Durante anos, desde 1996, eu fiz pesquisa de estações ferroviárias in loco. É claro que, tendo listado até agora 4.500 estações pelo Brasil todo, eu não teria condições de conhecê-las todas. Devo ter chegado a umas 600, talvez – número totalmente “chutado”, já que nunca contei a quantas estações fui. O problema não é somente o tempo de viagem até chegar aonde elas estão – mas também encontrá-las.
Se há alguma placa de indicação para a vila onde elas estão, fica mais fácil; porém, muitas vezes não há nenhuma indicação. E não é fácil encontrar pessoas nas estradas rurais; atualmente, é tudo um deserto humano. Quando encontra, tem de ser alguém mais velho – os mais novos não têm geralmente a menor ideia de onde fica uma estação que eles jamais precisaram usar.
Já usei diversas formas para encontrá-las: placas de indicação, perguntas aos mais velhos, pergunta aos choferes de táxis da praça principal da cidade, pergunta na Prefeitura...
Em São José do Rio Pardo, peguei um motorista de táxi e levei-o comigo. Ele conhecia mesmo as estações: e como elas ficavam dentro de fazendas, ele mesmo abria e fechava as porteiras. Não havia indicação nenhuma, mas ele conhecia. Fomos até Guaxupé. Em São Simão, encontrei um velhinho num posto de gasolina onde eu havia parado para perguntar onde era a estação de Sucuri. O velhinho se ofereceu para me levar. E olhe: eu jamais haveria conseguido chegar, o caminho era confuso demais. Mas chegamos.
Em Piracicaba, perguntei onde era a estação de trens da Paulista. Resposta: “tem trem por aqui?”, dada por uma jovem policial de trânsito. Na mesma cidade, tentei achar a estação Barão de Rezende. Ninguém sabia. Sabia que era no bairro do mesmo nome, mas, demolida há anos, ninguém lembrava exatamente onde era. Em vilas muito menores, pergunto às pessoas mais velhas. Elas geralmente sabem. Às vezes, não. Como em Cândia, perto de Pontal: “ali na rua de baixo tem um lugar que os pessoar diz que foi estação”... havia, realmente, a plataforma da estação; o prédio já havia sido demolido.
Muitas estações jamais foram encontradas por mim. Geórgia (perto de Cândia), Azevedo Marques (perto de Viradouro), Santa Irene (perto de Bebedouro), Pântano (perto de Descalvado), Engenheiro Vazquez (perto de Itatinga), Chave Macaia (próxima a Nova Europa) e Joá (perto de Guariba) são exemplos. Talvez já tenham sido demolidas, mas o fato é que ninguém as conhece – ou eu, claro, não encontrei as pessoas corretas. O fato é que a memória destes locais se perdeu quase que completamente. Às vezes a vila inteira desaparece sob um canavial. Como a Colônia da Fazenda Palmeiras, perto da estação ferroviária de Remanso, estação entre Cordeirópolis e Araras, que essa sim, sumiu “inundada” por um deles. Quando a visitei, estavam demolindo as casinhas da colônia (veja foto acima, de 1996) – a estação já tinha ido para o saco há muito mais tempo – e a igreja estava sendo “desmontada” para ser transferida para uma fazenda, como de fato o foi logo depois. Essa eu presenciei, mas e as outras inúmeras que desapareceram? Joá, citada acima, parece ter sido outro caso desses, pois o leito da antiga linha (ramal de Jaboticabal, desativado em 1969) passava onde hoje está um imenso canavial.
terça-feira, 25 de agosto de 2009
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Olá Sr. Ralph,
ResponderExcluirA bem da verdade, seu trabalho efetivamente resgata, para os tempos da internet,a memória feroviária.Tem gente que somente vai ficar sabendo de estações, de trens e companhias antigas graças ao seu sitio eletrônico. Não importa que os trens de passagerios voltem um dia... o passado já foi armazenado em bytes, agora é a posteridade. Não fosse assim, muita coisa seria perdida como " lágrima em chuva" , parafraseando o personagem Roy, de Blade Runner. Enfim, seu trabalho, que acredito ser feito por paixão, não por interesse financeiro, merecereria um incentivo estatal, monetário sim, por que não? Acaso não há custo nessas re-descobertas, no resgate da memória de um sistema de transporte que chegou a ser a condição de sobrevivência de um país?
Assim, acho que o senhor está redondamente enganado. Graças ao seu trabalho, a memória ferroviária não está perdida não...
ResponderExcluirola estou fazendo um trabalho sobre a ferrovia de bento de abreu e vi qe vc fez uma documentario sobre ela estou a procura de uns dados será que vc poderia me ajudar nao sei o seu email o meu é ligia_tassomiranda@hotmail.com obrigada
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