terça-feira, 19 de janeiro de 2010

CAQUINHOS NÃO SÃO PRIORIDADE

Acima: Pedaço de faiança inglesa e caco de garrafa, ambas desenterradas no local das obras da praça e da estação. Fotos UOL

Ontem, Rodrigo Bortolotto, do UOL Notícias, escreveu que a EMURB proibiu a entrada de jornalistas e de câmeras fotográficas no pátio do metrô da estação Faria Lima, no bairro de Pinheiros, da mesma forma que advertiu os arqueólogos que lá estão trabalhando de dar entrevistas. Tudo isto por ter o IPHAN obrigado a empresa a, antes de reurbanizar a praça que ficará junto à entrada da estação da ainda não inaugurada linha 4 do metrô paulistano, fazer a pesquisa arqueológica do local.

Pelo visto, isto pode atrapalhar os planos do prefeito Kassab de inaugurar a praça — na verdade, um prolongamento do pequeno e histórico largo de Pinheiros — antes das eleições de outubro, mas ele não explica por que tentou burlar a portaria federal de oito anos e não ter feito a pesquisa antes, sabendo que a lei existe e, no caso de Pinheiros, de importância relevante, pois o centro do bairro, exatamente o largo, data do século 16. Parece que a EMURB somente começou a fazer sua obrigação depois de uma denúncia anônima feita ao IPHAN.

Desta forma, ele dificulta tudo e, segundo alguns, pessoas da EMURB teriam chamado as descobertas de "caquinhos" — cacos de porcelanas Maastricht e Sarrequemines, europeias, usadas por quem lá viveu durante todos esses mais de quatrocentos anos. Ainda segundo a reportagem, há um aviso que fala sobre a pesquisa, na rua Fernão Dias, semi-encoberto por tábuas.

Além de chamar de caquinhos a descoberta, mentiu, pois teria afirmado que eles "não passavam de pedaços de ossos, ferraduras e utensílios deomésticos dos anos 1950, desgastados pelo tempo e sem valor histórico", fato desmentido imediatamente por arqueólogos: "O sítio de Pinheiros foi revelador, com um depósito de garrafas enterradas que apontam a presença por ali de uma taberna do início do século 19", por exemplo.

Então, começa a discussão: se as descobertas de fatos ligados a pessoas simples não interessam a pessoas hoje abastadas da região (ridículo) ou se o fato é político, pois atrapalharia planos para o governo, que apoia outro partido que não o da situação em Brasília. Poderia até ser, mas o fato é que a portaria existe e tem de ser respeitada. A EMURB não pode alegar que não a conhece.

É sempre assim, as coisas não mudam no nosso Brasil: cultura, prioridade zero. Caquinhos, então, nem pensar. Uma pena, mesmo. Eu, de minha parte, espero que a empresa contratada para as escavações faça o melhor possível e que achem muito mais objetos interessantes. E não digo isto para atrapalhar políticos, mas sim para tentar colocar a cultura e a história nacional em seu devido lugar, ou seja, entre as coisas mais relevantes neste País.

12 comentários:

  1. Por causa de uma eleição queriam apagar a nossa história! É brincadeira....

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  2. A eleição é sempre prioridade. O resto, que se f---. De qualquer forma, atualmente o Kassab está com a reputação embaixo da terra com o cavalar aumento do IPTU. Não ganha eleição nem de síndico. Na verdade ele não pode se reeleger agora - mas ele quer tentar ser governador.

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  3. A cultura no Brasil é sempre assim: relegada ao esquecimento e ao desaparecimento da memória de todos. Alguém se lembra que na Praça Clóvis derrubaram um edifício inteiro (não recordo do nome) para passar o Metrô, que por sinal no local é subterrâneo? Pois é, políticos vem e vão crendo que a cidade é extensão das suas casas. Devem ser bem bagunçadas tais casas...

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  4. Sim, eu lembro, o Santa Helena, em 1968. Naquela época ninguém se importav com isso. Hoje não conseguiriam derrubar o prédio, se ele tivesse sobrevivido. Houve avanços. Mas a cultura continua sendo prioridade zero, naquele tempo era -1. Abraços

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  5. Ralph , acho que alem do Santa Helena houve tambem a demolição do Mendes Caldeira.O Kassab no desespero que anda está apelando para as mentiras mais deslavadas. Outro afirmava na Band que pretende fazer de SP uma cidade tão limpa quanto Toquio.

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  6. Desculpe, foi o Mendes Caldeira mesmo e não Santa Helena. Minha cabeça está com problemas... desculpe a bobagem

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  7. O Palacete Santa Helena também foi demolido Ralph. Acabei de olhar num fórum de arquitetura.

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  8. É. nós doi (e e o Luiz) fizemos uma baita confusão. O Santa Helena oi o que foi demolido na implosão em 1968, certo? E o M. Caldeira tb foi, mas parece que uns anos depois. Ambos eram próximos.

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  9. O Palacete Santa Helena era mais antigo. O Mendes Caldeira razoavelmente recente. Este último é que foi implodido, em 1975 — achei até o vídeo da demolição.

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  10. Isso significa que o Santa Helena foi demolido a marreta?

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  11. O Santa Helena era bem horizontal. Não faria sentido implodi-lo. De qualquer maneira, consta que a implosão do Mendes Caldeira, sete anos depois da demolição do Santa Helena, foi a primera implosão do Brasil.

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  12. Agora que se chegou a quem e quando foi implodido ,quero lembrar que o valor historico do Sta.Helena era muito grande. Êle abrigou nos anos 40/50 o grupo de pintores que levava seu nome. Volpi/ Clovis Graciano/Bonadei e outros.

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