sem ter grande interesse por uma Província que pouco representava no contexto, sendo mais pobres do que outras como a Bahia, Pernambuco, Minas Gerais, Rio de Janeiro e a Capital do Império, a cidade do Rio, desvinculada então da Província do mesmo nome. Embora no passado os paulistas tenham tido uma influência muito grande no povoamento das outras capitanias e nas lutas com os espanhóis, franceses e holandeses pelo País inteiro, sua força interna era pequena. Tanto que houvera mais um desmembramento de território para a criação do Paraná (1853) quatorze anos antes de Saldanha Marinho. Ainda por cima, essas duas Províncias e mais a de Santa Catarina eram Províncias que estavam despovoadas em mais de 50% de seus territórios (sempre na parte oeste), mostrados nos mapas como “territórios desconhecidos e povoados por índios”.

Embora Morgado de Mateus (1765-1775) e alguns de seus sucessores na Presidência de São Paulo tenham se preocupado com esta situação de baixo povoamento com bons ou não tão bons resultados, os bons resultados somente conseguiram ser cristalizados com o que Saldanha conseguiu: o estabelecimento de uma rede ferroviária a partir de Jundiaí, com a criação da Companhia Paulista de Estradas de Ferro em 1868, um ano depois de a São Paulo Railway (depois E. F. Santos a Jundiaí), construída e operada por ingleses, a partir de sua ação catalisadora junto aos fazendeiros de café do chamado então Oeste Paulista (região de Campinas, Jaú, Araras, Descalvado e outras cidades). Nesta ação, “peitou” os ingleses, que tinham a concessão para seguir de Rio Claro a Jundiaí mas não estavam nem um pouco dispostos a dela se utilizar. Os motivos eram: na época já estavam satisfeitos com a condição de “funil” (para o porto de Santos) dos carregamentos de café que chegavam até a ponta da linha em Jundiaí (com enormes dificuldades de transporte, diga-se de passagem) e também bastante receosos com os resultados que poderiam advir da Guerra do Paraguai, então em curso.

Conseguiu forçá-los a repassar a concessão para a empresa que ele havia ajudado a criar para os fazendeiros (gente de dinheiro como os Prado e os Souza Queiroz, por exemplo) e não sossegou enquanto a ata de constituição da empresa não estivesse assinada. Não quis ser acionista no empreendimento. Considerado pela diretoria da antiga Paulista como o fundador da empresa, ele retirou-se de São Paulo quando o novo Governador assumiu o cargo em abril de 1868. A Companhia Paulista foi uma das ferrovias mais rentáveis do País e considerada no seu apogeu como uma das melhores e mais eficientes ferrovias do mundo. Foi a última ferrovia privada a desaparecer no País, em 1961, estatizada à força pelo Governador Carvalho Pinto.

É possível que se Saldanha não tivesse conseguido o empreendimento ele viesse depois com os próprios ingleses, que precisariam expandir os trilhos para conseguir mais café. Mas muito tempo teria sido perdido. Saldanha teve a visão de que não se poderia esperar. Todos sabemos que o desenvolvimento das ferrovias no Estado, muito rápido a partir da Paulista (Ituana em 1870, Sorocabana em 1871 e Mogiana em 1872) e do lado leste (E. F. São Paulo-Rio em 1869 e Central do Brasil a partir do Rio de Janeiro no mesmo ano), levou à riqueza do Estado transportando café e outros produtos e possibilitando direta ou indiretamente o povoamento do oeste paulista de uma forma muitíssimo mais rápida do que vinha ocorrendo desde Morgado de Mateus. Em São Paulo, Saldanha Marinho foi nome de uma estação da Paulista, em Dois Córregos (Estação desaparecida em 1941) e nomeou o edifício-sede da Companhia Paulista na rua Libero Badaró, em São Paulo. É nome de algumas ruas no Estado e também fora dele. Muitos de seus antecessores e sucessores em São Paulo também são nomes de ruas, sendo que da maioria destes, isto é tudo que se deve lembrar, pois pouco representaram para o desenvolvimento do hoje mais rico Estado do País.

Saldanha Marinho foi também escritor e um dos constituintes de 1891. Morreu no Rio de Janeiro em 1895, aos 79 anos de idade.

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