Vai ser muito difícil andar a pé hoje. Eu preciso andar pelo menos quatro vezes por semana cerca de 30-40 minutos por recomendação médica, principalmente depois de ter sido operado em junho das coronárias. Com a chuva que não para de cair, pelo menos aqui onde moro, vai ficar para amanhã mesmo.
Houve um tempo em que não se precisava recomendar que se andasse a pé. Todos andavam a pé, sem distinção de cor ou riqueza. Nos primórdios do Brasil as descobertas e expansão de territórios se deram a pé e através do único meio alternativo, canoas pelos rios. Mas não eram todos os rios ou seus trechos que eram navegáveis. Já a pé, tudo era ultrapassável. Quando os portugueses e outros exploradores chegaram aqui no início do século XVI, povoaram primeiro o litoral, a pé e pelos rios. Subiram depois a serra a pé mesmo. Povoaram o planalto a pé e via rios, principalmente o Tietê. Aliás, praticamente só pelo Tietê, em termos de rios.
Andava-se muito. Raposo Tavares e André Fernandes saíram de São Paulo e de Parnaíba para ir às Missões no século seguinte a pé, usando os rios Tietê e Paraná onde dava. Considerando que não se anda mais do que a 5 quilômetros por hora a pé e provavelmente muito menos rápido quando o terreno é acidentado e cheio de mata, pode-se imaginar quanto levou para que eles fossem e voltassem das Missões. E quanto tempo de suas vidas levaram para percorrer os outros trajetos que fizeram eles e demais bandeirantes.
Ainda tiveram sorte de ter parte dos índios como amigos e colaboradores. Eles tinham construído em tempos imemoriais o Peabiru, uma rede de estradas que ligava São Vicente a Assuncion e da qual fazia parte, por exemplo, a Trilha Tupiniquim, que muitos dizem que uma das ruas que dela se derivou foi a Estrada de Pinheiros, trecho que hoje é ocupado pela sequência as ruas Araújo, da Consolação, Rebouças, rua de Pinheiros e rua Butantan, cruzando o rio mais ou menos no mesmo ponto em que hoje está a ponte (alguns metros ao norte desta).
Até chegarem os cavalos a estas paragens demorou algum tempo. No século XIX já os usavam, assim como as mulas e também os lentíssimos carros de boi. Mas continuava-se a andar a pé, e muito. Basta ler alguns livros da Delegacia de Polícia do município de Parnaíba e ouvir as histórias contadas por velhos moradores da cidade de fatos do século XX. Nos anos 1940, as pessoas iam e voltavam a pé de festas de reveillon, por exemplo. Aí surgiam os bêbados que feriam ou matavam outros que também vinham das festas e tinham mexido com suas mulheres. Outro exemplo? A fábrica de cal da Matarazzo no Vau Novo, a dezesseis quilômetros da sede (centro velho de Santana de Parnaíba, como é hoje chamado), tinha muitos empregados. Boa parte morava por perto. Outros, no Polvilho, de onde por um tempo já havia ônibus que vinham de Perus entrando no município pela atual Estrada Tenente Marques. Mas também havia gente que morava no centro e ia para a fábrica a pé. Não havia ônibus, a estrada era horrível. Imagine quanto se perdia diariamente para ir e voltar. E quando chovia, como seria andar molhado e no barreiro que se formava?
Havia, também, o cavalo. Andava-se muito a cavalo. Pelo menos nos séculos 19 e 20 aqui em Parnaíba (e certamente não somente aqui, mas mesmo em São Paulo e no interior). Relataram-me inúmeras trilhas de cavalos pelo “sertão” de Parnaíba (até hoje mais de 50% do município é área rural) que desapareceram com a falta de uso de hoje. No Cururuquara, por exemplo, bairro que hoje fica na Castelo Branco, vinha-se ou a pé ou a cavalo para a cidade ou para se tomar o trem da Sorocabana em Amador Bueno, onde existia um local para se amarrar os animais.
E vale lembrar que as últimas pesquisas de origem-destino feitas na Grande São Paulo ainda mostraram uma quantidade bem maior do que se imaginava de gente que anda a pé para o trabalho para economizar o dinheiro do ônibus. Mesmo assim, com a correria de hoje em dia, andar a pé não é um problema de esforço, mas sim de não ter o tempo para fazê-lo. Entretanto, do jeito que anda o transito de veículos motorizados por aqui, parece que não vamos nos esquecer de como se anda a pé. A velocidade média de um veículo em certos pontos da Grande São Paulo já está caindo abaixo de 10 quilômetros por hora.
