Tenho em meus arquivos muitas revistas antigas. A maioria foi comprada em sebos pelo fato de ter algum artigo que me interessava. Outras estavam no acervo de meu avô e ficaram para o meu.
Todas são interessantes pelo fato de retratarem fatos da época, na própria época. Há as revistas que falavam do Brasil todo e há as regionais, como a retratada em cima (Sala de Espera, de Piracicaba, número 5, de setembro de 1922).
Essas revistas regionais são na maioria das vezes verdadeiros tesouros. Há lá informações locais que dificilmente se poderia ter de outras fontes. Embora Piracicaba nesse tempo fosse uma das dez maiores cidades do Estado (hoje, não é pequena, mas foi para baixo na lista...), era, como ainda é hoje, muito menor do que a Capital e não merecia tanta atenção.
Por que meu avô guardou essa revista (e a de número três, também) eu posso até imaginar. Nessa existe um artigo dele sobre a inauguração do ramal de Piracicaba da Companhia Paulista e também uma reportagem com fotos do dia dessa inauguração. Maravilhoso. A qualidade da fotografia não é das melhores, mas a sua raridade acaba por anular essa, digamos, desvantagem.
O artigo que ele escreveu acabou oitenta anos depois sendo um achado para mim. Escrevi um texto para a Revista Ferroviária cerca de seis anos atrás e o editor, no final, pediu-me que achasse um texto que descrevesse uma inauguração de ferrovia no passado. Eu tinha alguns. Mostrei a ele, ao que ele respondeu: queria um não que retratasse a presença das autoridades, a banda que tocou e o coquetel que foi servido (como é a grande maioria deles), mas sim um em que o escritor escrevesse a sua visão do que poderia essa abertura representar para a nova linha e para a cidade.
Foi aí que me lembrei – demorou um pouco – desse artigo. Meu avô fazia exatamente isso, com mapa e tudo. Tanto que transcrevi o artigo e mandei ao editor, mas ele preferiu publicar o artigo como ele era – ou seja, escaneou-o. Era muito melhor, realmente.
Enfim, as revistas regionais tinham um valor grande, assim como os pequenos jornais dessas cidades. Muito desse material se perdeu pelos anos. Mas o que sobrou, comigo ou em outros acervos, é realmente uma fonte de conhecimento de diferentes épocas.
O que vejo hoje é preocupante: a Internet substitui essas revistas, que existem cada vez menos nas cidades do interior. No futuro, onde vão estar armazenadas essas informações? Alguém se preocupará em gravar cada uma delas em memória virtual? Se isso não ocorrer, as informações perder-se-ão da mesma forma, ou até pior, do que os jornais e revistas desaparecidos durante todos esses anos.
Esperamos que nossos arquivistas, os quais existem aos milhares espalhados pelo mundo afora, lembrem-se desses detalhes, para que os pesquisadores de daqui a cinquenta ou cem anos possam achar as informações necessárias para seus trabalhos.
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
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Ralph, este artigo do seu avô está disponível para leitura?
ResponderExcluirAté.
Somente na propria revista ou na esdição especial da Revista Ferroviaria de 2003...
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