A história de São Paulo contada por seus rios e córregos daria um grande livro. Um livro onde se tentaria desenterrar histórias esquecidas de como uma cidade pode crescer orientada pelos seus rios e córregos. E como isso pode ou não ser bom. No caso de São Paulo, eu diria que não foi.
É lógico que aqui não dá para escrever praticamente nada sobre o assunto. A cidade nasceu sobre uma colina situada junto a um rio, o terceiro maior rio da cidade atual em largura, o Tamanduateí. O estabelecimento da cidade sobre a colina era estratégico em termos de defesa – a pequena cidade original chegou a ter uma cerca em volta, no século 16.
Depois, a cidade alcançou seus outros rios e córregos, espalhando um grande município através deles. Vários bairros que eram afastados do centro da cidade e depois unidos pela conurbação no século 20 surgiram às margens desses cursos d’água e foram povoados por causa deles (entre outras razões). Pinheiros, à margem do Pinheiros. O Tatuapé por causa do córrego do mesmo nome. E outros.
Outros cursos serviram de divisas de loteamentos, causando o caos atual da cidade – os bairros que se formaram desses loteamentos geralmente acabaram sendo unidos de formas nem um pouco planejadas. E houve córregos que apenas cruzaram bairros sem jamais terem sido origem de uma avenida de fundo de vale (como o córrego da Traição, que está debaixo da avenida dos Bandeirantes).
O córrego do Sapateiro tem uma história, por exemplo. Suas nascentes, curiosamente, estão a cem metros da casa em que meus avós moravam na Vila Mariana, que eu sempre cito aqui em minhas recordações: entre as ruas Capitão Cavalcanti e Sud Mennucci, na parte mais baixa das duas ruas. Embora a nascente já tenha virado galeria de águas, ele corre poucos metros e entra num terreno que, creio (não passo lá há algum tempo), ainda está baldio. De lá ele corcoveada pelo seu pequeno vale, debaixo de terrenos, cruzava a rua Rio Grande, passava ao lado do antigo Matadouro (hoje Cinemateca), passava sob a antiga linha de bondes para Santo Amaro (junto a onde está hoje a saída do túnel que liga a Juscelino à Sena Madureira), passava dentro do Parque Ibirapuera, servia de limite para a Vila Nova Conceição, tendo sido nos anos 1980 canalizado para dar origem às avenidas Antonio Joaquim de Moura Andrade e depois a Juscelino Kubitschek (uma continuação da outra). E finalmente desembocava no rio Pinheiros.
Ele foi, junto o córrego Curitiba, seu afluente, um dos formadores do lago artificial do Ibirapuera – uma barragem, enfim. Era também chamado de córrego do Curtume. Hoje somente se pode fotografá-lo próximo à sua nascente na Vila Mariana. O resto está todo embaixo de ruas. E, claro, no lago do parque, onde está represado.
É lógico que aqui não dá para escrever praticamente nada sobre o assunto. A cidade nasceu sobre uma colina situada junto a um rio, o terceiro maior rio da cidade atual em largura, o Tamanduateí. O estabelecimento da cidade sobre a colina era estratégico em termos de defesa – a pequena cidade original chegou a ter uma cerca em volta, no século 16.
Depois, a cidade alcançou seus outros rios e córregos, espalhando um grande município através deles. Vários bairros que eram afastados do centro da cidade e depois unidos pela conurbação no século 20 surgiram às margens desses cursos d’água e foram povoados por causa deles (entre outras razões). Pinheiros, à margem do Pinheiros. O Tatuapé por causa do córrego do mesmo nome. E outros.
Outros cursos serviram de divisas de loteamentos, causando o caos atual da cidade – os bairros que se formaram desses loteamentos geralmente acabaram sendo unidos de formas nem um pouco planejadas. E houve córregos que apenas cruzaram bairros sem jamais terem sido origem de uma avenida de fundo de vale (como o córrego da Traição, que está debaixo da avenida dos Bandeirantes).
O córrego do Sapateiro tem uma história, por exemplo. Suas nascentes, curiosamente, estão a cem metros da casa em que meus avós moravam na Vila Mariana, que eu sempre cito aqui em minhas recordações: entre as ruas Capitão Cavalcanti e Sud Mennucci, na parte mais baixa das duas ruas. Embora a nascente já tenha virado galeria de águas, ele corre poucos metros e entra num terreno que, creio (não passo lá há algum tempo), ainda está baldio. De lá ele corcoveada pelo seu pequeno vale, debaixo de terrenos, cruzava a rua Rio Grande, passava ao lado do antigo Matadouro (hoje Cinemateca), passava sob a antiga linha de bondes para Santo Amaro (junto a onde está hoje a saída do túnel que liga a Juscelino à Sena Madureira), passava dentro do Parque Ibirapuera, servia de limite para a Vila Nova Conceição, tendo sido nos anos 1980 canalizado para dar origem às avenidas Antonio Joaquim de Moura Andrade e depois a Juscelino Kubitschek (uma continuação da outra). E finalmente desembocava no rio Pinheiros.
