quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

PEQUENOS ASSASSINATOS – PARTE II


Casas demolidas em Rio das Antas (topo) e Calmon (logo acima). Fotos de Nilson Rodrigues em 2006
Há cerca de seis meses, escrevi neste blog um artigo sobre a demolição do Hotel Kreling, em Corupá, Santa Catarina. O nome da postagem foi “Pequenos Assassinatos”, nome de um filme do início dos anos 1970 com Donald Sutherland, que na época me impressionou. O nome me pareceu adequado ao que foi feito com o hotel de madeira ao lado da linha, tradicional na cidade e bonito prédio.

Agora, também em Santa Catarina – o que será que ela tem contra prédios antigos e bonitos de madeira? – mais duas casas foram para o chão, junto à linha da antiga São Paulo-Rio Grande no topo do Morro de São João (Calmon) e no vale do rio do Peixe (Rio das Antas). A informação me foi dada por um e-mail recebido ontem, enviado por Nilson Rodrigues:

É incrível a insensibilidade do brasileiro para com sua história, não? Vejam estas duas casas: legítimas testemunhas da história, foram edificadas pela SPRG durante a construção da ferrovia. Uma estava em Rio das Antas, outra em Calmon. Conseguiram se manter de pé até recentemente. A de Rio das Antas, foi derrubada em 2007 e a de Calmon em 2009. A de Calmon é um caso revoltante, pois foi utilizada pela prefeitura da cidade desde os primórdios, sem nunca ter sido reformada. Foi utilizada até acabar, quando a prefeitura simplesmente a desocupou e derrubou... É inacreditável, não acham? Nilson

Eram casas das vilas ferroviárias das estações de Calmon e de Rio das Antas, mesmos nomes dos atuais municípios onde estão. Aliás, ambos municípios relativamente novos. Ambos existem porque um dia ali se estabeleceu uma estação e uma vila ferroviária da hoje extinta Companhia Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, depois Rede de Viação Paraná-Santa Catarina (linha Itararé-Uruguai). Hoje esta é uma ferrovia praticamente abandonada e somente trafegada esporadicamente por trens de capina química para limpeza do mato da concessionária ALL ou por mais raras ainda composições da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF), levando e trazendo velhas locomotivas a vapor e carros de madeira de Rio Negrinho a Piratuba.

O que há de tão interessante para ser visto em Calmon ou em Rio das Antas do que casas dos tempos de colonização das duas cidades? O que se passa pela cabeça dos ignorantes prefeitos e secretários dessas cidades, normalmente tão bem pagos pelos contribuintes? Aliás, são apenas 4 mil em Calmon, onde ficam as nascentes do rio do Peixe, e 6 mil em Rio das Antas. Para que colocar abaixo esses lindos edifícios, que podem ser vistos acima. Mesmo que as casas não sejam da Prefeitura, esta deveria ter feito tudo para impedir seu desmanche.

Qual é a maldição que as ferrovias têm sobre elas neste País?

4 comentários:

  1. A casa do rio das Antas é (era) lindíssima. Dá vontade cuspir na cara de quem derrubou. (Dá vontade, mas eu nunca faria isso. Que esse cara ia ouvir muito, ah isso ia).

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  2. Bem, tudo depende de quem eram os donos. Podem ser particulares, da Prefeitura ou, mais provavelmente, do espólio da RFFSA. Duvido, no entanto, que tenha sido derrubado a mando do governo federal. Foi possivelmente derrubado pelo dono (se era particular) ou pela Prefeitura (por estar abandonado). Também duvido, no entanto, que a Prefeitura fosse dona deles. Se foi ela a derrubar, foi quase com certeza sem ordem do espólio. Por fim, isso deveria ser tombado pelo Patrimonio municipal, estadual ou federal. E não era. Tudo errado.

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  3. Prezado Senhor Giesbrecht,

    Ao acompanhar seu blog percebi seu entusiasmo com a história de nossas ferrovias.

    Gostaria de entrar em contato com o Senhor tendo em vista que meu interesse no assunto é compatível com o do Senhor.

    Estou desenvolvendo um projeto, em fase de levantamento de dados e elaboração de plano de negócios, visando o aproveitamento de alguns trechos da malha ferroviária atualmente desativada, mas que ainda não esteja totalmente destruída (principalmente as pontes)em vários estados brasileiros, Possívelmente meu projeto irá prever a reforma e aproveitamento dos imóveis dispostos ao longo das linhas.


    Meu projeto ainda está no papel e tenho a pretensão de apresentá-lo ao governo em breve.

    Gostaria muito de entrar em contato privado com o Senhor para conversarmos sobre o assunto.
    Meu e-mail é: juliomota@hotmail.com
    Desde já agradeço a atenção.

    Obrigado

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