segunda-feira, 10 de agosto de 2009

LEMBRANÇAS DO CIENTÍFICO

Para quem não sabe, “curso científico” era como se chamava o Segundo Grau nos anos 1960, pelo menos no Colégio Visconde de Porto Seguro, onde estudei. Havia também o clássico, ou “Línguas Modernas”, que era frequentado pelas moças. Assim como nele havia poucos homens, no Científico havia poucas moças. Fiz o primeiro ano em 1967 e terminei em 1969.

O Colégio nessa época ainda ficava na Praça Roosevelt, onde estava desde 1913. Saíram lá por 1972 para o Morumbi, creio. Depois instalou-se lá o Colégio Caetano de Campos, que (não sei se ainda mantendo o nome) usa o prédio até hoje.

Boa época. Muitos dos meus colegas são meus amigos até hoje. Lembro-me do segundo ano, onde as duas classes do científico e a do clássico foram instaladas no prédio anexo (à direita de quem olhava da rua), alugado pelo Porto Seguro para esse ano, pelo menos. Como ele ficava fora do pátio do prédio maior, era acessado por uma escadaria e tinha um portão próprio para a rua. A liberdade dos alunos era maior, a bagunça era maior. O prédio foi devolvido pelo Colégio e hoje está em ruínas. Não sei quem é o dono. Uma pena, é um belo casarão do início do século 20 (veja a fotografia acima, tirada por mim em 2008).

Como havia um ou dois dias em que tínhamos uma aula à tarde, íamos almoçar na cidade. Íamos a pé pela rua da Consolação até o largo do Paissandu e entrávamos na rua Antonio de Godói. Lá havia a Casa Italiana, que funcionou até uns anos atrás, com muito boa comida, uma pizza deliciosa e preços baratos. Não havia nenhum problema em andar pelo centro. Não havia os drogados e mendigos de hoje. Até a passagem subterrânea da rua Xavier de Toledo, em frente ao Mappin e ao Municipal, estava aberta. Geralmente parávamos lá para ver as exposições fotográficas que a Prefeitura tinha ali embaixo. Hoje está fechada e abandonada.

Aproveitando ainda o intervalo entre as aulas da manhã e da tarde, também íamos às lojas e comprávamos os discos (elepês) novos que saíam na época. Foi uma verdadeira festa quando um de nós comprou e trouxe para a aula da tarde o Sergeant Pepper´s Lonely Hearts Club Band, dos Beatles, hoje um elepê lendário.

Depois das aulas da tarde, íamos para casa, mas como havia tempo, também muitas vezes percorríamos a pé parte do caminho, acompanhando alguns colegas que moravam não muito longe da escola. Um deles morava numa casa na própria rua Augusta, a duas quadras da praça Roosevelt, num lugar que ainda não era deteriorado como hoje. Outra morava numa travessa mais acima, a Fernando de Albuquerque.

Grande parte morava no Campo Belo e no Brooklyn. Esses iam tomar o ônibus na avenida Nove de Julho ou na rua Augusta, para depois tomar o bonde de Santo Amaro. Depois que ele acabou, em março de 1968, ficaram órfãos e passaram a se virar de outro jeito. Nota: esse pessoal era geralmente de famílias abastadas, mas nem por isso deixavam de usar ônibus e bondes. Bem diferente de hoje.

Também durante a maior parte do tempo em que fizemos o Científico tivemos de aguentar as obras na Praça Roosevelt. De um grande “campo” asfaltado que era, que abrigava uma feira livre todas as quartas-feiras e sábados, tornou-se no início de 1970 uma praça horrenda coberta de concreto. As obras seguiram exatamente durante o tempo em que fiz os três últimos anos. O principal problema era o ruído do bate-estacas, que prosseguia manhã e tarde sem parar. Também havia um problema na saída das aulas, porque a cerca de tábuas da obra invadia a rua Olinda (hoje Guimarães Rosa) e estreitava a passagem para aquele monte de alunos que deixavam ao mesmo tempo a escola por volta do meio-dia. Quem esperava os filhos de carro tinha de parar na rua Gravataí.

Bons tempos.

4 comentários:

  1. Sr. Ralph, vou muito na Rua Guimaraes Rosa, local onde está instalada o Setor de Execuções Fiscais da Justiça Federal. O Caetano de Campos (hoje) tbém está lá, e o local tem uma frequencia de gente estranha, um misto de mendigos e os chamados "emos". Bem, se no passado, para alguns, os hippies eram o que mais tinha em relação a comportamento estranho de jovens, os emos são verdadeiramente gente de outro mundo - ou será que nós é quem somos? E a casa deles parece ser a Praça Roosevelt.

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  2. Embora eu não tenha cursado o Porto Seguro, uma grande parte de amigos meus o fez, e era comum eu, a caminho do cursinho, que ficava na Rua da Consolação, passar pelo lindo prédio da Praça Roosevelt para uma conversa rápida ou, às vezes, um lanche em alguma lanchonete próxima. Fiquei bastante preocupado com o destino do prédio, quando o PS mudou para o Morumbi, e a notícia de que o prédio passaria a ser ocupado pelo Caetano de Campos, embora não fosse a ideal (todos sabemos como o Governo toma conta de seus prédios...), era ao menos melhor do que uma demolição. Faz tempo que não passo por lá (moro em Santo Amaro e vou muito pouco ao Centro), espero que o prédio ainda esteja em bom estado. Mas, pela foto, o anexo, infelizmente, está abandonado. Uma pena, lamentavelmente, São Paulo é uma cidade sem memória...

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  3. O prédio do antigo Porto, hoje Caetano de Campos, é tombado pelo CONDEPHAAT há muito anos. Não é garantia de nada, mas também é melhor do que não ser. É considerada a única construção no estilo da época do Kaiser Guilherme II existente no Brasil, construção de 1913. Ralph

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  4. Depois da desmilitarização do governo federal começaram essas políticas paternalistas que hoje favorecem a expansão da criminalidade. E na época dos militares os alunos não eram expostos a professores favoráveis a uma anarquia generalizada, o que favorece a perda do respeito de alunos por professores.

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