quinta-feira, 2 de setembro de 2010

ALIENAÇÃO TOTAL NO FUTEBOL

Santos x Palestra (perdão, Palmeiras) na Vila Belmiro, em 1917

Os últimos acontecimentos no futebol brasileiro - e, em particular, no futebol paulista - levantam um assunto que pode se tornar um problema muito mais sério do que já é hoje. A extrema rivalidade entre as torcidas, principalmente as uniformizadas, parece ter se transferido para as diretorias dos clubes.

Em primeiro lugar, as torcidas: estas parece que adotaram seus times - Corinthians, São Paulo, Palmeiras, até a Portuguesa com seus poucos torcedores, Santos e outros como verdadeiros deuses ao qual rendem verdadeiros cultos religiosos. Basta ver, por exemplo, as cenas do centenário do Corinthians, onde uma festa de torcedores, diretorias e jogadores se transforma em declarações de amor que se assemelham a adorações aos ídolos. É incrível. E não é porque é Corinthians, não: isso acontece com todos os outros, apenas esse time está mais em evidência por causa do ano de seu centenário.

Depois, as diretorias: ao contrário do respeito que existia entre elas até dez, sei lá, vinte anos atrás, hoje em dia portam-se como se fossem verdadeiros "Olimpos" em guerra entre si. Falam um de outro com desprezo e desdém, como se, isoladamente, cada um desses clubes pudessem sobreviver sozinhos. O episódio do Morumbi e do suposto novo estádio do Corinthians no caso Copa-1914 mostram um emaranhado de cordas submersas num mar de lama, onde a política e mentiras correm soltas. E ainda tinha - ou tem - o Palmeiras e a Portuguesa correndo por fora, além do tal Piritubão.

O presidente do Corinthians diz que "o estádio somente vai sair porque o clube é confiável" é uma mentira deslavada, pois qualquer um no Brasil sabe - inclui ele - que nenhum clube de futebol no país é confiável. Nunca foi. Nem os que são geralmente citados pela imprensa como "modelos", como o São Paulo e o Internacional de Porto Alegre, são minimamente confiáveis. Isto quer dizer: não empreste um tostão furado para nenhum deles, pois o risco de não ter seu retorno é praticamente de cem por cento.

Por fim, os jogadores: os mesmos que hoje dizem juras de amor aos seus clubes se vendem por qualquer quantia a mais que se lhe seja oferecida, principalmente se vier da Europa, Ásia ou até Estados Unidos, em euros ou em dólares. Afinal, são profissionais: mas não agem como tal. Beijam as suas camisas na altura do distintivo sem a menor cerimônia de três em três meses - em equipes diferentes. E alguém já reparou na cara e nos gestos que muitos deles fazem ao comemorar gols? Os que fazem a cara de mais raivosos e gestos mais obscenos são os idolatrados pela torcida. Ou seja, colaboram para a violência no esporte, ao desacatarem muitas vezes seus colegas de profissão no clube adversário e também a torcida "inimiga", a mesma em que jogaram ou jogarão com pouco tempo de diferença.

Quando eu era moleque, nos anos 1960, sabia decor as equipes dos times, não só do mesu, mas dos outros também. Era fácil. O time pouco se alterava, jogador só saía do time quando estava machucado, e voltava quando se recuperava, o reserva voltava para a reserva. Os times jogavam sempre com os mesmos esquemas, não ficavam mudando a equipe ou o sistema de jogo por que iam enfrentar um time mais forte e mais fraco. Hoje, não dá para lembrar o time de dois meses atrás... aliás, nem o de hoje. Isso é bom ou mau? Bem, o amor à camisa, que fortalece o esporte, era, sem dúvida, maior, dado o grande período de tempo em que os jogadores permaneciam em seus times. E já eram profissionais.

Tempo em que para uma festa de um clube eram convidados todos os outros. E que o treinador - ou técnico - era um mero distribuidor de camisas numeradas.

Realmente, hoje, com as religiões clubísticas, todo mundo vai à igreja - os estádios. Não há padre e ninguém ouve sermões, só vê o jogo e ainda torce para aparecer uma briga para animar mais... e ainda por cima, quando o time perde, ele pode depredar ônibus, trens, metrô, matar torcedores de outros times e depredar as salas de troféus do seu próprio time, pois sabe que nada vai acontecer. No jogo seguinta, ele poderá estar lá de novo para adorar seus semi-deuses coordenados pelo seu Deus maior - seu time.

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