domingo, 12 de setembro de 2010

PERCORRENDO VELHOS CAMINHOS

Avenida Cidade Jardim em dois tempos: 1930 e 2010

Hoje, domingo, dei uma pequena saída para ver a situação de antigos caminhos rurais na região da divisa municipal entre São Paulo e Santana de Parnaíba. Nos mapas da Sara Brasil de 1930, feitos para a prefeitura da Capital, há inúmeras estradas em regiões afastadas do centro que hoje são em sua grande maioria áreas urbanas, porém muitas habitadas pela população carente.

Fui à região de Perus, na área da via Anhanguera naquele ponto. O mapa de 1930 não mostra a rodovia, que ainda não existia; mostra, no entanto, mais ou menos na latitude onde está hoje o trevo de acesso desta via ao bairro de Perus algumas estradas - poucas - e córregos. O córrego principal, ali, é o Santa Fé, nome hoje de um pequeno bairro naquela região e também de uma parada ferroviária da E. F. Perus-Pirapora na barra desse rio no Juqueri-Guaçu, mais ao norte.

No que seria o lado direito da atual rodovia, a estrada para o Jaraguá; à esquerda, saindo desta, a estrada de Parnaíba. Porém, se olharmos um mapa de hoje, a situação é totalmente estranha, e é preciso um pouco de "ginástica cerebral" para descobrir o que hoje existe por ali. Além da via Anhanguera, sobrou apenas um curto trecho da estrada do Jaraguá nesse ponto, que acompanha a rodovia até desaparecer depois de uns 300 metros. A parte mais ao norte chama-se hoje Estrada de Perus e termina nesse bairro, junto à linha férrea. Mudaram seu nome, o que não é ilógico - não confundir com outro trecho da estrada do Jaraguá que ainda existe com esse nome, mais ao sul.

Sobrou também a estrada de Parnaíba, mas sem continuidade - hoje ela não se liga com a antiga estrada do Jaraguá. Dá para notar que a construção da via Anhanguera nos anos 1940 acabou com boa parte das poucas estradas que existiam no seu caminho. Para confundir mais, a estrada de Parnaíba de 1930 chama-se hoje estrada de Pirapora. Pirapora era, até 1959, um bairro, um distrito do município de Parnaíba (hoje Santana de Parnaíba). Não saberia dizer o motivo da mudança do nome em algum ponto do passado. Talvez porque ela entrasse pelo norte de Parnaíba e seguisse para o atual bairro da Fazendinha, de onde se podia seguir mais rapidamente para Pirapora. O fato é que a estrada hoje tem placas oficiais: Estrada de Pirapora.

Andei de carro por ela. Só dá para se a tomar ao sul do córrego Santa Fé; o mapa nem mostra qualquer ponte nem continuidade do outro lado do rio, sentido Anhanguera. A estrada desce para o sul e depois faz uma curva seguindo para oeste. Enquanto é plana, ainda mantém algum aspecto de estrada velha: algumas chácaras com construções mais antigas existem à beira da rua, asfaltada (exceto o pequeno trecho próximo ao córrego).

Porém, a partir do momento em que ela sobe um morro e o desce em curvas, é tomada por um bairro mais pobre. Em seguida, volta a subir, mas nem tanto: a um determinado ponto (na esquina com uma rua chamada "Recife", com uma placa mal feita) o asfalto desaparece. Seria ali a mudança de município? Não sei, esse trecho mais para a frente o mapa não mostra. Não segui por ele. Deve dar na região da fazenda Itaiê e de lá seguia para a atual Tenente Marques, em Cajamar, que depois continua pela Fazendinha, em Parnaíba.

Ainda se pode ver, apesar da invasão habitacional, muita mata nativa em volta de alguns trechos da estrada.

Nem sempre, porém, é possível andar por uma estrada antiga. Como trechos das duas estradas citadas acima, algumas desapareceram. Em 1927, a São Paulo Light aprovou a colocação de trilhos de bondes na avenida Cidade Jardim, até o seu final, no então novíssimo bairro do mesmo nome. Seu final não era o de hoje, na entrada da ponte sobre o rio Pinheiros. Era no início da avenida das Magnólias, que fica onde hoje acaba o túnel que sai da Juscelino. Todo esse trecho, que era uma reta, desapareceu (veja o mapa acima) em 1943, depois que o bonde foi retirado. A retificação do rio também afetou a área, seguida pela construção da avenida Marginal, nos anos 1960.

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