Na minha procura de dados e fotografias para as estações ferroviárias do Brasil, já percorri diversas estações pelo Brasil afora. Consegui fotografar pessoalmente em oito Estados desde pelo menos 1996, desde que comecei a inana.
Estive, afora São Paulo, onde moro, no Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia. Nos outros Estados não tive o prazer de ir, embora conheça alguns de antes desse ano.
Ali encontrei estações de todos os tipos e usos. Muitas foram demolidas; muitas estão ocupadas de forma formal ou informal, de forma oficial ou não. Boa parte delas são ocupadas por gente humilde, que eventualmente me convida para “entrar e tomar um cafezinho”. Gente muito boa.
Em Reversão, SP, o dono da casa não quis posar para a fotografia, pois esta poderia “roubar sua alma”, típica crença indígena. No final, resolveu sair na fotografia (ver acima). Em Mapele, BA, o morador simples de uma estação em ruínas ocupava a parte em que o teto não havia desabado e me convidava para conhecer a estação, “que ele estava ocupando para salvá-la da demolição total”. Em Visconde de Soutelo, SP, o morador orgulhoso de estar “preservando a estação para a Fepasa” me ofereceu café. Em Piranguinho, MG, me ofereceram pé-de-moleque. Em Alferes Rodrigues, SP, me convidaram para entrar e “a tirar fotografias da estação que eles tão bem preservavam”.
Em Barão de Ibitinga, SP, os moradores afirmavam que “a estação estava da mesma forma de quando foi desativada” – o que parecia ser verdade. Em Poço Preto, SC, a estação estava impecável – e era de madeira, uma das poucas deste material que sobrou. Seu ocupante ali morava e tinha também um bar. Em Paula Lima, SP, as crianças que ali viviam fizeram questão de posar para fotografias.
Muitos desses casos ocorreram já há muitos anos, o que significa que a situação pode ter mudado: as pessoas terem saído, ou seus ocupantes serem outros. O fato é que estas pessoas faziam questão de preservar o local da melhor forma possível dentro de sua condição financeira. Algumas estavam muito bem, outras nem tanto, mas percebia-se que o estrago não havia sido feito por eles: no caso de Mapele, o inquilino havia se mudado depois do estrago feito.
Em Venerando e Santa Veridiana, região de Mococa e Santa Cruz das Palmeiras, os moradores são donos legítimos e têm uma situação financeira melhor que os dos outros casos: todos eles moram no local e preservam-no de forma fantástica, interessando-se em conhecer o máximo possível de sua história ferroviária. Na de Venerando, exatamente hoje, o seu morador está dando uma festa de reinauguração, depois de mais uma restauração: fui convidado, mas infelizmente não pude atender ao convite.
Há muitos outros exemplos como estes.
São essas pessoas que realmente, às suas expensas, preservam parte do patrimônio ferroviário do Brasil: se não fossem as “invasões” ou, em alguns casos, a compra do imóvel para preservação, esses prédios provavelmente teriam ido para o espaço. São eles que formam a equipe do IPHAN caboclo, ou, no caso de São Paulo, também o “Condephaat caboclo”: tombam o imóvel e o mantém às suas custas. Pelo menos enquanto estiverem vivos.
O Brasil agradece a todos eles, de coração.
sábado, 30 de maio de 2009
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Realmente, de longe, o maior patrimônio ferroviário é mesmo o humano. Também sou testemunha, pelo menos no Triângulo Mineiro e em Goiás, que muitos dos prédios que se mantiveram em pé foi graças à ocupação das pessoas. Geralmente cuidadosas e hospitaleiras. E isso se estente a outros prédios ferroviários. Com tantas mudanças administrativas e tantas reformulações dos traçados e mudanças de instâncias proprietárias, vários bens imóveis permanecem em incertas e permanentes disputas judiciais. Enquanto isso, muitas famílias cuidam dos prédios e sendo que várias delas possuem origem ferroviária.
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