quarta-feira, 20 de maio de 2009

TARCO OU VERVA?

Barbearia do Virgílio, Palmital, 2003: era o Adriano quem posava como cliente

Quem não se lembra dos velhos salões de barbeiros, cheios de velhinhos bigodudos que cortam cabelo e fazem a barba e conversam sobre política, futebol e mulheres? Bom, é cada vez menor o número de pessoas que deles se recordam e cada vez menor também o número desses salões. Aliás, chamar de salão, pelo menos hoje em dia, é altamente contraditório, pois a maioria dos que conheci ou vi fotografias não era maior do que uma garagem de automóveis. Hoje em dia ainda se vai ao barbeiro ou se vai ao cabeleireiro masculino? Da mesma forma, em muitos cabeleireiros hoje em dia quem corta cabelos são mulheres, e também em muitos casos o salão é para os dois sexos.

É, quem está sempre discutindo em uma lista de discussões pela Internet sobre trens acaba caindo em coisas totalmente fora de contexto. Saímos às vezes numa discussão que se origina em ferrovias para uma fazenda, uma indústria, uma casa antiga, um velho salão de barbeiro. Outro dia deu nisto – um amigo enviou uma foto de um velho salão de barbeiro em Palmital. Alias, nem tão velho assim, pois a foto tem uns 5-6 anos e o salão já tinha uma série de móveis com fórmica, e a cadeira não era daquelas tão antiga – embora ainda fosse de ferro. Eu me lembro das cadeiras Ferrante, toda de ferro (fora o assento e o encosto, claro). A marca era notória. Talvez ainda existam, mas não vendem mais cadeiras desse tipo, obviamente.

O Adriano – que mal passou dos trinta mas é um pesquisador de coisas antigas – jura que já não somente ouviu a expressão do título (Tarco ou Verva?) como ouviu a maior (Arco, Tarco ou Verva) em algum lugar do passado. Com o R substituindo o L nas cidades do interior paulista, “tarco” é óbvio, mas “verva” talvez nem tanto: é o produto “acqua velva”, que servia para passar na barba feita. O talco também e idem o álcool (arco). Daí a pergunta: qual o senhor prefere após a barba?

Eu fui a alguns desses barbeiros nos últimos anos: lembro-me de um em Campinas, outro em Itapira e outro em Araraquara. Este último era fantástico: tudo ali era antigo. Foi em 2003: ele ficava ao lado do pequeno, mas antigo Hotel Metrópole, na rua São Bento, centro da cidade de Araraquara. Infelizmente fechou: a Prefeitura era a dona do hotel e quando colocou o velho prédio de 1922 à venda os inquilinos o deixaram, inclusive a barbearia e seus velhinhos simpáticos, com quem também discuti, claro, sobre os velhos tempos da ferrovia na cidade. Afinal, velhinho tomava trem. Hoje em dia, só mesmo para ouvir a longa buzina das diesel que cruzam a cidade. O hotel reabriu muito bonito e mantendo o aspecto da época em que era o principal da cidade, mas a sala da barbearia virou outra coisa – uma loja, acho, não prestei muita atenção, pois fiquei triste quando vi que não era mais a barbearia, quando lá estive no principio deste ano.

Antes de escrever sobre isso fui dar uma olhada na Internet para ler algo sobre os velhos salões da Capital. É incrível como existem relatos deles. Ainda há alguns deles, pelo que li em um dos textos: na rua Turiassu com a Cardoso de Almeida, por exemplo, nas Perdizes. Há outros – em todos, “mulher não entra”, como ainda um no bairro do Paraíso. Eu me lembro de um na avenida Alfonso Bovero, nos anos 1960, aonde meu pai me levava para cortar o cabelo. Também não existe mais.

Também não lhe perguntam mais se quer “arco, tarco ou verva”.

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