sexta-feira, 24 de setembro de 2010

QUEM CHEGOU HOJE NA LUZ?

Embarque na Luz em 1914. Muita gente, mas eram parentes despedindo-se dos alemães e austríacos que embarcavam para a Primeira Guerra Mundial um mês depois da declaração de guerra - Revista A Cigarra

Quem são as pessoas que chegam hoje na estação da Luz? Quem são as que embarcam ali? É muito difícil saber. Se embarcar num trem metropolitano da CPTM exigisse preenchimento de algum bilhete para embarque e apresentação de documento de identidade para conferir, no sentido de ter uma lista de passageiros, como existem nos aviões... já pensaram?

Seria, sem dúvida, uma forma imbecil de evitar o amontoamento de passageiros na plataforma na hora do pico, transferindo o problema para os "balcões de check-in"...

Hoje em dia, somente há trens metropolitanos na Luz, que não "passam" por ela - a estação é necessariamente um ponto de baldeação. Não existe, nem jamais existiu, uma linha, metropolitana ou não, de passageiros que seguisse direto de Santos para o interior de São Paulo, e vice-versa.

A questão foi levantada depois de eu ter lido em várias edições do jornal O Estado de S. Paulo de cem anos atrás - matérias muitas vezes de primeira página - uma lista de pessoas que embarcavam e desembarcavam na Luz, seguindo para o Rio de Janeiro ou de lá chegando. "Chegaram pelo noturno"... ou seja, pelo comboio que chegava na Luz vindo do Rio pela manhã: começava assim a matéria, relacionando a seguir os nomes de diversas pessoas.
Como o jornal obtinha estes nomes? Havia uma lista de passageiros? Não parecia ser tão difícil assim obtê-la com trens de passageiros, onde todos vijavam necessariamente sentados, talvez até com lugares marcados. Também parece que o número de pessoas relacionadas na matéria seria bastante inferior à lotação total dos trens. Então, quem filtraria esta lista?

Na verdade, parecia que isso se tratava na verdade de uma espécie de "coluna social" da época: as pessoas "importantes" que se utilizavam do trem apareceriam no jornal. Ou, talvez, tivessem de pagar para iso, não necessariamente ao jornal, mas a alguma empresa ou pessoa que se dispusesse a fornacer esta relação para os jornais. Pé-rapado não aparecia. Em compensação, vários "nomes de ruas" estavam ali na lista - gente que já morreu e virou nome de rua. Afinal, já se passaram cem anos!

Hoje, a lista teria de ser muito maior, milhares, por exemplo, por dia. "Francenildos", Josivaldos" e""Marlúcias" existiriam de montão.

NOTA DO AUTOR: A recente edição da Revista Ferroviária - que saiu esta semana - mostra um artigo deste que vos escreve: "O Patrimônio Frrroviário Brasileiro", na página 56.

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