domingo, 16 de agosto de 2009

NOMES DE RUAS

É incrível como mudam os nomes de ruas na cidade de São Paulo. Não sei se é assim em todos os países, mas no Brasil exageram. Não é à toa que quando se citam os projetos de leis da Câmara Municipal, a denominação de ruas aparece sempre em primeiro lugar. É mesmo não ter o que fazer.

A troca de nomes de ruas não somente atrapalha a localização das mesmas como também acaba com nomes tradicionais às vezes centenários. Em vários casos tal mudança gerou protestos por parte dos moradores, mas na esmagadora maioria das situações não houve volta.

Olhando para mudanças mais antigas, basta observar os mapas de ruas da Capital da primeira metade do século – e até mesmo mapas mais recentes. A rua Oscar Freire se chamava alameda Iguape. Nenhuma surpresa se notarmos que o loteamento da vila América (era como se chamava o bairro, depois passou a Cerqueira César, nome também hoje em desuso) tinha nomes de ruas paralelas à avenida Paulista homenageando cidades do Estado. Nos anos 1920 trocou-se o nome para Oscar Freire somente dessa rua, que saiu da regra do bairro, portanto.

Na Vila Mariana, o trecho final da Lins de Vasconcellos chamava-se rua São Jorge. Depois que uniram a avenida que vinha do Cambuci à rua São Jorge, unificaram o nome. A rua Estado de Israel era a rua do Tanque. A Diogo de Faria, rua do Gado. A avenida Jabaquara tornou-se, durante a era Vargas, avenida Presidente Vargas, voltando ao nome original somente porque os paulistas jamais engoliram o ditador.

A estrada velha para Campinas (ou Jundiaí) saía do centro da cidade. Era o nome do que hoje é a sequencia da rua das Palmeiras, General Olimpio da Silveira, o trecho inicial de dois quarteirões da Cardoso de Almeida, seguindo pela rua Turiassu, Carlos Vicari, Guaicurus e Felix Guilhem, cruzando o rio por uma ponte que não mais existe e encontrando a avenida Raimundo Pereira de Magalhães. Todos esses nomes vieram mais tarde e seccionaram a estrada original, dificultando as localizações.

Há casos piores, em que não se mudou o nome das ruas, mas se deram nomes diferentes para diferentes trechos de uma rua que não tinha nome. Caso das duas avenidas Marginais, do Tietê e do Pinheiros. Olhem nas placas: são diversos nomes, nunca “Marginal”. Por mais feio que o nome “Marginal” possa parecer, é ele o nome tradicional que todos conhecem. Experimente dizer a alguém que um imóvel fica na avenida Condessa Elisabeth Robiano ou Engenheiro Billings para ver se ela localiza. Há trecho em que a Marginal do Pinheiros tem dois nomes: rua Hungria e Nações Unidas, entre as pontes da Cidade Jardim (que, aliás, se chama oficialmente Engenheiro Roberto Zuccolo) e da Eusébio Matoso.

Os novos nomes que se dão às ruas hoje em dia têm outros problemas: um, são compridos demais: dificultam a memorização, pois coloca-se o nome inteiro da pessoa homenageada (além do título, “engenheiro”, “prefeito”, “vereador”). Por outro lado, qualquer pedaço de entroncamento com um jardinzinho no meio virou praça com um nome. As placas colocadas nas esquinas em que isso ocorre mostram esses nomes, que ninguém conhece, e não os nomes das duas ruas que se encontram ali. Meu Deus, como isso complica a nossa vida.

Lembro-me quando, nos anos 1970, mudaram o nome da Estrada dos Zavuvus, em Santo Amaro, para “Comendador Yervant Kissajikian”. Adivinhem quem sabia pronunciar o nome. E ali está até hoje. Na mesma época, um número enorme de ruas que ficavam originalmente no antigo município de Santo Amaro, incorporado à Capital em 1934, mudaram de nome justamente por causa de terem nomes em duplicidade com outras ruas da Capital. Exemplo: a rua Prudente de Morais, no Campo Belo, mudou o nome para Antonio de Macedo Soares. E muitas outras.

Portanto, não saia de casa sem seu guia na mão, pois, por mais que v. conheça a cidade, pode ser surpreendido com um novo nome em lugar daquele que v. estava careca de conhecer. Na foto acima, tirada por mim em 2003, a placa (que já não está mais lá) na rua Itapaiúna, no Morumbi, mostrando ainda o nome original dali: Estrada Velha do Morumbi.

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