Notícia publicada no jornal O Estado de S. Paulo de 24/9/1910
Quem estuda a história das estradas de ferro brasileiras há tanto tempo e de forma constante nota uma particularidade. É inacreditável, nos anos em que ferrovia era iniciativa de particulares (e que, de uma forma ou de outra, mais cedo ou mais tarde acabava nas mãos dos governos), o número de concessões dadas para ferrovias por todo o país. Isto tanto por governos municipais e estaduais quanto o federal.
Claro que havia a intenção inicial de se construir uma ferrovia para ganhar dinheiro com ela... mas o dinheiro para sua construção não era tão fácil de se obter. Muita gente morreu com a concessão na mão. Porém, é certo que este número enorme de concessões dadas durante várias décadas tinham outra intenção também: a sua comercialização. Se o concessionário não conseguia o dinheiro para colocá-la em atividade, por que ele não a venderia para alguém que tivesse? Ou por que não se conseguir uma concessão para vendê-la tão logo tivesse o documento em mãos? Enfim, era um negócio. E o risco de se colocar uma estrada de ferro em operação e perder dinheiro era grande, mas sabia-se que na maioria das vezes ela seria comprada por outra ferrovia ou mesmo pelos governos, que ficavam numa situação difícil: como era o único meio de transporte rápido e decente, o governo acabava ficando com o mico.
Isso aconteceu em praticamente TODAS as ferrovias brasileiras. A primeira foi a Central do Brasil: inaugurada em 1858, em 1863, falida com a construção da linha serra das Araras acima, o Império ficou com ela. A última grande ferrovia incorporada pelo governo, e à força, foi a Companhia Paulista de Estradas de Ferro, em 1961.
Uma das pessoas que certamente ganhou sua fortuna com a venda e transferência de concessões foi o engenheiro Teixeira Soares, aquele que conseguiu tocar com sucesso a obra da ferrovia na Serra da Graciosa, entre Curitiba e Paranaguá, na primeira metade dos anos 1880. Mais tarde ele ganhou (1889) a concessão da que veio a ser a São Paulo-Rio Grande e com esta ele manipulou diversas concessões a outras empresas que foram abocanhando alguns trechos.
Não havia nada de imoral com isto: porém, se algumas, ou muitas das concessões tenham sido cedidas a troco de mutretas, seria o caso de um intenso estudo. Como se sabe, há muita mutreta aqui na terrinha. Ou estarei sonhando?
domingo, 26 de setembro de 2010
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