quinta-feira, 9 de setembro de 2010

AS TRISTEZAS DE UM ACIDENTE FERROVIÁRIO

O acidente, ontem, em Americana, SP (foto UOL).

Mais um desastre em passagem de nível ocorreu ontem em São Paulo. Desta vez, foi na cidade de Americana, próxima a Campinas, a 120 km da Capital. Um trem cargueiro da ALL pegou um ônibus por volta das 23 horas e, além da batida, jogou-o contra um outro trem que estava parado no desvio ao lado da linha, partindo o veículo em dois e matando 9 dos 27 passageiros do ônibus.

Culpa de quem? Do ônibus, sem dúvida. Seu motorista, um dos sobreviventes, atravessou a linha sem prestar atenção à sinalização. E precisava? Afinal, não deve ser a primeira vez que ele passa por ali dirigindo o veículo. O trem apita sempre ali. E não consegue parar: afinal, um trem cargueiro com mais de setenta vagões (segundo a informação) não é um fusquinha, que pisa no freio e pode parar quase no mesmo ponto em que o motorista pisou no freio.

O número de acidentes desse tipo parece estar aumentando nos últimos tempos. Apesar de o número de comboios ferroviários ter diminuído em número, eles aumentaram em tamanho - hoje são muito mais longos do que vinte anos atrás. Além disso, o número de veículos que cruzam as passagens de nível certamente aumentou, e a educação do povo certamente diminuiu. Como havia mais trens antes, pois os cargueiros eram bem menores e havia os trens de passageiros, parece que os motoristas se resguardavam mais. Com a progressiva diminuição do número de trens, parece que a atenção também diminuiu. E deu no que deu.

Por outro lado, as cancelas eram operantes e em muitas delas havia guardas numa guarita para fechá-la a cada passagem de trem. Esse pessoal foi dispensado pelas concessionárias que assumiram as ferrovias a partir de 1996. Por outro lado, a legislação, confusa, à primeira vista diz que as prefeituras são responsáveis pela instalação e pelo funcionamento das cancelas. As concessionárias se aproveitam disso e afirmam que não têm responsabilidade sobre isso. E as prefeituras, assim como as concessionárias, não querem gastar dinheiro com pessoal e material. E isso não tem ocorrido apenas em São Paulo, mas no País inteiro.

Há menos de um mês, encontrei em Embu-Guaçu uma senhora com seu filho de catorze anos, este sem as duas pernas, numa cadeira de rodas. Ele foi atropelado por um trem ao tentar atravessar a pé de um lado para outro do comboio parado, por cima do engate de dois vagões. Só que no momento em que ele estava pulando e apoiado sobre o engate, o trem começou a andar, dando aquele tranco. Ele caiu e o maquinista, que, claro, não podia vê-lo, arrastou-o por um bom trecho até que alguém o avisasse para parar o comboio.

O maquinista foi o culpado? Certamente não. A ferrovia? A prefeitura? Segundo a legislação, esta última seria a culpada. A primeira teria sua culpa, pois não sinaliza nada por ali. Depois do boletim de ocorrência na delegacia, segundo a mãe do garoto, ninguém mais apareceu para qualquer assistência, pedido de desculpas, solidariedade, nada. O garoto, bem-humorado e simpaticíssimo apesar de seu drama, ficou sem as pernas e a mãe luta há um ano para conseguir pernas mecânicas. Uma enorme tristeza, posso garantir.

E por aí, fica tudo por isso mesmo. Outros garotos vai haver, outros ônibus também. E ninguém nem sequer estuda o assunto. A questão é de dinheiro, mesmo. Concordo que se deve tomar um mínimo de cuidado ao atravessar uma linha ferroviária, mas... tem gente que não tem esse cuidado, e aí tudo acontece. Para piorar, quem deveria sinalizar não sinaliza para não gastar dinheiro...

Nota: ontem foi publicado no Diário de S. Paulo, da Capital, uma reportagem da qual eu participei: Antigos nomes de ruas continuam na memória dos moradores de São Paulo. Clicando sobre o link, v. poderá lê-la, pelo menos até o jornal removê-lo.

4 comentários:

  1. E hoje, outro...

    09/09/2010 às 20:54h | Redação São Carlos Agora

    Trem arrasta carro e mata mulher em Ibaté; local foi palco de outro acidente no final de agosto

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  2. Achei que demoro muito hoje saiu uma materia na revista ferroviaria dizendo que a prefeitura quer retirar a ferrovia da cidade, como sempre a solução encontrada por esses prefeitos ignorantes e sempre retirar a ferrovia da cidade deve ter uns 200 anos que a ferrovia ta la se aconteceu esse tipo de acidente 3 vezes e muito

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  3. Segundo a Folha de São Paulo, um secretário da prefeitura de Americana está lutando desde 2006 para tirar a ferrovia de lá. Mas a retirada é a solução? Eu acho que não. O lugar, como normalmente acontece, fica anos e anos abandonado para depois se transformar em uma avenida cheia de veículos que também atropelam e matam. Americana teve em agosto 754 novos veículos lacrados (fonte: DETRAN). A situação só tende a piorar. Eu realmente ficaria surpreso se o mesmo secretário lutasse por uma mudança de uso da ferrovia no trecho urbano, para transporte de passageiros, de integração com a cidade. Acredito que as ferrovias, apenas com o transporte de cargas, sofreram um processo (talvez irreversível) de decadência e desumanização, transformando-se em um estorvo, sendo rejeitadas pelas pessoas (que amam seus carros) e pelos políticos (uma "Geni" é sempre bem-vinda na busca de votos).

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  4. Exatamente zaredo o transito de americana por ano mata muitissimo mais que a ferrovia nao tem nem comparação de acordo com a logica desse tal secretario entao ele deve lutar para retirara todas as ruas e avenidas de americana com isso zeraria os acidentes de transito

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