Houve um tempo em que não se precisava recomendar que se andasse a pé. Todos andavam a pé, sem distinção de cor ou riqueza. Nos primórdios do Brasil as descobertas e expansão de territórios se deram a pé e através do único meio alternativo, canoas pelos rios. Mas não eram todos os rios ou seus trechos que eram navegáveis. Já a pé, tudo era ultrapassável. Quando os portugueses e outros exploradores chegaram aqui no início do século XVI, povoaram primeiro o litoral, a pé e pelos rios. Subiram depois a serra a pé mesmo. Povoaram o planalto a pé e via rios, principalmente o Tietê. Aliás, praticamente só pelo Tietê, em termos de rios.
Andava-se muito. Raposo Tavares e André Fernandes saíram de São Paulo e de Parnaíba para ir às Missões no século seguinte a pé, usando os rios Tietê e Paraná onde dava. Considerando que não se anda mais do que a 5 quilômetros por hora a pé e provavelmente muito menos rápido quando o terreno é acidentado e cheio de mata, pode-se imaginar quanto levou para que eles fossem e voltassem das Missões. E quanto tempo de suas vidas levaram para percorrer os outros trajetos que fizeram eles e demais bandeirantes.
Ainda tiveram sorte de ter parte dos índios como amigos e colaboradores. Eles tinham construído em tempos imemoriais o Peabiru, uma rede de estradas que ligava São Vicente a Assuncion e da qual fazia parte, por exemplo, a Trilha Tupiniquim, que muitos dizem que uma das ruas que dela se derivou foi a Estrada de Pinheiros, trecho que hoje é ocupado pela sequência as ruas Araújo, da Consolação, Rebouças, rua de Pinheiros e rua Butantan, cruzando o rio mais ou menos no mesmo ponto em que hoje está a ponte (alguns metros ao norte desta).
Até chegarem os cavalos a estas paragens demorou algum tempo. No século XIX já os usavam, assim como as mulas e também os lentíssimos carros de boi. Mas continuava-se a andar a pé, e muito. Basta ler alguns livros da Delegacia de Polícia do município de Parnaíba e ouvir as histórias contadas por velhos moradores da cidade de fatos do século XX. Nos anos 1940, as pessoas iam e voltavam a pé de festas de reveillon, por exemplo. Aí surgiam os bêbados que feriam ou matavam outros que também vinham das festas e tinham mexido com suas mulheres. Outro exemplo? A fábrica de cal da Matarazzo no Vau Novo, a dezesseis quilômetros da sede (centro velho de Santana de Parnaíba, como é hoje chamado), tinha muitos empregados. Boa parte morava por perto. Outros, no Polvilho, de onde por um tempo já havia ônibus que vinham de Perus entrando no município pela atual Estrada Tenente Marques. Mas também havia gente que morava no centro e ia para a fábrica a pé. Não havia ônibus, a estrada era horrível. Imagine quanto se perdia diariamente para ir e voltar. E quando chovia, como seria andar molhado e no barreiro que se formava?
Havia, também, o cavalo. Andava-se muito a cavalo. Pelo menos nos séculos 19 e 20 aqui em Parnaíba (e certamente não somente aqui, mas mesmo em São Paulo e no interior). Relataram-me inúmeras trilhas de cavalos pelo “sertão” de Parnaíba (até hoje mais de 50% do município é área rural) que desapareceram com a falta de uso de hoje. No Cururuquara, por exemplo, bairro que hoje fica na Castelo Branco, vinha-se ou a pé ou a cavalo para a cidade ou para se tomar o trem da Sorocabana em Amador Bueno, onde existia um local para se amarrar os animais.
E vale lembrar que as últimas pesquisas de origem-destino feitas na Grande São Paulo ainda mostraram uma quantidade bem maior do que se imaginava de gente que anda a pé para o trabalho para economizar o dinheiro do ônibus. Mesmo assim, com a correria de hoje em dia, andar a pé não é um problema de esforço, mas sim de não ter o tempo para fazê-lo. Entretanto, do jeito que anda o transito de veículos motorizados por aqui, parece que não vamos nos esquecer de como se anda a pé. A velocidade média de um veículo em certos pontos da Grande São Paulo já está caindo abaixo de 10 quilômetros por hora.
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