segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O RIO DE JANEIRO DE 1927

Meu avô Sud trabalhou no censo escolar do Rio de Janeiro durante quase todo o primeiro semestre de 1927. Abaixo, na carta enviada a Maria Mennucci, sua esposa, que ficou em São Paulo, algumas impressões sobre a cidade. Infelizmente a carta não tem data, mas deve ser do princípio de sua estada.

Fui domingo visitar o Horto Florestal, cujo diretor é o Francisco Iglesias, um conterrâneo e velho amigo. Fiquei lá toda a tarde. Almoçamos e jantamos na casa de meu amigo e só à noite é que viemos dar uma volta pela cidade.

O Horto Florestal é um sítio maravilhoso. Aliás, em matéria de maravilhas o Rio não tem competidor em parte alguma do mundo. Isto aqui é um assombro de paisagem, que nos deixa boquiabertos e encantados a cada instante. Dizem as crônicas que o Horto era a estação de verão de D. Leopoldina, a infeliz rainha brasileira. Como gostava de história natural, nenhum lugar lhe prestaria mais a esse estudo do que nesse anfiteatro natural que se formou num recôncavo da serra.

Ontem, continuando minha inspeção censitária, dei a volta de Santa Teresa, num caminho que fica mais ou menos paralelo à estrada de ferro que leva ao Corcovado. Eu já perdi o hábito das exclamações ruidosas de prazer e de admiração, mas tenho aqui de abandonar o meu ar de sobriedade e fazer côo todos os outros.

Hoje vou dar a volta da Tijuca (a volta pequena, porque a grande, que vai terminar em Jacarepaguá eu já fiz).

Com todas essas belezas, o Rio é a certos aspectos uma cidade intragável. Tem zonas imundas e sujas. Perto da cidade, na Ponta do Caju, tem duas praias infectas. E uma delas se chama por cúmulo de ironia a Praia do Retiro Saudoso. Os subúrbios do Rio estão abandonados há anos. Não têm melhoramento algum, nem sequer o simples calçamento. Seguramente há uns três bons quatriênios que nada se faz por aqueles lados, onde mora a verdadeira população operosa da cidade. Mas os prefeitos só cuidavam do lado onde residem os vagabundos, que, por isso que não têm que fazer, sobra tempo que farte para fazer reclamações.

Ainda continuo a pensar, a propósito de nossa mudança para cá, aquilo mesmo que te disse na última carta. Ou eles me pagam o mínimo de três contos de réis ou eu não fico. O que é bonito deve ser para todos. Trabalhar enquanto os outros gozam,,, ah não. Trabalhar por trabalhar fico em São Paulo onde ninguém estranha que a gente se mate.

Por hoje chega. Abraços ao pessoal e abraços do teu Sud
.”

Meus avós jamais se mudaram para o Rio. Ficaram em São Paulo por toda a vida.

2 comentários:

  1. Andei lendo sobre o trágico fim dó Palácio Monroe (foto), alguns sites que afirmam que o metrô do Rio até fez uma curva para salvá-lo, porém o presidente Geisel e o grupo do jornal O Globo clamaram pela sua destruição. Vale a pena Ler:

    http://diariodorio.com/a-histria-do-palcio-monroe-e-de-sua-destruio/

    Abraços

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  2. Um crime, assim como muitas outras histórias de demolições. Parece-se muito com a pressão feita para demolir (e conseguir) a estação de Ribeirão Preto em 1967. Jornais, um advogado historiador da cidade, Prefeitura... Mas há um caso que não deu certo: o Caetano de Campos, em SP. Esse ficou em pé, apesar da enorme pressão para sua demolição durante a construção do metrô.

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