segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O PATO DONALD

Desde pequeno leio revistas em quadrinhos. Eu disse “leio”: ou seja, nunca parei de ler. Uma das primeiras revistas que comprei foi O Pato Donald nº 322 em 7 de janeiro de 1958. Era uma terça-feira. A revista nessa época era semanal e saía todas as terças-feiras, impreterivelmente. Eu estava em Santos, passando férias no apartamento que minha família tinha no Embaré. Como fiquei lá o mês inteiro, comprei também os três números seguintes. Com quatro edições, resolvi, em meus seis anos de idade, começar uma coleção.

Embora eu comprasse outras revistas – Mickey, Mindinho, Tom e Jerry, Vida Infantil, O Tico-Tico (ainda existia o Tico-Tico, em fim de linha!) e outras, meu xodó era mesmo O Pato Donald. Com o tempo, fui conseguindo os números atrasados – os primeiros vinte e um números, no entanto, somente os consegui em 1973. Essas revistas eram em tamanho grande e eram mensais, tendo sido lançadas nos anos de 1950, 1951 e 1952.

Colecionei “O Pato” até mais ou menos o número 1.600, que saiu quando eu já era adulto, no final dos anos 1970. Eu aguardava as terças-feiras para ir à banca e comprá-los, mas o grande prazer de fazer isso acabou mesmo foi muito antes, no final dos anos 1960, quando o maior desenhista da família Pato deixou de desenhar: Carl Barks.

Ele era o autor das histórias longas do Tio Patinhas, que ia com seus sobrinhos combater os Irmãos Metralha e a Maga Patalógica, além do Pão-Duro Macmonei, nos confins da Terra. Belas histórias, inteligentes, na verdade, histórias mais para adultos do que para crianças, dadas as ironias e as críticas sociais que somente Barks com seus argumentos e desenhos conseguia produzir. Como o célebre diálogo na história “O elemento mais raro do mundo”, publicada no Brasil em 1958: “Eu ofereço seis milhões de cruzeiros pelo Bombastium” – ao que o bandido responde: “Eu ofereço a mesma quantia mais todas as pias de cozinha do povo feliz da Brutópia!” Patinhas então lhe pergunta quantas pias de cozinha tinha “o seu povo feliz”, e o bandido responde: cinco. Tio Patinhas, então, oferece, seis milhões de cruzeiros mais seis pias de cozinha – e leva o Bombastium. Brutópia, claro, era a União Soviética, em plena Guerra Fria.

Não posso também me esquecer da viagem do Tio Patinhas ao Vietbang, capital Bangsoc. Carl Barks também escreveu e desenhou histórias que mais tarde serviriam de inspiração para Steven Spielberg nos filmes de Indiana Jones, inventando as armadilhas das quais os patos sempre escapavam e que Indiana Jones acabou também por escapar... das mesmas.

Sem Barks, a qualidade das histórias do Pato caiu muito. Por ser teimoso, continuei comprando as revistas por muito tempo, até que parei de vez. Não leio mais O Pato, mas leio revistas da DC Comics com Superman e seus “amiguinhos”. E olhe que faz tempo: desde 1961 até hoje. E li muito Asterix, claro.

Vale a pena. Histórias em quadrinhos “limpam” o cérebro, embora tragam diversas bobagens. São bobagens mais adequadas do que as que a gente tem lido nos jornais de hoje.

4 comentários:

  1. E não é que achei mais alguém que também era fã das histórias do Carl Barks?? Por sorte a abril lançou entre 2004 e 2008 todas as histórias do Carl Barks no formato americano, e eu consegui juntar toda a série, com mais de 30 livros, e qual não foi a minha surpresa ao ver que meu sobrinho, que dizia não gostar das histórias em quadrinhos da disney, quando viu as do Carl Barks passou a gostar, dizendo que as histórias do Carl Barks tem algum sentido?
    Algumas coisas são mesmo universais.

    Abraços!

    Mario Favareto
    São Paulo - SP

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  2. Pois é, Mário. Mas o fã-clube do Barks é bem grande. Para que v. tenha uma idéia, em 1980 ele ganhou um prêmio da associação dos quadrinhos, que premia desenhistas das histórias da DC e da Marvel. Ele foi hors-concurs. E ele desenhava patos e não gente!!!

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  3. Nem me lembro de quando comecei a ler o Pato Donald, mas sei que, até a adolescência, comprava todos os Pato Donald, Zé Carioca (em semanas alternadas), Mickey, Almanaque Tio Patinhas e Almanaque Disney. Parei quando a qualidade dos desenhos e das histórias caiu assustadoramente, mas tenho ainda um armário repleto de antigos exemplares destas revistas.

    P.S.: lendo as postagens mais antigas, li sobre a sua operação. Espero que esteja tudo bem agora!

    [ ]s

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  4. É, Gil, eu me lembro que na época eu fiquei muito bravo com o fato de eles terem dividido as semanas entre o Pato Donald e o Zé Carioca. Apesar disso, a numeração era seguida. Só depois de muito tempo, já nos anos 1980, eles separaram as numerações, mas as duas revistas seguiram quinzenais... Ralph

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