domingo, 3 de janeiro de 2010

RIOS E FERROVIAS

Ponte sobre o rio Paraguassu, da antiga Central da Bahia, construída em 1875 e aqui vista do lado alto de São Felix, vendo-se também a cidade de Cachoeira, na Bahia. Foto do autor deste site em 21/5/2006.

No “gancho” da postagem de ontem (A História de São Paulo contada por seus rios e córregos), poder-se-ia escrever outro livro, “A História das Ferrovias contadas pelos rios e córregos”, tantas foram as influências dos cursos d’água na construção e denominação das estradas de ferro.

Rios foram os responsáveis pela construção de magníficas obras de arte em pedra, madeira, ferro e concreto, as pontes e pontilhões que sobrevivem em grande parte ao abandono e às intempéries mesmo com nenhuma manutenção. Em alguns casos a via férrea já desapareceu há muito. Não confundam ponte com viaduto, nome usado quando o obstáculo a transpor não é um rio, é uma estrada ou rua, por exemplo.

Algumas ferrovias foram denominadas a partir de rios. A Mogiana, por exemplo, tinha como objetivo atingir e cruzar o rio Mogi-Guaçu e dele tomou o nome (não foi nem das cidades de Mogi-Mirim nem de Mogi-Guaçu). A velha, mas não esquecida Douradense, que tem este nome como popular, tinha como seu nome correto Companhia Estrada de Ferro do Dourado, sendo que a contração “do” surgiu do fato de ter sido o nome uma abreviação de “Estrada de Ferro do Vale do rio Dourado”. Se fosse “de Dourado”, o motivo teria sido a cidade de Dourado, que já existia então.

Devem existir outras, mas não são tantas. Às vezes são ramais. No Paraná, o já extinto ramal de Barra Bonita e do Rio do Peixe (era este o nome oficial), que teve a sua construção iniciada na primeira metade dos anos 1910, devia seu nome ao rio do Peixe, rio não tão grande que existia (existe) na região carbonífera as cidades próximas a Tomasina, na época o único povoado existente em seu trajeto.

Lembremo-nos das inúmeras estações ferroviárias que tiveram seus nomes originais dadas devido a rios próximos. Claro que em alguns casos isto se confunde com os nomes de povoados ou fazendas já existentes que tinham o nome do rio que cruzavam. A estação de Itabapoana, que hoje se chama Ponte de Itabapoana, na divisa do Espírito Santo com o Rio de Janeiro, tem este nome por causa do rio que é cruzado nessa divisa, sendo que a estação fica ao lado da linha, da estrada de rodagem e do rio, já no lado capixaba.

A ferrovia acompanhava o rio Itapemirim em Cachoeiro do Itapemirim , o rio Mogi-Guaçu em Mogi-Guaçu e outras. O rio Paraguassu cruza a antiga VFFLB tendo uma ponte de 135 anos sobre ele, mas não tem nenhuma estação por ali com seu nome. Há duas estações junto ao rio, uma de cada lado da ponte, com os nomes de São Félix e de Cachoeira. A antiga E. F. São Paulo-Rio Grande acompanhava o rio do Peixe desde sua nascente até a foz em Santa Catarina. Ainda acompanha, mas trens ali são raríssimas numa linha cheia de mato e mal cuidada.

O rio provavelmente mais acompanhado por ferrovias e cruzado por elas no Brasil é o Paraíba do Sul. Não, não fiz os cálculos para saber se isso é rigorosamente verdade, mas há diversas pontes da Central que o cruzam para lá e para cá desde Guararema até a cidade de Paraíba do Sul. Depois, há diversos trechos da antiga Leopoldina, a maioria extintos e arrancados, que seguiam e cruzavam o rio, desde Além Paraíba até São João da Barra, foz do caudal no Atlântico.

Muitas das obras de arte estão expostas pelo Brasil afora, umas escondidas pelo mato, como a ponte de ferro do Entroncamento sobre o rio Pardo em Ribeirão Preto, outras foram retiradas por sucateiros ou estão caídas nos rios por este ou aquele motivo, como a ponte de Guatapará, da Paulista. Outras ainda servem ao tráfego ferroviário, como a Dom Pedro II, no rio Paraguassu, citada acima. E outras não, mas estão ali, como a ponte que ligava Pirapora a Buritizeiro, sobre o rio São Francisco, em Minas, ainda com trilhos mas sem tráfego há muitíssimos anos.

E não nos esqueçamos das lindas pontes de pedra da variante da Serra de São João, construídas de forma quase artesanal nos anos 1940, entre Porto União e Mattos Costa, no alto da serra, na linha da São Paulo-Rio Grande em Santa Catarina. E da ponte mais carismática do Brasil, a de Marcelino Ramos, sobre o rio Uruguai, na divisa gaúcha e catarinense.

2 comentários:

  1. Essa ponte sob o Rio Paraguassu é uma obra de arte da engenharia ferroviária. Liga as cidades de Cachoeira e São Félix, duas cidades que conheço bem pois meus pais nasceram em Cachoeira e tenho familiares paternos que moram em SÃo Félix.

    E sem falar da beleza que é a Estação dessas duas cidades. Interessando tenho fotos desta ponte.

    Abraço e tudo de bom!

    ResponderExcluir
  2. Obrigado, Doria. Tenho muitas fotos dela, minhas e de terceiros. Coloquei essa porque é uma das raras que eu já vi de alguém (no caso eu) tê-la fotografado de cima. Abração

    ResponderExcluir