sexta-feira, 10 de setembro de 2010
SANTA ESTUPIDEZ, BATMAN!
Quais foram as consequências do choque de um ônibus com uma composição cargueira próxima ao pátio ferroviário da estação de Americana, no Estado de São Paulo, na noite de anteontem? Bem, além de nove (ou dez, não ficou claro) pessoas mortas e de uma série de reportagens em jornais de todo o Brasil, houve também uma série de aproveitamentos políticos do acidente.
Uma delas: o Ministério Público Federal de Piracicaba quer saber quais são as condições da via férrea em Americana. Bom, na verdade, boa parte da via permanente das ferrovias e também da ALL pelo país inteiro é ruim. Porém, isso não teve qualquer influência sobre o acidente, pois o cargueiro estava passando em velocidade relativamente baixa (para um trem que transportava soja do interior para Santos, com cerca de 80 vagões, segundo li em algum lugar) - falando em termos de ferrovia, pois estava em zona urbana densamente povoada - e não parou porque é simplesmente impossível fazer isso em curta distância para um monstro desse. Quem devia ter parado e não o fez por falta de atenção foi o motorista do ônibus.
O que realmente teve muita influência foi o descaso das prefeituras e da ferrovia com as passagens de nível na cidade. Independentemente de quem tem de colocá-las, isto já deveria estar discutido e resolvido há muito tempo atrás. Sobre isso, o Ministério Público não se manifestou. E ontem, não muitas horas depois do acidente, aconteceu outro em Ibaté, cerca de 120 km à frente na mesma linha, também numa passagem de nível, quando uma locomotiva isolada se chocou com um automóvel, matando seu único ocupante. Sinalização? Como sempre, não havia.
Seria interessante, também, saber por que a ALL está colocando cancelas em todos os cruzamentos em nível na cidade de Curitiba e não está fazendo isso no resto das cidades por onde passa... essa notícia também surgiu hoje.
Para piorar as coisas, o digníssimo prefeito da cidade já disparou uma perola: por causa do acidente, vai tratar de fazer uma variante por fora da área urbana da cidade para que o trem passe, "livrando" a cidade de seus trilhos. Com isso, não somente ele poderá construir uma "linda" avenida, como também eliminará toda e qualquer possibilidade de se usar o leito atual para o tráfego de trens urbanos - VLTs, por exemplo.
Parece que a população está emburrecendo no Brasil. É muito mais barato e sensato manter a linha onde ela está e colocar cancelas e sinalização eficiente nos cruzamentos da cidade que construir uma variante por fora dela. Como diria Dick Grayson, o Robin: "Santa estupidez, Batman"!
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Exatamente estupides com um toque de ignorancia se nao me engano no centro de americana ha duas pn's duas isso jutificaria uma obra bilhonaria?
ResponderExcluirSanta ignorancia
sugiro o prefeito de americana retirar todas as ruas e avenidas da cidade afim de zerar a taxa de acidente de transito no municipio.
alias esse negocio de contorno ferroviario esta virando moda e ta cada vez mais saido caro tao caro que é melhor construir uma ferrovia nova por fora de todas as cidades e desativar a antiga pq todo prefeito quer tirar os trilhos da cidade.
Ralf...vc tem toda razão, santa estupidez mesmo....vao fazer de americana o que fizeram em Rio Claro!!!!!! não dá para permitir... moro em Cordeirópoplis, neste pacato lugar em que ninguem faz nada pela estação, e depois do acidente de Americana, aqui ta parecendo um desfile de apito da ALL.....as locomotivas mal chegam e disparam os seus apitos.....eta saudades das máquinas russas e seus imponentes apitos!!!!!!
ResponderExcluirPosso fazer outra sugestão estúpida: que tal mudar toda a cidade para um dos lados da linha? Assim acabariam as pns.
ResponderExcluir"Exatamente estupides com um toque de ignorancia se nao me engano no centro de americana ha duas pn's duas isso jutificaria uma obra bilhonaria?"
ResponderExcluirCaros colegas, é isso! eu participo da teoria de que essas abobrinhas que ouvimos não são, pelo ao menos agora, emburrecimento da população, e sim política.
No Brasil, e na maioria das "democracias" ocidentais se usa em larga escala as táticas de propaganda usadas pelos nazitas (criação de goebels), se repete ao extremo uma idéia até que ela seja aceita como verdade.
Se fala em obras milhonárias o tempo todo, para resolver problemas simples. O objetivo lógico é fazer com que se ache que só essas obras nos salavaram de nosso problemas cotidianos, a redenção, e assim fazer com que a sociedade ache tolerável mais um sangramento de dinheiro público.
Afinal de contas, o que é mais difícil de se fiscalizar, a instalação de meia dúzia de cancelas, ou a obra milionária de um contorno ferroviário?
Uma obra de metrô ou uma diarréia de projetos para a copa do mundo...
De toda forma, parece-me que nos estertores da Fepasa estava sendo construída uma variante na região, a qual teria condições técnicas mais favoráveis para os trens pesados de soja que viriam da então Ferronorte. É até possível ver viadutos inacabados dessa variante na pista nova da Rodovia Bandeirantes, próximo de seu entroncamento com a Washington Luiz.
ResponderExcluirNunca vi um mapa dessa variante. Será que ela se desviava dos centros urbanos - e de Americana?
De toda forma, não adianta apenas construir variantes. Elas poderão sofrer da "síndrome de Congonhas", ou seja: são originalmente construídas em lugar ermo mas, décadas depois, graças à incúria de nossos governos, são cercadas pelas cidades, que passam a clamar pelo desconforto causado por elas.
Sim, Gorni, era a variante Hortolandia-Santa Gertrudes, que eliminaria todas as estações por ali: Sumaré, Americana, Tatu, Limeira, Cordeiropolis...
ResponderExcluirNo caso ferroviário, o efeito congonhas, pode até ter efitos benéficos.
ResponderExcluirQuando uma variante é REALMENTE necessária, mesmo que seja engolida pelo centro urbano anos depois, a área de domínio dessa variante serve como corredor natural para a implantação de um sistema de trens urbanos ou VLTs.
No brasil não é feita a etapa final, mas me lemmbro de um exemplo.
O alargamento da linha auxiliar da EFCB, feito inicialmente para receber os trens de carga da bitola larga em direção ao porto do rio, deixou de ter esta função como sua principal servindo mais atualmente aos trens de subúrbio do ramal de Belford Roxo.
Os outros exemplos não passaram de projeto, como a reativação da ligação São Bento-Ambaí com trens de suburbio, ou a reabertura de parte da linha Austin-Carlos Sampaio, ou as experiências da central com tração diesel na EF Rio douro antes da abertura da linha São Bento-Ambaí.