sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

PRIORIDADES FERROVIÁRIAS

A belíssima estação ferroviária de São Francisco do Sul, em Santa Catarina, no ano de seu centenário, 2006. Foto J. C. Kuester

As ferrovias são mesmo uma prioridade neste País? Senão, vejamos: o Governo Federal vive dizendo aos quatro cantos que as ferrovias são hoje uma prioridade no Brasil. Porém, parece que os anos de desinteresse, descaso e abandono das mesmas influenciou mal o povo em geral. “O povo” inclui políticos, construtores, imprensa etc.

Hoje dois assuntos diferentes me vieram às mãos. Numa delas, um jornal da região litorânea de Santa Catarina mete o pau na ALL com o título: “O que ontem foi progresso, hoje é um grande atraso para São Francisco do Sul”. Esta cidade do norte catarinense é um porto que recebeu a chamada linha do São Francisco em 1906, ou seja, 104 anos atrás. A notícia reclama que os trens — hoje enormes comboios que transportam grãos que vêm do interior do Estado — cruzam o centro da cidade para descarregá-los no porto da cidade, que, salvo engano, é o maior porto do Estado. Acontece que há mais caminhões descarregando no porto do que trens. Os trens atrapalham e os caminhões não? Ora, este tipo de atitude é típico de um povo que se desacostumou com as ferrovias depois de ver todo o descaso com que ela foi tratada nos últimos (pelo menos) 40 anos. A má vontade com elas é notória.

Além do mais, o jornal acusa a ALL, concessionária das linhas, de “não se importar com o crescimento da cidade”. Ora, com todos os defeitos que a ALL possa ter, ela realmente não tem que se meter nisso. Ela recebeu as linhas em concessão e vai usá-las do jeito que julgar necessário. A ALL não vai gastar dinheiro com isso. Quem teria de fazê-lo seria o governo de forma a atender aos anseios da cidade, pois a ALL nada está fazendo de irregular. E, se a cidade tem problemas, é porque (somente “para variar”) cresceu sem prever o problema que os trilhos poderiam causar. Não é novidade — diversas cidades reclamam da mesma coisa e na maioria das vezes, no meu modo de ver, sem razão alguma.

A pelo menos 3 mil quilômetros dali, no Nordeste, notícias dizem que o presidente Lula está furioso com as obras da Transnordestina, que não acabam nunca —aliás, mal começaram e deveriam tê-lo feito em 2008 (ou antes). O presidente precisa começar a fiscalizar certas obras, principalmente as que ele considera uma prioridade, bem mais de perto, pois parece que as pessoas que para ele trabalham e deveriam estar vendo isso não estão fazendo direito o serviço. Eu me lembro do famigerado Paulo Maluf neste caso. Maluf pode ter todos os defeitos do mundo, já falaram que ele fez muita coisa errada, mas ele também é conhecido por outra: ele fiscalizava as obras que encomendava com mão de ferro. Era o primeiro a estar no canteiro de obras, às 7 da manhã, para ver como as coisas andavam, nas obras de viadutos, avenidas e prédios — e ai do chefe que não estivesse fazendo as coisas no tempo e da forma que ele, Maluf, esperava.

Pelo jeito, o presidente vai ter de atuar como um “gerentão” para tentar avançar o máximo possível com as obras na ferrovia Transnordestina, pois, do contrário, vai deixar o governo no final do ano sem ver nada — ele já reconhece que a linha não estará pronta neste ano.

Estas são as agruras das ferrovias no Brasil. Mesmo sendo consideradas uma prioridade, uma urgência para ficar prontas, tem gente que não acha isso e continua agindo como no tempo das vacas magras. Tem gente querendo arrancar trilhos até com ela funcionando, e tem gente que não quer pô-los mesmo tendo verba para isto. O primeiro tem como motivo a implicância. O segundo precisa ser averiguado.

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