Ele foi, junto o córrego Curitiba, seu afluente, um dos formadores do lago artificial do Ibirapuera – uma barragem, enfim. Era também chamado de córrego do Curtume. Hoje somente se pode fotografá-lo próximo à sua nascente na Vila Mariana. O resto está todo embaixo de ruas. E, claro, no lago do parque, onde está represado.
Ha mais de 300 cursos d'agua somente na cidade de Sao Paulo que estao: soterrados, aterrados, poluidos ou canalizados. E hoje se fala em racionamento e falta d'agua. Nao falta agua, falta agua limpa e acessivel.
ResponderExcluirUm córrego que sumiu foi o do Bexiga. O mapa mais novo em que ele aparece é de 1890:
ResponderExcluirhttp://arquiamigos.org.br/info/info20/img/1890-download.jpg
Ele corria entre a rua de Santo Amaro e a rua dos Valinhos (atual Major Diogo. A rua Misericórdia que aparece no mapa é a atual Abolição). Eu acho que ele está canalizado sob a atual rua Japurá. Depois passa sob o viaduto Jacareí, faz uma curva à esquerda, cruza a Santo Antonio e deságua no Saracura próximo do viaduto 9 de Julho.
No Estadão de 16.10.1896 há uma nota sobre os trabalhos de canalização desses 2 córregos:
"Foram aceitas as propostas apresentadas à superintendência de obras públicas pelos srs. Dr.Samuel... para canalisação do córrego Bexiga e do Dr.Arthur... para a do córrego Saracura ambos nesta Capital."
Em 03.04.1897 o Estadão publicou a seguinte nota:
"Pelo dr.secretário da agricultura foram solicitados do da fazenda os seguintes pagamentos:
de 20:250$742 ao Dr.Arthur..., proveniente de trabalhos executados na canalisação do córrego Saracura;
de 63:100$872 ao Dr.Samuel..., proveniente de trabalhos identicos executados no córrego Bexiga"
As obras duraram só 4 meses e foram pagas pelo governo do Estado (suponho que a prefeitura não tivesse secretaria da Agricultura).
Mas o serviço não deve ter ficado muito bom porque em 07.06.1899 o Estadão publicou na primeira página:
Excluir"O sr. prefeito solicitou do sr. secretário da Agricultura providencias no sentido de ser reconstruida a galeria que canalisa o córrego do Bexiga, afim de proceder a prefeitura aos reparos do aterro que liga as ruas de Santo Antonio e Major Quedinho..."
No Estadão de 29.03.1936, página 4, há a história do bairro do Bexiga e de seus córregos. Afirma-se que o Córrego do Bexiga desaguava diretamente no Anhangabaú (onde hoje é o início da av.23 de Maio) e que mais tarde ele foi desviado para o Saracura e em seu antigo vale foi aberta a rua Vale do Andorra, origem da rua de Santo Antonio:
ResponderExcluirhttp://acervo.estadao.com.br/pagina/#!/19360329-20387-nac-0004-999-4-not
De fato, num mapa de 1847 o Bexiga aparece desaguando diretamente no Anhangabaú (veja que o Caminho para Sto.Amaro acompanhava o traçado do córrego):
http://arquiamigos.org.br/info/info20/img/1847-download.jpg
No Estadão de 25.03.1917, página 5, Queixas e Reclamações:
ResponderExcluir"Proprietários e moradores da Alameda Lorena pedem-nos que chamemos a attenção do sr. Prefeito municipal para o estado de abandono em que se encontra essa via pública, no trecho comprehendido entre as ruas Rocha Azevedo e Peixoto Gomide.
Existe alli um córrego, sem ponte, impedindo o transito de pedestres e vehiculos...:
http://acervo.estadao.com.br/pagina/#!/19170325-13968-nac-0005-999-5-not
Que córrego seria esse? Não aparece em nenhum mapa da época. Eu confio mais na notícia que naqueles mapas porque ali era o fim da cidade e os mapas eram imprecisos nos arrabaldes. Havia um córrego onde hoje é a 9 de Julho e que era cortado pela Lorena mas ele ficava entre a Casa Branca e a Pamplona.
Este comentário foi removido pelo autor.
ExcluirQue triste a falta de visão de todos os políticos que mataram as nascentes da cidade de São Paulo
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